RS: padre que escreveu livro sobre tragédia será ouvido pela polícia

Jornalista e escritora também será chamada para depor por causa de carta a jornal local, onde também relata ter ouvido histórias de pessoas vivas entre os mortos levados em caminhão

21 abr 2013 - 16h40
(atualizado às 16h41)

O padre Lauro Trevisan irá depor às 14h de segunda-feira na 1ª Delegacia de Polícia Civil (1ª DP) de Santa Maria (RS) por causa do polêmico livro Kiss: uma Porta para o Céu. O religioso terá de se explicar especialmente sobre a parte em que diz que pessoas vivas foram transportadas no caminhão que levava os corpos das vítimas da casa noturna para o Centro Desportivo Municipal de Santa Maria.

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A Polícia Civil resolveu chamar o padre para depor depois de ser acionada por um ofício da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), que pedia a investigação sobre trechos da obra que poderiam ter reflexos na esfera criminal. A parte mais polêmica estava na página 5 do livro: “No auge da balada celestial, o Pai perguntou se alguém queria voltar. Dois ou três disseram que sim e foram encontrados vivos no caminhão frigorífico que transportava os corpos ao Ginásio de Esportes”. Essa passagem gerou uma notificação extrajudicial da AVTSM, que pedia a retirada de circulação da obra e explicações de Trevisan. 

A primeira edição do livro se esgotou e, da segunda, que está à venda, foram retirados os trechos contestados pelos familiares das vítimas. Além da passagem que falava sobre as pessoas vivas no caminhão, outro trecho desagradou a associação. Na página 11, o livro dizia o seguinte: “(...) num imenso gesto heroico de solidariedade, a salvar os que agonizavam em meio à fumaça funérea?!” 

Lauro Trevisan tem 33 anos de carreira e 78 livros publicados
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Foto: Divulgação

O delegado Sandro Meinerz, responsável pelas sequência das investigações relacionadas à tragédia, quer saber do padre se ele realmente ouviu a história contada na página 5 da primeira edição do livro e quem teria feito esse relato. O religioso dará seu depoimento acompanhado pelo advogado Dorval Bráulio Marques, ex-desembargador e ex-deputado estadual. Ele é pai do também advogado Jader Marques, que defende Elissandro Spohr, um dos donos da Boate Kiss, no processo criminal da tragédia. 

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Por causa de um relato parecido, feito em uma carta para o jornal A Razão, de Santa Maria, a jornalista Celina Fleig Maier também será chamada para depor à Polícia Civil, segundo o delegado Sandro Meinerz. “A associação também se manifestou por escrito questionando a carta dela. Por isso, também vamos chamá-la para dar explicações”, afirma Meinerz.

Na carta, publicada pelo jornal local na última quarta-feira, a jornalista e escritora, que mora em Santa Maria, sai em defesa do livro de Lauro Trevisan e conta que também ouviu relatos semelhantes: “Conversando com uma enfermeira, ela foi categórica: também ouviu falar em pessoas vivas amontoadas no caminhão, onde corpos eram empilhados. E mais, perguntou-me se havia algum médico no local para atestar as mortes. Havia? O autor do livro, Pe. Lauro Trevisan, ouviu o mesmo relato e o divulgou. Centenas de pessoas ouviram ou passaram o pretenso boato adiante. Por que o Padre Lauro terá que depor? Será que ele terá que recordar quem disse isso a ele? E vamos que revelasse nomes. Essas pessoas terão que depor, tentando (inutilmente, claro) lembrar de quem ouviram tal relato?”. 

Seguem as investigações relacionadas aos pedidos do Ministério Público

Fora as questões relacionadas ao livro de Lauro Trevisan, a Polícia Civil segue fazendo investigações para atender aos pedidos feitos pelo Ministério Público (MP) na denúncia sobre a tragédia. Cerca de 40 pessoas já foram ouvidas. Todas atuaram como prestadores de serviços, funcionários ou seguranças da Boate Kiss. 

Nessa fase, a Polícia Civil quer saber se Angela Aurélia Cellegaro, irmã de Elissandro Spohr, e Marlene Terezinha Callegaro, mãe dos dois, tinham poder de mando e de veto nas decisões relativas à contratação de show pirotécnico, reformas da boate, instalação de espuma para isolamento acústico e lotação da casa noturna. No papel, as duas são as proprietárias da boate. 

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Os depoimentos também serviram para subsidiar a investigação sobre a atuação dos seguranças. O Ministério Público pediu para a Polícia Civil esclarecer a atuação deles no sentido de impedir a saída das pessoas após o início do fogo. 

Ainda nesta semana, a investigação passará a ouvir servidores da prefeitura para saber detalhes sobre a atuação do secretário de Controle e Mobilidade Urbana, Miguel Passini, e do chefe da fiscalização da pasta, Beloyannes Orengo de Pietro Júnior. O MP quer saber se foi pedida a eles pelos bombeiros a suspensão das atividades da boate, após o termino da validade do alvará de prevenção a incêndio.

Fonte: Especial para Terra
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