O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, divulgou uma série de cortes de gastos e ajustes fiscais para equilibrar as contas do governo.
Entre as medidas, há mudanças no imposto de renda — uma isenção para quem ganha menos de R$ 5 mil e uma taxa de 10% para quem ganha R$ 50 mil —, na previdência dos militares, no aumento do salário mínimo e em programas sociais do governo (conheça todos os detalhes aqui).
O governo calcula que o corte de gastos anunciado vai gerar um impacto de R$ 327 bilhões entre 2025 a 2030.
Veja a seguir como políticos, setores da economia e o câmbio responderam às novidades.
Reação na classe política
O deputado federal José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara dos Deputados, escreveu no X (o antigo Twitter) que "o presidente Lula não governa para o mercado, mas para todas as brasileiras e brasileiros".
"O conjunto de medidas anunciadas pelo governo é um avanço na organização das contas públicas fazendo justiça fiscal e social. O ajuste é um complemento da reforma tributária sem criar impostos", declarou ele.
Um discurso parecido foi adotado por Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado Federal.
Ao comemorar o corte de impostos para quem ganha até R$ 5 mil, ele lembrou que "esse foi mais um compromisso de campanha do presidente Lula para melhorar o bolso e a vida do povo brasileiro".
O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), ironizou as mudanças no abono salarial anunciadas por Haddad. Ele compartilhou uma imagem de um texto publicado no site do Partido dos Trabalhadores em 2019 com o título: "Reforma da Previdência rouba abono salarial de 13 milhões de trabalhadores".
"PT acusa o ministro Haddad de roubar abono salarial de 13 milhões de trabalhadores brasileiros! Ops, isso foi quando nós aprovamos a reforma da Previdência. Parece, agora, que o PT mudou de ideia", escreveu Marinho.
O senador Flávio Bolsonaro usou o X para dizer que "a economia já está sofrendo""
"O dólar provavelmente vai bater R$ 6,00 ainda hoje! Nada do que o petista [Lula] faz é pensando no bem do Brasil; são apenas medidas populistas para tentar se viabilizar politicamente até 2026", escreveu ele.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pediu um "esforço concentrado" dos deputados e um "empenho das bancadas" em dezembro, para que o pacote de corte de gastos seja debatido e votado até o final do ano.
A ideia é que as medidas tramitem como uma proposta de Emenda à Constituição (PEC) e um projeto de lei complementar (PLP).
Já Rodrigo Pacheco (PSD-MG) declarou que a votação de pacote fiscal "será prioridade" nas últimas três semanas de trabalho de 2024.
O dólar e o mercado
Com a expectativa do anúncio pelo governo, o dólar disparou, chegando ao maior valor nominal (sem considerar a inflação) da história na quarta-feira (27/11): R$ 5,91.
Na manhã de quinta (28/11), a tendência de alta se manteve — e o câmbio em relação à moeda americana ultrapassou os R$ 6.
Muitos agentes do mercado veem o aumento da isenção do imposto de renda como ineficaz no controle das contas públicas.
Haddad defendeu a decisão e argumentou que "a nova medida não trará impacto fiscal".
"Porque quem tem renda superior a R$ 50 mil por mês pagará um pouco mais. Tudo sem excessos e respeitando padrões internacionais consagrados", assegurou ele.
"Essa reforma não visa nem aumentar e nem diminuir a arrecadação. O que buscamos é eficiência e justiça tributária", afirmou o ministro.
O Ibovespa, principal índice da bolsa de valores brasileira, a B3, opera em baixa.
Em entrevista ao Estadão, Sidney Lima, analista da Ouro Preto investimentos, avaliou que o pronunciamento de Haddad sobre o pacote fiscal "teve um tom de propaganda do governo ao anunciar a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil".
"Ponto positivo se deu sobre o anúncio do corte de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos, algo que já era esperado pelo mercado. O ponto mais significativo foi a proposta de 'proibir benefícios tributários em caso de déficit primário', o que pode resultar em uma maior arrecadação para a União, além de reforçar a confiança na gestão das contas públicas", disse ele.
Já um artigo do jornal Valor Econômico, destaca que "o pacote fiscal anunciado pelo governo segue a estratégia gradual de ajuste das contas públicas e, para o Banco Central, não representa o choque positivo que poderia ajudar no controle da inflação e evitar doses mais fortes na administração da taxa básica de juros".
Na Exame, Felipe Salto, economista-chefe da Warren, avalia que "o pacote [anunciado pelo governo] contém ações corretas, que mexem em pontos sensíveis do gasto obrigatório, mas não na intensidade necessária para estabilizar a relação dívida/PIB em dois ou três anos".