A Polícia Civil prendeu nesta segunda-feira, 9, o segundo suspeito de participar da execução de Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, delator do Primeiro Comando da Capital (PCC), assassinado com tiros de fuzil no Aeroporto de Guarulhos, Grande São Paulo, no último dia 8.
De acordo com a polícia, Matheus Mota foi encontrado em um apartamento na Praia Grande, no litoral paulista, por policiais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). Ele é acusado de emprestar os dois carros usados na fuga. Um para o "olheiro" Kaue do Amaral e o outro, um Gol preto, para os atiradores que executaram Gritzbach. A suspeita é de que Amaral seja integrante do PCC. A reportagem não localizou a defesa dos acusados.
A Secretaria da Segurança Pública oferece recompensa de R$ 50 mil para quem tiver informações sobre o paradeiro de mais suspeitos.
Assim como já fizera na sexta-feira, 6, quando um dos suspeitos de envolvimento com o assassinato de Gritzbach foi detido, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) destacou a prisão em suas redes sociais após ter enfrentado uma crise na segurança pública. O motivo foi uma sequência de casos de violência policial, em que PMs mataram um estudante de Medicina e um suspeito de roubo atingido pelas costas em um mercado. Em outra ocorrência, um agente atirou um homem do alto de uma ponte.
Policiais do DEIC acabam de prender Matheus Augusto de Castro Mota, que teve mandado de prisão temporária expedido após trabalho de inteligência da força-tarefa que investiga o assassinato de Vinícius Gritzbach. Suspeito de facilitar a fuga dos atiradores, Matheus foi encontrado…
— Tarcísio Gomes de Freitas (@tarcisiogdf) December 10, 2024
O crime
A principal suspeita da polícia é de que o PCC esteja por trás do crime em razão da morte do traficante Anselmo Bechelli Santa Fausta, o Cara Preta, em 2021, da qual o delator era acusado de ser o mandante. Gritzbach havia firmado acordo de delação premiada com a promessa de entregar esquemas de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) e também falou sobre casos de corrupção policial.
A delação de Gritzbach teria indicado que havia policiais que manipulavam inquéritos para livrar integrantes do PCC da acusação de crimes, mediante pagamento de propinas. Entre os bandidos, dizia-se que havia um prêmio de R$ 3 milhões pela cabeça do delator.
Conforme as informações preliminares do caso, Gritzbach havia acabado de chegar de viagem com a namorada no dia 8 de novembro e seria recebido no aeroporto pelo filho e um grupo de quatro seguranças, composto por PMs que faziam a proteção do empresário. No caminho para o aeroporto, porém, um dos carros usados por eles teria supostamente apresentado falha mecânica. Três dos seguranças, então, teriam ficado com o veículo. Assim, somente um estava no aeroporto na hora do atentado.
As imagens das câmeras de segurança do Aeroporto Internacional de Guarulhos mostram Gritzbach levando uma mala de rodinhas quando é surpreendido pelos atiradores no setor de desembarque. Ele tenta fugir, é atingido pelos disparos e cai perto da faixa de pedestres. É possível ver outras pessoas correndo por causa do tiroteio.
O ataque ocorreu por volta das 16 horas. O motorista de aplicativo Celso Araújo Sampaio de Novais, que estava no local, levou um tiro nas costas e acabou morrendo no dia seguinte.
Uma das linhas de investigação, que ainda está em fase preliminar, busca entender se os agentes não teriam deixado o policial exposto no aeroporto intencionalmente. Os celulares desses quatro integrantes da escolta e da namorada de Gritzbach foram apreendidos pelo DHPP, de acordo com informações da SSP.
Os policiais militares que pertenciam à equipe de segurança da vítima já prestaram depoimento para a Polícia Civil e também na Corregedoria da PM. Eles foram afastados de suas atividades operacionais durante as investigações e ficarão em expediente administrativo a pedido da Corregedoria. A namorada da vítima também foi ouvida pelos investigadores. As corregedorias das Polícias Civil e Militar apuram a atuação dos agentes.
Jóias foram apreendidas pela polícia após a morte do delator do PCC. Elas tinham certificado de joalherias como Bulgari, Cristovam Joalheria, Vivara e Cartier e estão avaliadas em R$ 1 milhão. Eram anéis, pulseiras, colares e pingentes com pedras em formato de coração.
Gritzbach estava no centro de uma das maiores investigações feitas até hoje sobre a lavagem de dinheiro do PCC em São Paulo, envolvendo os negócios da facção paulista na região do Tatuapé. Sua trajetória está associada à chegada do dinheiro do tráfico internacional de drogas à facção.
O empresário fechou acordo de delação premiada, homologado pela Justiça em abril. As negociações com o Ministério Público Estadual duravam dois anos e ele já havia prestado seis depoimentos. Na delação, falou sobre o envolvimento do PCC, a maior organização criminosa do País, com o futebol e o mercado imobiliário.
Gritzbach já havia sido alvo de um atentado na véspera do Natal de 2023, quando um tiro de fuzil foi disparado contra a janela do apartamento onde morava, no Tatuapé, na zona leste paulistana, mas o autor errou o alvo.