Sismólogos, engenheiros, peritos e autoridades do governo de Minas Gerais estão tentando descobrir se os rompimentos das barragens na cidade de Mariana foram causados por um tremor de 2.6 de magnitude. Até agora não há uma conclusão, mas algumas pistas já estão disponíveis.
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Usando dados da Rede Sismológica Brasileira, o da Universidade de São Paulo registrou quatro tremores fora do comum na quinta-feira, entre 14h12 e 15h59, em Minas Gerais.
O mais forte deles (2.6 de magnitude) ocorreu a 5 km da barragem do Fundão – distância considerada pequena, segundo Jackson Calhau, analista do Centro de Sismologia da USP.
De acordo com a entidade, embora tremores de terra dessa intensidade ocorram diariamente no Brasil, eles não são comuns naquela região. Os últimos mais fortes registrados na área foram de 3.3 e 3.4 de magnitude, no ano de 1989.
Por outro lado, tremores semelhantes aos ocorridos na quinta-feira são considerados fracos e em teoria não têm a capacidade de destruir estruturas, segundo o Centro de Sismologia da USP (para efeito comparativo, o terremoto que matou centenas de pessoas no Paquistão e Afeganistão em outubro teve magnitude muito superior, de 7.5).
A entidade afirmou que ainda não é possível saber com certeza se foi o tremor que causou o rompimento das barragens de rejeitos de mineração.
O acidente provocou uma enxurrada de lama que inundou o distrito de Bento Rodrigues e deixou ao menos um morto e centenas de desabrigados.
Possíveis causas
Um tremor de terra é uma das três causas prováveis de acidentes com barragens no Brasil, segundo o engenheiro e professor da PUC–Rio Alberto Sayão, que é conselheiro do Comitê Brasileiro de Barragens e ex-presidente da Associação Brasileira de Mecânica de Solos.
Segundo ele, não é possível chegar a uma conclusão sobre o acidente em Mariana com os dados disponibilizados até agora. Mas em tese um tremor de terra, dependendo de sua intensidade, pode danificar barragens, tanto de rejeitos de mineração como de armazenamento de água.
Entretanto, isso seria mais provável no caso de represas ou barragens com estruturas de concreto. Barragens como a de Bento Rodrigues são construídas a partir de barreiras feitas com a compactação do solo e de materiais achados na região. E essas barragens de terra e pedras compactadas se adaptariam mais facilmente aos tremores por serem mais flexíveis.
Outra causa possível de acidente seria uma falha na construção da barragem, segundo Sayão. Contudo, essa hipótese seria pouco provável, pois a barragem do Fundão teria passado por checagens de segurança em 2015.
O engenheiro disse que uma terceira causa possível seria um entupimento do sistema de drenagem de líquido da barragem. Isso porque, segundo ele, a água presente na lama dos resíduos precisa ser drenada e sair da barragem de forma controlada. Se esse sistema falhar, toda a estrutura pode ser comprometida.
Sinais
Sayão disse que ações de sabotagem como causas do acidente são pouco prováveis. Ele disse, porém, que antes de se romper completamente, uma barragem dá “sinais”. Esses sinais costumam ser trincas, vazamentos, afundamentos e alteração na coloração da lama.
Eles deveriam servir de alerta para que pessoas em áreas de risco sejam retiradas. “Esses acidentes eram mais comuns no passado, mas com a aprovação em 2010 da Lei de Segurança de Barragens a situação melhorou”, disse.
Ele lembrou que houve o rompimento de duas barragens. A que estava em área mais baixa pode ter sido sobrecarregada com a lama da barragem situada em região mais alta.
O especialista afirmou que as autoridades precisam investigar se não havia planos de contingência para uma situação como a ocorrida na última quinta-feira (5).
Sayão disse ainda que um sistema de comunicação deve integrar os órgãos de monitoramento sismológico, autoridades e empresas responsáveis por barragens. Assim, logo após tremores, as barragens podem ser verificadas.
O Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo disse que disponibiliza as informações sobre tremores em tempo real em seu site. As empresas e autoridades podem fazer o monitoramento.
A empresa Samarco, gestora da barragem, afirmou à imprensa que funcionários sentiram o um tremor e fizeram uma inspeção na barragem do Fundão, mas não foram encontrados problemas.
A empresa afirmou que é cedo para especular sobre hipóteses para a causa do rompimento.