Após três meses do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), o pai Antonio Francisco Silva se disse angustiado com a falta de informações sobre as investigações. Para marcar a data, a Anistia Internacional realizou um ato na porta do prédio do Ministério Publico, no centro do Rio de Janeiro, nesta quarta-feira.
A vereadora, quinta mais votada do Rio em 2016, foi morta a tiros de submetralhadora em seu carro, no Estácio, zona central da cidade. O motorista dela, Anderson Gomes, também foi vitimado pelo ataque. O crime teve motivação política.
"Queremos uma resposta à altura do crime. O silêncio nos deixa muito angustiado. O delegado diz ser necessário. É ineficiência da polícia? Todas as informações que recebemos são através da imprensa", lamentou o pai.
Marielle era defensora dos direitos humanos, com foco principalmente em mulheres e populações faveladas. A polícia investiga a participação de milicianos no caso, mas não vem divulgando os passos do inquérito.
A família de Marielle e representantes da Anistia foram recebidos pelo procurador-geral de Justiça, Eduardo Gussen, que reafirmou o compromisso da instituição na elucidação dos homicídios. "É importante chegarmos aos verdadeiros culpados. É óbvio que uma investigação dessa complexidade leva um tempo significativo. Ela era a maior representante dos direitos humanos hoje em dia. Três, quatro, cinco meses... Não queremos encontrar qualquer culpado", declarou Gussen.
"Estamos confiantes, não estamos sozinhos. Quando agrega uma instituição a mais, nos fortalece. Com Copa (do mundo) ou sem Copa, não vamos deixar o crime ser esquecido. Aquele é sangue meu, vou reivindicar", disse a mãe de Marielle, Marinete Silva. "A gente não pode deixar com que a Copa ou outros fatos façam com que o caso perca força. Foi um crime político, contra a nossa democracia. Não pode ser mais um caso", afirmou a mulher da vereadora, Mônica Benício.
A Anistia cobrou a convocação de uma força-tarefa do MP para o caso e um posicionamento da Secretaria de Estado da Segurança sobre o empenho nas investigações. A secretaria informou nesta quarta-feira que não daria informações à imprensa sobre a apuração.
Uma testemunha (um ex-PM preso por outros crimes) relatou que a execução foi encomendada pelo vereador Marcello Siciliano (PHS). Ele teria envolvimento com milícias da zona oeste. Com suas ações políticas, Marielle teria "atrapalhado" a atuação do grupo em favelas da região. O vereador nega envolvimento.
Jungmann afirma que mobilização para a solução do caso é intensa
Em entrevista na manhã desta quarta à rádio CBN, o ministro extraordinário da Segurança, Raul Jungmann, afirmou que o assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes (em 14 de março) está levando aproximadamente o mesmo tempo para ser solucionado que outros crimes de grande repercussão no Rio, como o desaparecimento do pedreiro Amarildo, na Rocinha, em 2013, e a execução da juíza Patrícia Acioli, em Niterói, em 2014. Amanhã, a morte de Marielle e de Anderson completa três meses sem solução.
"Eu tenho como parâmetro o caso do Amarildo, que levou aproximadamente de 90 a cem dias, se não me falha a memória, e o caso da Patrícia Acioli. (Esses casos) foram desvendados pela mesma equipe que está investigando o caso da Marielle", afirmou.
O ministro afirmou que a mobilização para a solução do caso é intensa. "A Polícia Federal está colaborando intensamente, todas as outras áreas de inteligência (também estão colaborando) para que se possa construir provas e chegar até o executante e também até o mandante desse crime", disse. "É do interesse de todos que seja esclarecido."
Jungmann lembrou, no entanto, que um complicador no caso das mortes de Marielle e Anderson é que a motivação do crime é desconhecida: "O que acontece é que esse é um crime de desvendamento complexo. Pelo menos até onde eu saiba, e eu devo voltar ao Rio esta semana, não se tinha informação do motivo. Qual foi a ameaça? Qual foi o conflito em que Marielle se envolveu para que acontecesse essa tragédia que aconteceu com ela?"