Topless: sucesso na mídia, mas tabu para os brasileiros

Pedido de mulheres por mais liberdade nas praias ainda não é bem-visto pela população

21 jan 2015 - 11h10
(atualizado em 30/5/2017 às 14h33)
<p>Essa é a segunda edição do evento que defende a liberdade das mulheres</p>
Essa é a segunda edição do evento que defende a liberdade das mulheres
Foto: J.Humberto / AgNews

O toplessaço que ocorreu nesta terça-feira no Rio de Janeiro virou assunto em diversos jornais pelo mundo. O pedido das mulheres por liberdade ao se mostrar nas praias ainda é visto como tabu para a maioria dos brasileiros. Afinal, por que os mamilos femininos causam polêmica justamente no país acostumado com a nudez anual do Carnaval? Não seria hipocrisia aceitar um seio nu em um desfile de escolas de samba e recriminar uma mulher que decide se bronzear sem a parte de cima do biquíni?

A rede britânica BBC comentou o ToplessinRio – como o ato foi batizado - como “surpreendente”, já que na praia de Copacabana, “famosa por imagens de mulheres com biquínis minúsculos e generosas curvas”, o topless ainda é proibido. Mostrar os seios é considerado um ato obsceno punível com três meses a um ano de prisão ou multa, anotadas em uma lei de 1940. A legislação arcaica, porém, faz com que a maioria dos casos de topless seja ignorado pela polícia, pois seria impensável ver uma mulher presa um crime como esse em pleno século 21.

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Essa é a segunda edição do toplessaço organizado pela produtora e jornalista Ana Paula Nogueira. Em dezembro de 2013, a primeira edição havia recebido a confirmação de oito mil mulheres, mas o resultado foi o fiasco, com a presença maciça da imprensa e uma multidão de homens querendo "ver peitinho" – inibindo qualquer pretensão à naturalidade. Em 2015, o evento ganhou maturidade e promoveu uma visão mais política sobre o ato. Desta vez, foi ressaltada a possibilidade de a mulher mostrar o corpo sem julgamentos prévios, rompendo com a ideia de sexualidade exagerada existente na cultura brasileira e com os padrões de beleza ditadas pela mídia.

Mas, no meio disso tudo, a presença da funkeira Renata Frisson, a Mulher Melão, exibindo os seios para os fotógrafos fez com que o culto ao corpo ou aos peitos bonitos ganhasse mais espaço, aproximando bastante o ato de liberdade ao de exibicionismo. A partir do momento em que a supervalorização dos seios diminuir, seja por homens ou mulheres, a tendência é que o topless seja mais respeitado. A Mulher Melão, claro, tem o mesmo "direito" de exibir o corpo, assim como todas as outras participantes do movimento.

Mulher Melão tira a parte de cima do biquíni sob o olhar dos fotógrafos
Foto: J.Humberto / AgNews

Por enquanto, o próprio evento ainda é capaz de gerar contradições. Nesta edição, houve uma eleição de musa do toplessaço, conceito que  algumas feministas não defendem. "Ter uma musa do topless é um equilíbrio de contradições. É querer juntar duas coisas opostas: ter liberdade com o próprio corpo e ao mesmo tempo ser a mulher mais sexy do planeta", diz a antropóloga Mirian Goldenberg, que é professora do Núcleo de Estudos de Sexualidade e Gênero da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Organizadora do evento, Ana Paula defende a eleição das musas como uma forma de inspirar outras mulheres. Ela enfatiza o fato de ter sido aberto a "qualquer tipo de mulher" e que os quesitos não eram apenas beleza, mas também atitude e "peito" para encarar a vida.

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Também chamado de "ToplessinRio", o evento desta terça-feira contou com a participação de um DJ
Foto: J.Humberto / AgNews

Liberdade em primeiro lugar

O assunto topless começa a virar polêmica quando a análise do corpo da mulher entra em questão. A exibição de seios ainda é tabu, mesmo quando ela acontece no momento da amamentação. 

A hipocrisia mora na proibição de se mostrar o mamilo, mesmo que o biquíni mostre todo o resto dos seios. A mulher não é um objeto sexual, e o fato de ela mostrar o seio (seja na amamentação ou em uma praia na zona sul do Rio, por exemplo) não quer dizer que ela está disponível para o sexo.

O mesmo ocorre com o uso de roupas curtas no verão. Algumas pessoas tendem a achar que a mulher merece ser estuprada pelo tipo de roupa que usa. Mas, no Carnaval, pode!

Para os que acham que as mamas são ofensivas, é preciso uma aula de anatomia:

"As mamas são parte do corpo feminino de um mamífero que é responsável pelo leite para os bebês em seus primeiros meses de vida”

Há algo mais belo do que o provimento de alimento de uma mãe para seu filho? A supervalorização do corpo feminino acabou transformando a mama em algo exclusivamente sensual. Muitas mulheres não se sentirão à vontade em mostrar os seios, outras sim. E é preciso respeitá-las.

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Qual o motivo para proibirmos estas mulheres? Muitos vão dizer que existem crianças por perto e que isso é inapropriado. Ainda temos muito o que aprender com os índios, que não enxergam sexo em tudo que se mexe e acham os seios das mulheres algo extremamente natural e belo. Hora de evoluir!

Neste ano, houve um concurso para eleger a "musa do Toplessaço"
Foto: J.Humberto / AgNews
Fonte: Terra
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