A deputada estadual Janira Rocha (Psol-RJ) afirmou, na noite desta segunda-feira, que o Consulado do Uruguai no Rio de Janeiro negou asilo político aos três acusados de atos violentos que fizeram o pedido ao País. Segundo a parlamentar, após terem o pedido negado, os três deixaram o prédio.
Nesta segunda-feira, os ativistas Eloísa Samy, David Paixão e Camila Nascimento pediram asilo político ao Consulado do Uruguai na capital fluminense. “Eu vim aqui pedir asilo político. Isso é uma tremenda arbitrariedade. Eles me receberam e estão fazendo contato com o embaixador em Brasília. Já fiz pedido formal e estou esperando documento para dar entrada efetiva no pedido. Não tenho nenhum tipo de expectativa, estou pedindo socorro mesmo", disse Eloísa, que é advogada, ao Terra.
Eloísa está com a prisão preventiva decretada pela Justiça do Rio desde a última sexta-feira, acusada de atos de violência durante manifestações que ocorreram na capital fluminense no ano passado. David Paixão, que em junho do ano passado era menor de 18 anos e também participava dos atos, e a namorada Camila Nascimento, buscaram asilo com medo de serem presos.
A deputada Janira Rocha acompanhou a permanência dos três no Consulado uruguaio durante o dia de ontem. Já à noite, segundo a assessoria da parlamentar, a consulesa Myriam Fraschini Chalar informou que o pedido havia sido negado pela Embaixada do Uruguai, em Brasília, e que eles deveriam deixar a representação diplomática no Rio sob o risco de serem presos pela Polícia Federal.
Os três deixaram o prédio pela porta da frente e partiram em um carro preto com os vidros escuros, sem falar com os jornalistas que buscavam informações. À tarde, dois policiais civis tentaram entrar na sede do consulado, com o mandado judicial de prisão em nome da advogada Eloísa Samy, mas foram impedidos pela segurança consular.
Eloísa é figura conhecida das manifestações de rua do Rio de Janeiro e no inquérito policial consta que ela teria fornecido sua residência para membros do grupo de ativistas. Ainda na denúncia aceita pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), ela é citada como uma ativista no início das manifestações, mas que depois passou a incitar os atos violentos.
Bastante abatida, Eloísa Samy diz temer pela própria vida. "Assim que soube da (prisão) preventiva, fui para rua e fiquei vagando. Arrumei R$ 300 com uma amiga que não quis que eu ficasse na casa dela por medo”, contou.
Sem ter onde ficar, a ativista colocou um pouco de roupas em uma mochila e decidiu partir para o consulado uruguaio, onde a polícia não pode entrar. Dois policiais civis chegaram a entrar na sala onde Eloísa se encontra, num prédio na zona sul do Rio de Janeiro. Diante da ação, um funcionário do prédio - que não quis se identificar - tentou controlar a situação, falando com os policiais: "vocês não podem entrar aqui".
Ao serem impedidos de ficar no local, após a identificação junto a um funcionário do consulado uruguaio, uma vez que a polícia brasileira não tem poder de atuação em embaixadas e consulados, os dois policiais se retiraram do local. Todo o fato foi presenciado pelo Terra.
Acusações
David Paixão, 18 anos, e Camila Nascimento, 19 anos, foram flagrados em uma escuta, divulgada hoje pelo jornal O Globo, em que falam das ações de manifestantes que jogaram coquetéis molotov contra policiais da Tropa de Choque durante um protesto contra a Copa do Mundo no Rio de Janeiro. Ainda dentro das investigações, os demais, entre eles a ativista Elisa Quadros, a Sininho, são acusados de planejar um incêndio na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
David Paixão era ainda adolescente quando foi adotado por Eloísa Samy e passou a viver com a advogada, que por sua vez também já atuou pelo Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (IDDH), do Rio. Assustado, junto com Camila, sua namorada, ele preferiu não conversar com a reportagem. “Eu nem sei o que te dizer, cara”, explicou.
Na sexta-feira, o juiz Flavio Itabaiana de Oliveira Nicolau decretou a prisão preventiva de 23 pessoas que estão sendo investigadas pela Delegacia de Repressão a Crimes de Informática que ligam as pessoas a atos violentos praticados durante das manifestações que acontecem desde o ano passado na cidade.