Emoção marca dia de homenagens às vítimas do incêndio na Boate Kiss

27 jan 2014 - 22h36
(atualizado às 22h41)
Na data que marca um ano da tragédia, um ato na Praça Saldanha Marinho, em Santa Maria, distrubui abraços a familiares das vítimas do incêndio na Boate Kiss, que matou 242 pessoas
Na data que marca um ano da tragédia, um ato na Praça Saldanha Marinho, em Santa Maria, distrubui abraços a familiares das vítimas do incêndio na Boate Kiss, que matou 242 pessoas
Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil

O dia de homenagens às vítimas do incêndio na Boate Kiss terminou na praça Saldanha Marinho, no centro de Santa Maria, nesta segunda-feira. Cerca de 1 mil pessoas participaram de um encontro cultural e um ato ecumênico. As atividades marcaram o encerramento do 1º Congresso Internacional Novos Caminhos, que discutiu, desde o último sábado (25), prevenção e segurança para que episódios como aquele de 27 de janeiro de 2013 não se repitam. A mobilização foi organizada pela Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da tragédia (AVTSM).

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Com camisetas, faixas e balões brancos, familiares e amigos carregaram cartazes com fotografias dos jovens, se abraçaram e fizeram orações. Por todos os lados era possível ver olhares perdidos e lágrimas. Em um dos momentos mais marcantes, quando os nomes dos 242 mortos na tragédia foram lidos e a cada leitura foram tocados tambores, os pais não contiveram a emoção.

Para o presidente da Associação, Adherbal Ferreira, as atividades dos últimos dias mostram que é preciso olhar para a frente. Satisfeito e emocionado, ele concluiu que "o sentimento agora é que a nossa vida continua, transformada, mas continua. Vamos continuar brigando por justiça, porque não há paz sem justiça. Temos que seguir, sabendo que vamos encontrar barreiras e teremos que ultrapassá-las".

A vontade de pedir justiça motivou muitos moradores a ir ao local.  Foi o caso de Márcia Cavalheiro, que perdeu a amiga Érika Sarturi. Para ela, a data sempre será de tristeza, mas este é o momento de exigir punições para que o caso não seja esquecido. "É muita dor, muita lembrança. Por isso temos que exigir justiça em memória deles. Não queremos que ninguém passe pelo que estamos vivendo."

Durante as homenagens, um grupo de jovens oferecia abraços. Com cartazes, os adolescentes abraçavam quem passava pela praça. A estudante Rayssa Spanevello ajudou a organizar a ação. Segundo ela, foi uma forma de confortar e dar apoio. "Viemos trazer energia e fé para o pessoal. É importante, principalmente em um momento como este."

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Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento. 

Indiciamentos

Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissandro - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

Agência Brasil
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