As empresas de transporte coletivo rodoviário que aderiram à paralisação de ao menos duas horas na manhã desta quarta-feira, em São Paulo, serão alvo de um boletim de ocorrência e também de multa contratual por parte da São Paulo Transportes (SPTrans), empresa pública que gerencia as oito concessões de ônibus da capital paulista.
A informação é do gerente de operações da SPTrans, Almir Chiarato Dias, segundo o qual todos os 29 terminais de ônibus administrados pela empresa fecharam hoje a partir das 10h.
O protesto de motoristas e cobradores cobra melhores condições de segurança para a categoria e para usuários. O estopim foi um incêndio a ônibus, semana passada, durante o qual o motorista do coletivo não resistiu e morreu.
Para Dias, “as reivindicações são justas, mas a forma de agir, não”.
“Dentro dos terminais, os carros estão parados; fora deles, não. Mesmo assim, sabemos pelo GPS dos carros quais e quantos não saíram”, disse. “A reivindicação da categoria é justa, mas a cidade não pode parar, ela não precisava desse transtorno todo. Esticamos os itinerários das linhas até estações de trem e metrô, mas Paese, por exemplo, é impossível de aplicar: temos carros, mas não temos quem os dirija”, afirmou.
Presente ao terminal Dom Pedro, na região central da cidade, Dias explicou que o boletim de ocorrência “é uma exigência até do Ministério Público”. “Caso contrário, estaríamos prevaricando”, justificou o gerente, que apresentou aos jornalistas números de ataques a ônibus este ano e ano passado: 65 incêndios ano passado, e 119 de 1º de janeiro até hoje. Por outro lado, 2013 teve registradas 1242 depredações – sobretudo em função das manifestações de junho e julho --, contra 797 este ano.
Indagado se, ante o aumento dos ataques incendiários, a SPTrans considera adequado o trabalho da Secretaria de Segurança Pública para elucidação e prevenção desses crimes, o gerente da SPTRans, eximiu-se: “Nossa empresa é gestora. Não temos capacidade técnica para falar sobre segurança, isso não é problema nosso. Mas o usuário também não tem culpa”, resumiu.
Que cobrem os políticos, pede usuário
Usuário do transporte, o estudante Alexandre Gomes Nandes, 19 anos, reclamou da forma como a paralisação foi feita. “Os trabalhadores têm mesmo que protestar, mas é no Palácio dos Bandeirantes (sede do governo paulista), na prefeitura, na Câmara, na Assembleia. Eu sou usuário, não sou político –e o político é quem deve ser cobrado”, declarou.
Saio se
Motorista de ônibus há 30 anos, Vladimir Alves de Moraes, 58 anos, desabafou: “Já perdi dez amigos nesses anos todos em função da violência. Já tive um princípio de derrame graças a uma coronhada na cabeça – em um dos mais de 60 assaltos que sofri em trabalho. A sensação sempre é a de sair de casa sem saber se volta – até porque, hoje por qualquer razão as pessoas incendeiam os ônibus. Nossa segurança é zero, mas é um transporte coletivo, não apenas de motorista e cobrador: o governo não percebe que todo mundo fica exposto à violência?”, indagou.