Câmara de Santa Maria antecipa reunião e frustra familiares de vítimas

Reunião da CPI que apura os fatos do incêndio na boate Kiss foi antecipada pelos vereadores por conta do feriado

28 mar 2013 - 19h46
(atualizado às 21h32)
<p>Vereadores anteciparam reunião da CPI que apura o incêndio na Boate Kiss, e frustraram os integrantes da Associação de Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia em Santa Maria</p>
Vereadores anteciparam reunião da CPI que apura o incêndio na Boate Kiss, e frustraram os integrantes da Associação de Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia em Santa Maria
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

Em um dia em que estavam previstos pressão dos familiares das vítimas do incêndio na Boate Kiss e protesto convocado pelas redes sociais, os vereadores de Santa Maria (RS) anteciparam a sessão desta quinta-feira para o final da manhã, e emendaram para logo depois a reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada para averiguar o incêndio, que ocorreu no dia 27 de janeiro. O fato pegou muita gente de surpresa. 

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Como a reunião da CPI tinha sido anunciada para 14h, integrantes da Associação de Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia em Santa Maria chegaram à Câmara pouco antes desse horário. A decepção foi grande quando eles encontraram as portas fechadas, pois todos os servidores e vereadores já tinham ido para casa. 

O presidente da associação, Adherbal Ferreira, se disse decepcionado. Ele tinha preparado um discurso para ser lido durante a reunião da CPI. “Isso causa um estranhamento. Não pode se repetir. Eles anteciparam a sessão da Câmara, e a vida dos nossos filhos foi antecipada pela tragédia”, disse Ferreira. 

Coube ao procurador da Câmara, Robson Zinn, as explicações para os oito pais da associação que estavam indignados. Ele classificou o fato como “uma falha de comunicação”. “Se for necessário, vamos repetir essa reunião da CPI, sem problemas. O que aconteceu é que a Câmara, assim como a prefeitura, teve expediente só pela manhã, por causa do feriadão. Já estava programado”, explicou Zinn. 

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O vereador Daniel Diniz (PT) acompanhou a revolta dos pais e disse que também foi surpreendido pela antecipação da reunião da CPI, que começou por volta de 12h. “Eu estava em uma reunião de outra comissão, quando fui avisado que a reunião da CPI tinha começado. Fui pego de surpresa”, comentou Diniz. 

Por volta das 15h, começaram a chegar outras pessoas na Câmara. Elas também ficaram surpreendidas ao verem as portas fechadas, pois apareceram no local depois que um protesto foi marcado pelas redes sociais para esse horário. A intenção era fazer uma manifestação no plenário, pedindo a saída do prefeito Cezar Schirmer (PMDB). 

Na reunião da CPI, onde não havia mais do que 10 pessoas na plateia, entre elas quatro vereadores  - Daniel Diniz (PT), Admar Pozzobom (PSDB), Manoel Badke (DEM) e Werner Rempel (PPL). O encontro teve ainda a participação de dois representantes do Diretório Central de Estudantes (DCE) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e de três familiares de vítimas. 

Por meio da assessoria de imprensa da Câmara, a presidente da CPI, Maria de Lourdes Castro (PMDB), disse que é urgente que a população se tranquilize quanto ao trabalho que está sendo desenvolvido pelos integrantes da comissão, e afirmou que tudo está sendo feito de maneira apartidária. A vereadora se disse ainda entristecida com acusações infundadas a respeito da atuação da CPI. “Não podemos apontar culpados, mas podemos sim, fazer um trabalho sério e de muita responsabilidade, que contribua para a busca da verdade. O que aconteceu, como aconteceu, conhecer as irregularidades. Este é o nosso papel”, ressaltou a vereadora.

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Associação começará vigília na próxima segunda-feira

A Associação de Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia em Santa Maria seguirá promovendo ações para que a tragédia não caia no esquecimento. A partir da próxima segunda-feira, familiares de cada vítima, um grupo por dia, farão uma vigília na Praça Saldanha Marinho, a principal da cidade, no Centro. 

No dia 10 de abril, a associação vai promover duas apresentações da Banda dos Fuzileiros Navais, da Marinha. Uma será pela manhã, na Praça Saldanha Marinho. A outra ocorrerá à noite, na Praça General Osório, no bairro Passo D’Areia.   

Mais bebidas são retiradas da boate Kiss

Na manhã desta quinta-feira, servidores da Vigilância Sanitária do município estiveram na boate Kiss mais uma vez, acompanhados por policiais civis. Eles retiraram as últimas bebidas que estavam no local, a maioria espumantes e energéticos. Os produtos foram encaminhados para serem descartados em uma fábrica de Santa Maria. Os servidores também recolheram pães que foram achados na cozinha da boate. 

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Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 241 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

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Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas. 

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio. No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A intenção é oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

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Fonte: Especial para Terra
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