As ariranhas – espécie mamífera que habita o Pantanal e a bacia do rio Amazonas - praticam a bigamia e sexo grupal. A descoberta científica inédita sobre a vida sexual das ariranhas foi feita pelo pesquisador americano Douglas Trent, coordenador de Pesquisa do projeto Bichos do Pantanal.
Ele vai levar a descoberta à União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), do qual é membro. O papel da IUCN, fundada em 1948 na Suíça, é encorajar a conservação da biodiversidade e influenciar a o mundo a usar recursos naturais de forma sustentável. Há 34 anos Trent estuda os mamíferos e há oito organiza dados sobre isso através do projeto Bichos do Pantanal, patrocinado pela Petrobras.
A descoberta ainda não foi nem registrada - o americano está elaborando artigo científico. Vai assiná-lo junto com um aluno de doutorado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que acompanhou a pesquisa com as ariranhas.
“Elas são lindas demais!”, elogia o pesquisador, que, seguindo a dinâmica delas no rio Paraguai, Pantanal de Mato Grosso, na região de Cáceres, começou a verificar que a mesma ariranha estava presente em várias grupos familiares, tendo filhotes, tudo coletivamente.
Não foi um trabalho fácil provar essa “bigamia” porque a “digital” das ariranhas fica na garganta e foi através de fotografias que Trent foi comparando, durante dois anos, os animais registrados.
“Algumas têm garganta preta, outras, branca e outras apresentam a combinação das duas cores”, observa. A ariranha, bicho comum em zoológicos no Brasil, é reconhecida como agressiva e perigosa. Não é a toa que costuma ser chamada por onça do rio.
Douglas Trent, no entanto, faz ponderações sobre isso. “Uma coisa importante de dizer é que as ariranhas funcionam assim: mexe com uma e todas vão reagir para defendê-la. Elas atuam em grupo.”
O cientistas conta, porém, um caso que repercutiu muito na década de 90. No zoológico de Brasília, um menino de cerca de 7 anos caiu na margem do lago frequentado pelas ariranhas. “Todos entraram em desespero, achando que iam devorar, de imediato, o garoto, mas elas fizeram uma roda em volta dele, como se estivessem o protegendo. Um salva-vidas que foi lá resgatar o menino à força acabou sendo atacado e morto.”
O pesquisador destaca que essa situação abrupta que o salva-vidas chegou não acontece na natureza. Então, a reação inicial delas foi de proteger e assegurar a vida do menino. Trent explica que, se queremos preservar a biodiversidade, conhecer o comportamento das espécies é fundamental inclusive para que sejam respeitados em sua complexidade animal.