A presença da Tropa de Choque e da Cavalaria da Polícia Militar (PM) em quantidade visivelmente superior à de manifestantes marcou nesta segunda-feira, em São Paulo, o 11º Ato Contra a Copa.
O protesto teve ainda policiais civis do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) que atuaram na prisão de um manifestante -- o mesmo que havia sido preso e agredido pela PM com balas de borracha e spray de pimenta no protesto realizado perto do metrô Carrão, na zona leste, no último dia 12, na abertura da Copa do Mundo. Além dele, um integrante do coletivo Observadores Legais também foi preso hoje -- segundo a PM, ele portava drogas.
Os manifestantes se reuniram na praça do Ciclista, na avenida Paulista, região central da capital. Por volta das 15h, houve um impasse entre representantes dos manifestantes e da PM, que insistiu em saber o itinerário da manifestação. Rafael Padial, do coletivo Território Livre, afirmou que, pela Constituição, essa informação não era obrigatória.
"Agimos dentro da lei, e a lei permite que nós não deixemos que vocês tomem as ruas (na falta dessa informação)", declarou o tenente-coronel José Eduardo Bexiga, um dos comandantes da operação.
Mais tarde, já perto das 17h, o ato saiu pela Paulista até o outro extremo da via, no bairro do Paraíso. A área chegou a ser bloqueada. Os manifestantes voltaram até o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e seguiram novamente pela avenida até o metrô Consolação. Ali, o administrador de empresas Rafael Marques Lusvarghi, preso no ato do dia 12, foi levado em um carro da Polícia Civil que, descaracterizado, arrancou em velocidade no meio dos manifestantes.
Resposta à inércia
A estratégia da PM nesta segunda foi uma resposta às críticas sofridas pela corporação na última quinta-feira, quando um protesto organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL) terminou com agências bancárias e uma concessionária da Mercedes-Benz depredadas por mascarados. Na ocasião, a PM só apareceu depois dos atos de vandalismo, e ninguém foi preso.
Hoje, o governador Geraldo Alckmin disse que a PM estaria pronta para reprimir qualquer ato de vandalismo. Ao contrário de protestos recentes, no de hoje a corporação preferiu não informar quantos policiais estavam presentes da operação. Mais que o dobro do número de manifestantes -- 200, informou a PM --, contudo, certamente eram visíveis na avenida. Além dos cavalos, micro-ônibus e viaturas, policiais fardados também se valeram de câmeras para filmar manifestantes e jornalistas. "A quantidade de polícia vai de acordo com a necessidade", justificou o tenente-coronel Bexiga.
Estratégia intimida manifestação, diz ativista
Para o coletivo Advogados Ativistas, a operação da PM nada mais é que "uma tentativa de intimidar os manifestantes".
"Este ato mostra bem o intuito do Estado ao posicionar o Choque e a Cavalaria no local de concentração. É a intimidação logo de cara. Os manifestantes acabam nem vindo, porque está na cara que haverá repressão pesada", afirmou o advogado Igor Leone.
PMs sem identificação e o primeiro detido
Por volta das 16h15, integrantes do coletivo Observadores Legais foram abordados por policiais militares na rua Consolação a cerca 50 metros da concentração de manifestantes. Os ativistas teriam sido detidos porque estariam filmando, com celular, PMs sem identificação.
De acordo com um dos ativistas, que não quis se identificar, os policiais pediram para que um deles desligasse a câmera do celular. “Eles me jogaram contra a parede e torceram meu braço. Pegaram o celular, mas estava bloqueado. Consegui recuperar depois. Disseram que eu não tinha autorização para filmar”, afirmou o ativista de 20 anos.
O outro ativista que estava com ele foi detido por suposto porte de entorpecente. A droga não foi exibida pelos policiais quando abordados por jornalistas presentes no local. O jovem, chamado Leandro, foi encaminhado ao 78º Distrito Policial (DP), nos Jardins.
Integrante dos Advogados Ativistas, André Zanardo criticou a conduta da PM de abordar o ativista longe da manifestação e da imprensa. "Essa é uma tentativa de criminalização do movimento social”. Questionado sobre o procedimento, o tenente-coronel Bexiga defendeu os policiais e disse que se tratava de "abordagem normal".
Estação de metrô é fechada; homem atira para o alto
Na Paulista, pouco antes de a segunda pessoa ser detida -- o manifestante que havia sido preso no dia 12 -- pela Polícia Civil, um homem atirou com uma arma de fogo para o alto e assustou os presentes. Segundo o professor Osvaldo de Souza, de 34 anos, foram "dois tiros para o alto. Ele também apontou a arma na nossa direção", relatou.
"Estava vendo o jogo", diz coronel da PM
Sobre o episódio, o tenente-coronel Bexiga eximiu a PM de qualquer responsabilidade e disse que seu comando estava ligado apenas ao "ato que terminou no Masp" cerca de 15 minutos antes. "Procurem a Polícia Civil. Eu não estava (presente)", disse aos jornalistas. Também presente,o comandante do policiamento na região central, coronel Celso Luiz Pinheiro, foi irônico: "Eu nem sabia que tinha protesto aqui na Paulista, cheguei atrasado, estava vendo o jogo (da Seleção Brasileira). Foi fantástico (o jogo)", riu.
O ato acabou pouco após policiais civis entrarem na estação Consolação do metrô supostamente em busca de manifestantes. Nenhum policial falou sobre o assunto. Cerca de 20 minutos depois, a estação foi reaberta.