'Tinha 13 furos no corpo do meu filho. Foi execução', diz pai de jovem morto por PM em SP

Gabriel Renan da Silva Soares, de 26 anos, foi alvejado após tentar furtar caixas de sabão em um mercado; policial afirmou no boletim de ocorrência que agiu em legítima defesa

2 dez 2024 - 18h33
(atualizado às 21h56)

O que antes era um mês de comemorações se tornou um período de terror para a família do jovem morto no último dia 3 por um policial militar de folga após tentar furtar caixas de sabão em um mercado no bairro Jardim Prudência, na zona sul de São Paulo. Gabriel Renan da Silva Soares, de 26 anos, estava a poucos dias de completar 27 anos - ele faria aniversário no último dia 7.

"Meu aniversário foi dia 18, a gente comemorava no mesmo mês. Agora não sei nem se vai ter Natal, está muito difícil", disse ao Estadão o pai da vítima, o motorista Antônio Carlos Moreira Soares, 54 anos. "Foi execução, não tem outro nome para isso. Tinha 13 furos no corpo do meu filho."

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Apesar de o caso ter completado um mês, só agora vieram à tona imagens de câmeras de segurança que ajudam a entender o que ocorreu naquela noite. As gravações foram divulgadas inicialmente pelo portal g1 e, posteriormente, obtidas pelo Estadão. No boletim de ocorrência, o policial militar Vinicius de Lima Britto afirma que agiu em legítima defesa, versão que é contestada pela família.

"Ele (Gabriel) infelizmente era um dependente químico, e deu para ver pelas imagens que ele tinha furtado alguns produtos, não estou falando para ninguém ignorar isso. Mas, que o policial o pegasse e o levasse preso, que cumprisse a lei", disse Soares. "Nada vai trazer meu filho de volta, mas nós queremos que ele (policial) seja julgado pelo que fez."

Segundo ele, a família só teve acesso aos vídeos da ocorrência nesta semana. As imagens de câmeras de segurança mostram que Gabriel entra no mercado por volta de 22h45 de blusa vermelha e pega ao menos quatro pacotes de sabão. Ele, então, se dirige para a porta, mas, ao tentar sair correndo com a mercadoria, escorrega em um pedaço de papelão.

Enquanto estava pagando uma compra no caixa, Vinicius percebe a movimentação estranha e saca uma arma de fogo da cintura logo após Gabriel cair no chão. O policial militar efetua vários disparos quando a vítima já está na área do estacionamento do mercado. Um motociclista de jaqueta preta se apressa para correr para longe dos disparos.

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Conforme o boletim de ocorrência, o policial militar afirmou que Gabriel teria colocado a mão dentro da blusa, "como se estivesse armado", e chegou a dizer explicitamente que estava com uma arma de fogo. O agente afirma que isso o teria obrigado a efetuar os disparos. Segundo informações preliminares, foram ao menos 11 tiros em poucos segundos.

Soares conta que a família só ficou sabendo da morte de Gabriel na manhã seguinte ao ocorrido, uma segunda-feira. Ao ver que o filho não tinha dormido em casa, os pais, que moram no mesmo bairro onde fica o mercado, o Jardim Prudência, saíram atrás de notícias sobre o paradeiro do filho. Descobriram, então, que um jovem havia sido baleado na noite anterior.

Ao chegar na porta do mercado, Soares diz que conversou com um atendente. "Perguntei para ele se sabia o que tinha acontecido na noite anterior e ele me disse: 'um policial matou um 'nóia' por aqui', falando até de forma meio fria. Quando ele me mostrou a foto, vi que era o Gabriel", disse. "Foi um baque, não é comum um pai ter de enterrar um filho."

Ele relembra do filho com carinho. "A gente é de uma família de corintianos, mas, quando o Neymar jogava no Santos, ele passou a ser santista. Aí, quando o Neymar foi embora para o Barcelona, eu falei: 'e agora?'. Então ele foi voltando aos poucos a torcer para o Corinthians", relembrou. Gabriel foi sepultado no último dia 5 no Cemitério Campo Grande, na Vila São Pedro. "Era um menino muito querido."

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A Secretaria da Segurança Pública afirmou que, além de afastar o policial, familiares da vítima foram ouvidos e diligências estão em andamento "para identificar e qualificar a testemunha que esbarrou na vítima durante sua fuga do estabelecimento comercial, momentos antes de ser alvejado".

De acordo com a pasta, a Polícia Militar acompanha as investigações sobre a morte de Gabriel, prestando apoio à Polícia Civil. "Caso as apurações apontem para a responsabilização criminal do policial militar, medidas administrativas serão adotadas, incluindo a possibilidade de processo disciplinar que poderá resultar na sua exclusão da Instituição", acrescentou a secretaria.

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