Yanomamis denunciam mortes de crianças sugadas por balsa

Dois meninos, de cinco e de sete anos, brincavam no rio que banha a comunidade, próximos de balsa de garimpo ilegal instalada no local

14 out 2021 - 12h00
(atualizado às 12h34)

A morte de duas crianças Yanomami, que teriam sido dragadas pela estrutura de uma balsa de garimpo ilegal que atua na região, em Roraima, foi denunciada nesta quarta-feira, 13, pela Hutukara Associação Yanomami, que representa o povo indígena da região.

Segundo informações divulgadas pela associação, dois meninos, de cinco e de sete anos, brincavam no rio que banha a comunidade, próximos de balsa de garimpo instalada no local, quando foram sugados e cuspidos para o meio do rio, sendo levados pelas correntezas.     

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A informação foi levada à associação por lideranças indígenas da comunidade Makuxi Yano e da Terra Indígena Yanomami. O desaparecimento das crianças ocorreu no fim da tarde de terça-feira. Na manhã do dia seguinte, o corpo do menino de cinco anos foi encontrado pela comunidade. A outra criança segue desaparecida.

O escritor, xamã e líder político Davi Kopenawa Yanomami busca proteger as tradições de sua comunidade
O escritor, xamã e líder político Davi Kopenawa Yanomami busca proteger as tradições de sua comunidade
Foto: Divulgação

A Hutukara entrou em contato com o Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-Y), que acionou a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Corpo de Bombeiros para se deslocarem ao local na busca pelos corpos.

Em nota, o Corpo de Bombeiros de Roraima informou que recebeu a solicitação do Condisi-Y referente ao afogamento de duas crianças indígenas que teriam sido levadas pela correnteza de um rio na região do Parima, município de Alto Alegre.

O Estadão pediu um posicionamento à Funai sobre o caso. Não houve resposta até a publicação deste texto.

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"A morte das duas crianças Yanomami é mais um triste resultado da presença do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, que segue invadida por mais de 20 mil garimpeiros", declarou Dário Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami.

Até setembro de 2021, segundo dados da associação, a área de floresta destruída pelo garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami superou a marca de 3 mil hectares - um aumento de 44% em relação a dezembro de 2020. Somente na região do Parima, onde está localizada a comunidade de Macuxi Yano e uma das mais afetadas pela atividade ilegal, foi atingido um total de 118,96 hectares de floresta degradada, um aumento de 53% sobre dezembro de 2020. Além das regiões já altamente impactadas, como Waikás, Aracaçá, e Kayanau, o garimpo avança sobre novas regiões: em Xitei e Homoxi, a atividade teve um aumento de 1000% entre dezembro e setembro de 2021.

"O Fórum de Lideranças da Terra Indígena Yanomami se reuniu em setembro para trazer a voz da floresta, e já dissemos: o aumento da atividade garimpeira ilegal na Terra Indígena Yanomami está se refletindo em mais insegurança, violência, doenças, e morte para os Yanomami e Ye'kwana. As autoridades brasileiras precisam continuar atuando para proteger a Terra-Floresta, e impedir que o garimpo ilegal continue ameaçando nossas vidas", afirmou Dário.

Garimpo em área desmatada da floresta amazônica perto de Crepurizão, no município de Itaituba, Estado do Pará, Brasil 06/08/2017 REUTERS/Nacho Doce/Arquivo
Foto: Reuters

No dia 16 de setembro, uma força-tarefa coordenada pela Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública prendeu 13 pessoas e apreendeu 64 aeronaves durante operação para combater o garimpo ilegal, retirar invasores e reestabelecer bases de proteção etnoambiental na Terra Indígena Yanomami.

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A ofensiva durou 15 dias e ainda resultou no confisco de 75 mil litros de combustível, 611 munições, mais de 1.300 quilos de minério e 500 metros de mangueiras de garimpos.

"Estamos atuando de forma intensa na repressão aos crimes ambientais. O fortalecimento de uma atuação integrada traz, cada vez mais, resultados positivos para a desarticulação das organizações criminosas", disse o Ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, na ocasião.

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