SP: protesto leva milhares às ruas, mas grupo ataca Palácio dos Bandeirantes

Mais de 65 mil pessoas participaram da manifestação de maneira pacífica; manifestantes tentam invadir sede do governo paulista

18 jun 2013 - 03h28
(atualizado em 24/6/2013 às 13h30)
<p>A multidão que encarou o trajeto Largo da Batata, Ponte Octávio Frias de Oliveira e avenida Paulista permaneceu pacífica e multi-temática</p>
A multidão que encarou o trajeto Largo da Batata, Ponte Octávio Frias de Oliveira e avenida Paulista permaneceu pacífica e multi-temática
Foto: Fernando Borges / Terra

O protesto que reuniu cerca de 65 mil pessoas e se dividiu pelas principais ruas e avenidas na capital paulista nesta segunda-feira - pela revogação do reajuste que elevou a tarifa dos transportes públicos de R$ 3,00 para R$ 3,20 - transcorreu de forma pacífica até a chegada de um grupo ao Palácio dos Bandeirantes. Parte dos manifestantes tentou arrombar um dos portões da sede do governo paulista e foi reprimida pela Polícia Militar, que se utilizou de bombas de efeito moral e gás lacrimogênio para afastar o grupo.

Foi o primeiro ato popular no local desde 1987, quando passou a vigorar uma proibição de manifestações na área. Na ocasião, uma resolução da secretaria de Segurança Pública transformou as vias do entorno do palácio em Área de Segurança. Quatro anos antes, uma marcha de desempregados chegou a derrubar as grades palácio, no governo de  Franco Montoro (PMDB), que havia sido eleito governador do Estado um ano antes.

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Nesta segunda-feira, os manifestantes não tiveram nenhuma dificuldade para chegar ao local. Apenas três equipes de polícia faziam a segurança externa, na esquina das avenidas Padre Lebret e Morumbi. Os policiais se concentraram no estacionamento e nos jardins do palácio, para prevenir qualquer tentativa de invasão. Cerca de 2 mil pessoas se concentraram na avenida Morumbi e um grupo, menor, forçou o portão 2 do palácio, mesmo a contragosto dos demais manifestantes. Em determinado momento, houve até um princípio de briga entre os dois grupos.

Quando o portão foi forçado com um pé de cabra, as primeiras bombas foram lançadas do interior da sede do governo paulista para rua. Com a dispersão dos manifestantes, mais bombas foram atiradas próximas ao portão 1. Os manifestantes chegaram a arrancar lixeiras dos postes e atirá-las contra o interior do Palácio. Pelo menos três ônibus que passavam pelo local foram vandalizados. Um deles teve vidros quebrados e outros os extintores esvaziados. Foi colocado fogo em lixo e uma fogueira foi acesa em frente ao portão 2 da sede do governo paulista.

Os policiais que permaneceram dentro do palácio foram hostilizados por um grupo, que por volta da 1h30 da manhã reunia cerca de 200 pessoas. Com o início da violência, boa parte dos manifestantes deixou o local.

Frentes pacíficas e multi-temáticas

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Se por um lado a manifestação terminou em tumulto em frente ao Palácio dos Bandeirantes, por outro, a multidão que encarou o trajeto Largo da Batata, Ponte Octávio Frias de Oliveira e avenida Paulista permaneceu pacífica e multi-temática.

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Embora os protestos tenham começado, há duas semanas, pela redução das tarifas do transporte público, nesta segunda-feira, a manifestação não tinha um foco único: o “hino” era pelo “preço do busão”, mas as bandeiras pediam desde o fim da corrupção na política, até a paz nas ruas, cotas nas universidades públicas, ingressos mais baratos nos jogos do Corinthians e a libertação da Palestina. Muitos também protestaram contra os gastos públicos para realizar a Copa das Confederações e a Copa do Mundo no Brasil. Outros alvos foram o governador Geraldo Alckmin (PSDB) – havia uma grande bandeira pedindo “Fora Alckmin” liderando a passeata –, mas também o prefeito Fernando Haddad (PT) e a presidente Dilma Rousseff (PT).

