Corpo da 242ª vítima da Boate Kiss é enterrado em Santa Maria

Mariane Wallau Vielmo chegou a deixar a UTI do Hospital de Clínicas, mas retornou em decorrência de infecções e pneumonia

20 mai 2013 - 12h13
(atualizado às 12h27)
<p>Corpo de Mariane Wallau Vielmo deixa capela após o término do velório</p>
Corpo de Mariane Wallau Vielmo deixa capela após o término do velório
Foto: Luiz Roese / Terra

Sob uma chuva fina, foi enterrado na manhã desta segunda-feira, em Santa Maria (RS), o corpo da 242ª vítima da tragédia da Boate Kiss. Mariane Wallau Vielmo, 25 anos, morreu por volta das 5h15 de domingo, depois de ficar 112 dias internada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Mariane nasceu em Santiago, na região central do Rio Grande do Sul, cursava Sistemas de Informação no Centro Universitário Franciscano (Unifra) e estagiava no setor de informática do Colégio Sant'Anna, ambos em Santa Maria. Ela também fazia trabalhos como modelo.

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Durante sua internação, a estudante chegou a deixar a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Clínicas, anunciando sua melhora pelo Facebook.  No dia 23 de fevereiro, escreveu: "Boa noite meus amigos! Sei que pode parecer uma mensagem de vereador, mas agradeço a todos vocês pelas forças e mensagens de compreensão no início e no meio dessa história. Eu estou bem, em breve já vou pro quarto! Sigam rezando e enviando mensagens positivas, pois saibam que isso me faz muito bem. Estou conseguindo até tomar Coca já! E semana que vem quero que toque a minha música." Essa mensagem f oi ditada por Mariane e postada pelo irmão dela, Maurício Wallau Vielmo. Mais recentemente, no dia 2 de abril, ela mesmo postou: "Primeiro dia que consigo escrever aqui, estou me recuperando bem."

Mariane teve grande parte do corpo queimado. Há aproximadamente duas semanas, ela voltou para a UTI do hospital, em decorrência de infecções e pneumonia. A causa da morte da jovem foi falência de múltiplos órgãos.

Depois de ser liberado pelo Departamento Médico Legal de Porto Alegre na manhã de domingo, o corpo de Mariane chegou a Santa Maria no início da noite. O velório começou por volta das 22h30, quando já havia dezenas de pessoas na capela 4  do Cemitério Santa Rita.

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O enterro ocorreu pouco depois das 9h desta segunda-feira e teve o acompanhamento de cerca de 180 pessoas. No final do velório, o presidente da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Adherbal Ferreira, falou uma mensagem aos familiares e amigos de Mariane. "Que essa dor se transforme em força motriz para seguirmos vivendo", disse Adherbal, que ainda ressaltou que todos se encontrarão junto ao "Pai maior" e pediu uma salva de palmas para Mariane no final de sua manifestação.

Quatro feridos em razão do incêndio na Kiss permanecem internados em Porto Alegre. Ritchieli Pedroso Lucas - irmã de Driele Pedroso Lucas, que estava internada e morreu - está no Hospital Mãe de Deus. No Hospital de Clínicas, estão Marcos Belinazzo Tomazetti, Renata Pase Ravanello e Cristina Peiter. Tomazetti chegou a ganhar alta no início de abril, mas voltou a ser internado depois de ir ao Clínicas para fazer exames no dia 2 de maio. De acordo com os hospitais, o estado de saúde de todos é estável.

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

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Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

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A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos

Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

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Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

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Fonte: Especial para Terra
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