RS: protesto de familiares de vítimas da tragédia bloqueia BR por 1 hora

Eles se manifestaram contra a liberdade concedida pela Justiça aos réus do processo criminal

5 jun 2013 - 20h03
(atualizado às 20h10)
<p>Ao ocupar todas as pistas, os manifestantes se deitaram no chão, como se representassem os corpos das vítimas da tragédia</p>
Ao ocupar todas as pistas, os manifestantes se deitaram no chão, como se representassem os corpos das vítimas da tragédia
Foto: Luiz Roese / Especial para Terra

Foi em um ato no final da tarde desta quarta-feira o recado mais forte até agora dado por familiares das vítimas da tragédia da Boate Kiss contra a liberdade concedida pela Justiça aos réus do processo criminal. Durante uma hora, eles bloquearam a BR-287, em Santa Maria (RS), e provocaram congestionamentos em todas as rodovias que cortam a cidade.

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A manifestação começou às 17h05, no trecho da BR-287 que faz entroncamento com a rua Duque de Caxias. Escoltados por uma viatura da Polícia Rodoviária Federal e seguindo um carro de som, os familiares bloquearam primeiro a pista dos veículos que andavam no sentido trevo da Uglione-viaduto da rodoviária. Cerca de 150 pessoas participaram do ato.

À medida que os manifestantes caminhavam pela rodovia, palavras de ordem eram gritadas, como “justiça”, “prisão aos réus” e “os pais unidos jamais serão vencidos”.  Aos motoristas, era entregue um panfleto dizendo é preciso sensibilizar o poder público por causa da tragédia.

Duas sobreviventes participaram da caminhada, uma delas com um andador, mas, logo depois, tiveram que ser conduzidas na ambulância da Cruz Vermelha. Durante a manifestação, uma familiar de vítima passou mal e teve que ser levada de ambulância para atendimento.  

Os familiares das vítimas caminharam cerca de 100 metros até a frente da empresa Planalto Transportes, momento em que foi bloqueado o trânsito nos dois sentidos da rodovia. Alguns motoristas buzinavam em sinal de apoio.

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Ao ocupar todas as pistas, os manifestantes se deitaram no chão, como se representassem os corpos das vítimas da tragédia. “Foi assim que encontramos nossos filhos”, disse Ildo Toniolo, pai de Leandra Toniolo, que morreu na tragédia aos 23 anos. Durante a manifestação, também houve momentos de oração.

Antes do final do protesto, os manifestantes ficaram na parte central das duas pistas e permitiram que os veículos passassem pelo acostamento. A manifestação durou uma hora.  

“Temos certeza que a manifestação causou discordância. Peço desculpas pelos transtornos, mas tínhamos que fazer isso para mostrar aos desembargadores (que concederam a liberdade aos réus) que existe comoção”, falou Toniolo ao microfone.

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), o protesto causou 10 quilômetros de congestionamento em cada uma das três rodovias federais que cortam Santa Maria – BRs 158, 392 e 287. Para dar suporte à manifestação, a PRF usou seis viaturas.

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RS: incêndio em boate de Santa Maria deixa mais de 240 mortos

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

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Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

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No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

Indiciamentos

Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

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Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

Fonte: Especial para Terra
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