Witzel entrega menos da metade dos hospitais prometidos

Para completar, a construção das unidades está envolta em uma série de indícios de irregularidades, que rendeu duas operações policiais

28 mai 2020 - 15h31
(atualizado às 15h43)
Em 30 de março, quando o Rio de Janeiro contabilizava 657 casos do novo coronavírus e 18 mortes pela doença - um índice de 2,73% -, o governador Wilson Witzel (PSC) convocou uma coletiva para anunciar que o Estado entregaria oito hospitais de campanha com 1,8 mil leitos em até 30 dias. Passados 59 dias, o Rio de Janeiro chegou a 42,3 mil pessoas com covid-19, com 4,6 mil óbitos - uma taxa de mortalidade de 10,9%. Nesse período, menos da metade dos hospitais foram inaugurados, e eles operam sem suas capacidades máximas.

Para completar, a construção das unidades está envolta em uma série de indícios de irregularidades, que rendeu duas operações policiais. Na última delas, a Polícia Federal bateu na porta do Palácio Laranjeiras, residência oficial do governador, para cumprir mandados de busca e apreensão. Um subsecretário de Saúde foi preso, e o seu chefe imediato, Edmar Santos, acabou exonerado duas vezes.

Governador Wilson Witzel
08/05/2019
REUTERS/Adriano Machado
Governador Wilson Witzel 08/05/2019 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

Das unidades de saúde prometidas, a única certeza é que elas não seguem nenhum cronograma. Nesta quinta, 28, deveria ser inaugurado o Hospital de Campanha de São Gonçalo, o que não aconteceu - foi o terceiro adiamento, desta vez por alegado problema de contaminação no piso. Mas até mesmo obras básicas de infraestrutura estão atrasadas, como intervenções no acesso ao hospital

A principal unidade de campanha estadual é a do Maracanã, inaugurado no início deste mês e com capacidade para 400 leitos. Mas a unidade também tem operação bem aquém do esperado. Nesta quinta, havia apenas 117 pacientes internados. Sobre isso, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que "a ocupação de leitos nos hospitais de campanha e em outras unidades de referência para a covid-19 é feita de forma gradativa, seguindo protocolos para garantir a segurança de profissionais e pacientes".

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A unidade do Maracanã é alvo de muitas reclamações, tanto de familiares de pacientes quanto de profissionais que atuam no local. Já houve denúncias de enfermeiros tendo que descansar em colchões colocados no chão, depósito irregular de materiais e falta de insumos.

Uma médica anestesista pediu demissão do hospital logo após seu primeiro dia de plantão. "Tem muito profissional querendo trabalhar, mas infelizmente não dá pra ter estômago pra ver essa atrocidade. O médico, infelizmente, não faz milagre. Ele precisa ter o mínimo pra trabalhar. Aquilo é um CTI de fachada. Não tem nem o mínimo de um CTI", declarou a profissional em vídeo à TV Globo.

A própria SES admite que a unidade do Maracanã enfrenta problemas. Em nota, a secretaria declarou que "técnicos constataram, na última sexta-feira (22), a necessidade da chegada de diferentes medicamentos ao hospital do Maracanã", e acrescentou que "a OS Iabas informou que o desabastecimento não afetou o atendimento aos pacientes internados".

A Organização Social Iabas é a responsável pela construção, entrega e gestão dos hospitais de campanha do Rio, e também está sendo investigada. O Estadão pediu posicionamento à OS, mas ainda não teve retorno.

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A SES, por sua vez, declarou que "apura todas as denúncias e, quando comprovadas, notifica a Iabas". A secretaria acrescentou que, além de exigir esclarecimentos, "também cobra as adequações necessárias".

Sobre as unidades, a pasta afirmou que "trabalha com o último cronograma apresentado pela Iabas na semana passada" - que já não foi cumprido, considerando o adiamento da inauguração do hospital de São Gonçalo. A previsão, agora, é de que todos os hospitais sejam entregues até o próximo dia 18.

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