RIO - Laudo sobre o funcionamento dos piezômetros da barragem I da mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho, divulgado pela Vale nesta terça-feira, 12, mostra que a barragem estava sem leituras dos equipamentos para o mês de janeiro. O relatório reproduz uma série de trocas de e-mails, na véspera do acidente, sobre o funcionamento dos sensores usados para medir a pressão da água nas barragens e os apelos do engenheiro geotécnico da Vale Helio Marcio Lopes de Cerqueira para que fosse dada prioridade ao assunto.
"Ainda estamos sem leitura para prosseguir com o monitoramento desta barragem alteada à montante. Priorizar isso! Se não encontrarem a falha me ligar no celular. Precisamos resolver isso rápido", afirma, em mensagem do dia 24, às 13h32.
Às 15h47, o fornecedor da empresa Tecwise informa que precisa analisar o programa de coleta de dados dos sensores e afirma que vai agendar uma visita ao local para sanar o problema. Em resposta, Cerqueira pede que a visita seja feita no dia seguinte, o que acabou não ocorrendo. Por volta de 12h48 do dia 25, a barragem rompeu e matou ao menos 165 pessoas.
"Ainda não temos leituras para o mês de janeiro/19 para as barragens I, Vargem Grande e B3/B4, e só teremos 5 dias úteis até a virada do mês. O risco de multa do DNPM (antigo nome da Agência Nacional de Mineração) é muitíssimo alto", escreve Cerqueira ao fornecedor.
Apesar da troca de mensagens, em entrevista coletiva, o gerente-executivo de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos e Carvão da mineradora, Lúcio Cavalli, afirmou que os problemas com cinco piezômetros não causaram a tragédia.
Segundo Cavalli, o laudo produzido pelo Instituto Brasileiro de Peritos em Comércio Eletrônico e Telemática, atestou que os problemas dos piezômetros foram reparados antes do rompimento da barragem. "Não houve erro de leitura dos piezômetros, mas de configuração de placa. Se as informações (dos piezômetros) estivessem corretas, barragem teria água jorrando", disse.
Na semana passada, a Polícia Federal havia identificado uma troca de e-mail entre funcionários da Vale e da consultoria alemã Tüv Süd. As mensagens indicariam que a empresa de mineração já sabia de problemas com sensores da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), dois dias antes do rompimento.
As informações foram colhidas pela PF durante o depoimento do engenheiro Makoto Namba, coordenador de projetos da empresa Tüv Süd.