Sessenta e quatro operários, aliciados no interior do Maranhão e levados para trabalhar em condições de escravidão em Pereira Barreto, no interior de São Paulo, ameaçam fazer quebra-quebra, inclusive incendiar o canteiro de obras, se empregadores não pagarem seus salários e os levarem de volta para suas cidades. O clima é de tensão. Na tarde desta segunda-feira, eles hostilizaram e por pouco não viraram o carro de um sindicalista que intermediava uma tentativa de acordo entre as partes.
Os operários, que trabalhavam na construção de 150 casas populares da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), em Pereira Barreto (SP), chegaram dia 9 de maio, mas no dia 18 foram despejados de hotéis por falta de pagamento; um deles, João Lopes da Silva, 58 anos, morreu enquanto passava a noite na rua.
Eles não receberam salários e não tiveram as carteiras assinadas. O Ministério Público do Trabalho (MPT) diz que vai processar os empregadores, a prefeitura e a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), do governo estadual paulista, por trabalho escravo.
Silva morreu na madrugada de terça-feira e no dia seguinte a Landa Engenharia - empresa que venceu a concorrência da CDHU para a construção das casas e responsável pela contratação dos trabalhadores -, assinou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho (MPT) se comprometendo a pagar os direitos trabalhistas e o transporte dos trabalhadores para suas cidades de origem até sexta-feira, assim como a alimentação e hospedagem dos operários enquanto eles permanecerem em Pereira Barreto. O acordo não foi cumprido, o que revoltou os operários.
“O pessoal aqui está muito nervoso, temos mulheres e filhos que estão esperando nosso dinheiro”, disse o operário Diego Inácio, que mora em Porto Franco (MA). "Eles nos prometeram pagar R$ 4 mil de salários, pegaram nossas carteiras e depois nos deixaram aqui, sem nada. Sem carteira, sem trabalho e sem salário", diz. “Depois, prometeram nos pagar e nos mandar de volta até sexta-feira e até agora nada. Não podemos ficar aqui parados, sendo enganados desse jeito", afirmou.
"O pessoal está revoltado e pode acabar tendo confusão. Vão quebrar tudo se forem para o canteiro de obras”, afirmou.
Na tarde desta segunda-feira, um grupo de operários hostilizou um dos sindicalistas que tentava intermediar um acordo entre os trabalhadores e empregadores. “Eles me empurraram e ameaçaram virar meu carro, achando que o sindicato é o culpado por eles não terem recebido os seus direitos. Eles estão tão revoltados e não entendem que o sindicato só quer ajudar. Eu estou saindo da negociação, que será entregue ao Ministério Público do Trabalho”, disse Antônio Carlos Sobrinho, diretor do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção e Mobiliário da Região de Araçatuba.
No final da tarde, a procuradora Guiomar Guimarães, do MPT, disse que tentaria convencer os trabalhadores a esperar até terça-feira para que pudesse entrar com uma ação cautelar tendo o sindicato como assistente. “Trata-se de um procedimento para garantirmos os direitos deles e para postularmos uma ação principal”, disse. Guiomar pretendia ainda nesta segunda-feira se reunir com os trabalhadores para tentar acalmá-los. “Vamos tentar esclarecê-los de que a violência não vai levar à nada”, disse.