De acordo com estimativas dos organizadores, ao menos 65 mil pessoas foram às ruas participar do protesto, organizado principalmente por meio das redes sociais, após a última manifestação promovida pelo Movimento Passe Livre ser duramente reprimida pela Polícia Militar, com mais de 100 feridos e de 200 detidos. Não à toa, um tema parecia atrair a maioria das pessoas que encararam a passeata: a liberdade de expressão e o direito de protestar.

“Não é apenas por R$ 0,20. É pelo meu direito de protestar contra os R$ 0,20”, dizia um dos cartazes, carregado por um jovem. Como nos demais dias, a mutidão era formada, em sua maioria, por estudantes e jovens, mas nesta segunda-feira já havia conquistado a adesão de idosos e famílias inteiras.E, diferentemente das primeiras manifestações, a “ocupação” de São Paulo parecia não incomodar os paulistanos. Enquanto a passeata passava pelas avenidas 9 de Julho, Rebouças e Brigadeiro Luiz Antônio, centenas de moradores desceram de seus apartamentos e foram até as calçadas – muitos de pijamas – aplaudir a multidão. Vários outros estenderam lençois brancos pelas janelas, recebendo aplausos dos manifestantes em retribuição.

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"Surpreendeu. Está super pacífico. Muito bonito, sem nenhuma confusão", elogiou a bancária Denise Volken, 55 anos, que foi assistir à manifestação acompanhada do marido, o engenheiro João Carlos Volken, 66 anos, e da cadelinha do casal, Mel. “Precisa ter sempre isso", concordou o engenheiro.

Críticas à Globo e aos partidos

O protesto também foi bastante marcado por duras críticas à cobertura que a Rede Globo fez das primeiras manifestações. Os repórteres da emissora chegaram a ter de usar microfones descaracterizados para não sofrerem agressões por parte dos manifestantes.

Ainda no Largo da Batata, local onde ocorreu a concentração antes da passeata, a equipe do jornalista Caco Barcellos foi expuls a gritos e não conseguiu ficar no local.

Barcellos continuou a cobrir o protesto e, apesar dos gritos e xingamentos que sofreu durante todo o trajeto – todos endereçados à Rede Globo, não ao profissional especificamente -, ele minimizou a confusão.

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"Faz parte do meu trabalho. O importante é que estou aqui fazendo o meu trabalho. Sei que isso é normal, do contrário eu não estaria aqui", disse Caco Barcellos, ao Terra.

Em frente à emissora, carros da PM desviavam os manifestantes para outro trajeto, mas um grupo chegou a furar o bloqueio e atirar objetos contra a TV, que fica localizada na zona sul de São Paulo.

Militantes de partidos políticos de esquerda que participavam da manifestação também foram expulsos logo no início da passeata. Aos gritos – e com bandeiras – , os manifestantes pediam um protesto “sem partidos”. “O povo unido não precisa de partido”, gritavam os manifestantes.

"Lutei 21 anos contra a ditadura militar e ainda não temos uma democracia no Brasil. Democracia é quem quiser carregar uma bandeira de partido poder carregá-la. Mas entendo a reação. É um grande repúdio aos grandes partidos da ordem", disse o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), ao presenciar a cena.

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Ausência da PM

Outro diferencial desta manifestação foi a quase ausência da Polícia Militar na rua. Após as duras críticas à reação da PM no último protesto, neste, apenas um pequeno grupo de policiais acompanhava um dos organizadores para saber do trajeto, enquanto os demais oficiais acompanhavam na “retaguarda”, nas ruas paralelas, à manifestação.

“Olha que coincidência. Sem a PM não tem violência”, gritavam os manifestantes.

Colaboraram com esta notícia os internautas Lucas Vinicius Silva, de Guarulhos (SP), M.Sampaio, de Taboão da Serra (SP), Ingrid Pessoa de Barros, Ana Claudia Almeida, Larissa Honório, Mardem Reifison, Régis Schwert, Diogo Pacífico, Tico Alzani, Leo Rapini, Carlos Henrique dos Santos, André Freitas, Lucas Alves, Aline Santana e Thaís Nozue, de São Paulo (SP), que participaram do vc repórter, canal de jornalismo participativo do Terra. Se você também quiser mandar fotos, textos ou vídeos, clique aqui.

Fonte: Terra
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