Um trecho de um vídeo obtido pelo jornal O Globo mostra o ambulante Matheus Campos da Silva, de 21 anos, desesperado e implorando por socorro após ser atropelado pelo motorista de aplicativo Christopher Rodrigues, de 27 anos. Na ocasião, Christopher usou uma rede social para debochar da morte do jovem: "Menos um fazendo o L", escreveu. Depois disso, o motorista foi banido pelas plataformas Uber e 99.
O crime ocorreu na região central de São Paulo. O motorista afirmou, em vídeos que publicou nas redes sociais, que teria jogado o carro contra Matheus após ver que ele estaria tentando tomar o celular de um outro condutor. No entanto, em entrevista ao O Globo, Paloma Campos, de 28 anos, irmã da vítima, negou que ele fosse ladrão e disse que o jovem trabalhava honestamente como ambulante. A família afirmou que lutará por justiça.
O novo vídeo divulgado pelo jornal foi publicado pelo próprio suspeito em um grupo de motoristas de aplicativo de SP, do qual também fazem parte duas pessoas da família de Matheus. Nas imagens, o jovem atropelado responde a Christopher, que dizia: "E aí, comédia, vai roubar trabalhador, vai roubar, cuzão? Não vai sair daí não até chegar a polícia". Neste momento, Matheus ainda estava vivo e conseguia mexer com os dedos fazendo sinal negativo e repetiu "não" diversas vezes diante das acusações de roubo.
"É mentira [que meu irmão roubou alguém], ele [motorista de aplicativo] é um bandido, tinha que estar preso. Meu irmão implora para ser retirado debaixo do carro e ele não ajudou. Falou que só ia retirar o carro quando a polícia chegasse para o meu irmão não fugir. Debochou da morte dele enquanto meu irmão estava todo machucado, com politraumatismo, lutando pela vida. Por que não está preso? A gente não criou bandido", desabafou Paloma em entrevista ao jornal.
A irmã do jovem afirmou que a família irá reunir imagens e depoimentos para comprovar que Matheus estava agonizando enquanto Christopher fazia piadas e dizia que o ambulante era assaltante.
Paloma também contou que Matheus era o único homem da família e morava com a mãe Gina Campos. Segundo a familiar, o jovem ajudava a família, parou de estudar na 8ª série e trabalhava vendendo balas na rua. Ela afirma que quando souberam do atropelamento acharam que a morte dele tivesse ocorrido enquanto trabalhava como ambulante.
"Ele [Christopher] preferiu matar o meu irmão. A gente nem sabe o que aconteceu, não tem câmeras no local para saber exatamente o que aconteceu. Quando a gente soube, meu irmão estava morto no hospital como indigente, tratado como se fosse um morador de rua e, pior, um bandido. Em vez de investigar homicídio, o delegado falou que foi só acidente. Quer dizer que a vida das pessoas não vale nada? Quer dizer que, quando um morador de rua for atropelado, ninguém vai fazer nada? A pessoa que atropela ainda vai fazer vídeo de deboche, postar nas redes sociais, em grupos do Uber e sei lá onde mais e posar de herói? Que mundo é esse em que as pessoas enaltecem alguém que matou outra pessoa e se vangloria disso?", lamentou Paloma em entrevista ao O Globo.