Sobrevivente da Kiss volta ao hospital por depressão e perda de peso

Outra vítima da tragédia deve ter alta do Hospital De Clínicas de Porto Alegre ainda nesta quarta-feira

12 jun 2013 - 12h05
(atualizado às 12h08)
Tatiele Arrial, 27 anos, foi internada no Hospital de Caridade de Santa Maria
Tatiele Arrial, 27 anos, foi internada no Hospital de Caridade de Santa Maria
Foto: Reprodução

A estudante Tatiele Arrial, 27 anos, que sobreviveu ao incêndio na Boate Kiss em Santa Maria (RS) em 27 de janeiro, voltou a ser internada - ela está no Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo desde a última quinta-feira. Ela precisou ser hospitalizada devido à depressão e à perda de peso. Já Renata Pase Ravanello, 25 anos, outra sobrevivente da tragédia, deve receber alta do Hospital de Clínicas de Porto Alegre nesta quarta-feira.

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Tatiele sofreu um grande trauma: o namorado dela, o estudante de engenharia florestal Marton Matana, 21 anos, morreu no incêndio. Ela está se alimentando por meio de uma sonda, mas passa bem.

Essa é a quarta internação de Tatiele. No dia do incêndio, ela foi internada com problemas respiratórios e ficou seis dias em tratamento. Nos meses seguintes, passou por duas novas internações. Segundo Tatiele, desta vez, a informação dos médicos é que ela terá de ficar pelo menos um mês no Hospital de Caridade.

Devido ao retorno a um leito hospitalar, a estudante não poderá comparecer, nesta quarta-feira, a uma homenagem de 12 jovens aos namorados e namoradas que morreram na Kiss. Ela foi uma das organizadoras da vigília, e planejava uma homenagem a Marton há algumas semanas.

Renata Ravanello deve deixar o Hospital de Clínicas de Porto Alegre ainda hoje. Ela é funcionária da prefeitura de Júlio de Castilhos e estudante de pós-graduação em direito. Ela ficou mais de quatro meses se recuperando de queimaduras.

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Também em Porto Alegre, permanece internada desde o dia do incêndio estudante Ritchieli Pedroso Lucas, 19 anos. A jovem, que cursava ciências biológicas na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), está no Hospital Mãe de Deus e passa bem, mas não há previsão de alta. A irmã da jovem, Drieli Pedroso Lucas, 23 anos, que morreu em março, foi a 241ª vítima da tragédia da Kiss. 

Incêndio na Boate Kiss

Na madrugada do dia 27 de janeiro, um incêndio deixou 242 mortos em Santa Maria (RS). O fogo na Boate Kiss começou por volta das 2h30, quando um integrante da banda que fazia show na festa universitária lançou um artefato pirotécnico, que atingiu a espuma altamente inflamável do teto da boate.

Com apenas uma porta de entrada e saída disponível, os jovens tiveram dificuldade para deixar o local. Muitos foram pisoteados. A maioria dos mortos foi asfixiada pela fumaça tóxica, contendo cianeto, liberada pela queima da espuma.

Os mortos foram velados no Centro Desportivo Municipal, e a prefeitura da cidade decretou luto oficial de 30 dias. A presidente Dilma Rousseff interrompeu uma viagem oficial que fazia ao Chile e foi até a cidade, onde prestou solidariedade aos parentes dos mortos.

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Os feridos graves foram divididos em hospitais de Santa Maria e da região metropolitana de Porto Alegre, para onde foram levados com apoio de helicópteros da FAB (Força Aérea Brasileira). O Ministério da Saúde, com apoio dos governos estadual e municipais, criou uma grande operação de atendimento às vítimas.

Quatro pessoas foram presas temporariamente - dois sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, e Mauro Hoffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Augusto Bonilha Leão e Marcelo de Jesus dos Santos. Enquanto a Polícia Civil investiga documentos e alvarás, a prefeitura e o Corpo de Bombeiros divergem sobre a responsabilidade de fiscalização da casa noturna.

A tragédia fez com que várias cidades do País realizassem varreduras em boates contra falhas de segurança, e vários estabelecimentos foram fechados. Mais de 20 municípios do Rio Grande do Sul cancelaram a programação de Carnaval devido ao incêndio.

No dia 25 de fevereiro, foi criada a Associação dos Pais e Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Boate Kiss em Santa Maria. A associação foi criada com o objetivo de oferecer amparo psicológico a todas as famílias, lutar por ações de fiscalização e mudança de leis, acompanhar o inquérito policial e não deixar a tragédia cair no esquecimento.

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Indiciamentos

Em 22 de março, a Polícia Civil indiciou criminalmente 16 pessoas e responsabilizou outras 12 pelas mortes na Boate Kiss. Entre os responsabilizados no âmbito administrativo, estava o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB). A investigação policial concluiu que o fogo teve início por volta das 3h do dia 27 de janeiro, no canto superior esquerdo do palco (na visão dos frequentadores), por meio de uma faísca de fogo de artifício (chuva de prata) lançada por um integrante da banda Gurizada Fandangueira.

O inquérito também constatou que o extintor de incêndio não funcionou no momento do início do fogo, que a Boate Kiss apresentava uma série das irregularidades quanto aos alvarás, que o local estava superlotado e que a espuma utilizada para isolamento acústico era inadequada e irregular. Além disso, segundo a polícia, as grades de contenção (guarda-corpos) existentes na boate atrapalharam e obstruíram a saída de vítimas, a boate tinha apenas uma porta de entrada e saída e não havia rotas adequadas e sinalizadas para a saída em casos de emergência - as portas apresentavam unidades de passagem em número inferior ao necessário e não havia exaustão de ar adequada, pois as janelas estavam obstruídas.

Já no dia 2 de abril, o Ministério Público denunciou à Justiça oito pessoas - quatro por homicídios dolosos duplamente qualificados e tentativas de homicídio, e outras quatro por fraude e falso testemunho. A Promotoria apontou como responsáveis diretos pelas mortes os dois sócios da casa noturna, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, e dois dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Augusto Bonilha Leão.

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Por fraude processual, foram denunciados o major Gerson da Rosa Pereira, chefe do Estado Maior do 4º Comando Regional dos Bombeiros, e o sargento Renan Severo Berleze, que atuava no 4º CRB. Por falso testemunho, o MP denunciou o empresário Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da Kiss, e o contador Volmir Astor Panzer, da GP Pneus, empresa da família de Elissando - este último não havia sido indiciado pela Polícia Civil.

Os promotores também pediram que novas diligências fossem realizadas para investigar mais profundamente o envolvimento de outras quatro pessoas que haviam sido indiciadas. São elas: Miguel Caetano Passini, secretário municipal de Mobilidade Urbana; Belloyannes Orengo Júnior, chefe da Fiscalização da secretaria de Mobilidade Urbana; Ângela Aurelia Callegaro, irmã de Kiko; e Marlene Teresinha Callegaro, mãe dele - as duas fazem parte da sociedade da casa noturna.

Fonte: Especial para Terra
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