Familiares de vítimas da Kiss prometem ocupar MP caso justiça não seja feita

27 jan 2014 - 04h58
(atualizado às 15h55)
No dia que marca o primeiro ano da tragédia que matou 242 pessoas em Santa Maria, familiares e amigos de vítimas da Boate Kiss saíram da frente do estabelecimento em uma caminhada que passou pela prefeitura e chegou até a sede do Ministério Público. Descontentes com o andamento do processo que tramita, os manifestantes criticaram a atuação do MP, se sentaram no asfalto e bateram em tambores improvisados enquanto gritavam slogans como "justiça!" e "acorda, Santa Maria!"
No dia que marca o primeiro ano da tragédia que matou 242 pessoas em Santa Maria, familiares e amigos de vítimas da Boate Kiss saíram da frente do estabelecimento em uma caminhada que passou pela prefeitura e chegou até a sede do Ministério Público. Descontentes com o andamento do processo que tramita, os manifestantes criticaram a atuação do MP, se sentaram no asfalto e bateram em tambores improvisados enquanto gritavam slogans como "justiça!" e "acorda, Santa Maria!"
Foto: Marcelo Becker / Terra

Durante o ato que lembrou um ano das 242 mortes ocorridas na Boate Kiss, na madrugada desta segunda-feira, familiares indignados com a conduta do Ministério Público ameaçaram ocupar a prefeitura e o Ministério Público, caso não haja justiça. “É muito difícil de falar, mas para o azar de vocês minha prima e outras 241 pessoas morreram ali, e a justiça será feita... o Ministério Público tem que baixar a cabeça, ler o processo e denunciar os culpados. Se não houve justiça, nós vamos ocupar o Ministério Público, a prefeitura... que eles sentem a bunda na cadeira e façam o que tem que ser feito”, disse Marília Torres, integrante do movimento Luto à Luta.

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A maior crítica dos familiares é referente ao arquivamento do processo de improbidade administrativa contra a prefeitura por parte do Ministério Público, que teria ignorado o que foi apontado pela Polícia no primeiro inquérito que apurou o incêndio na Kiss.

“Temos que dar uma voz de prisão moral para esse ministério”, dizia Paulo Carvalho, 63 anos, que perdeu o filho na tragédia. Durante a tarde, ele indagou o subprocurador do Ministério Público para assuntos institucionais, Marcelo Dornelles, sobre os indícios de improbidade que constam no inquérito, ao que o promotor disse desconhecer.

“Da página 73 a 81 no inquérito... o prefeito diz que não tinha conhecimento do ofício (documento encaminhado pelo Ministério Público apontando 29 irregularidades identificadas por um arquiteto na Kiss), mas o Ministério Público mandou esse documento para ele, a polícia encontrou na prefeitura após uma denúncia anônima, a lei diz que improbidade ocorre por ação ou omissão, mas a denuncia sequer foi feita”, reclama. 

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Incêndio na Boate Kiss

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Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

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Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

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Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

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A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento. 

Indiciamentos

Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissandro - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

Fonte: Terra
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