Concea: pesquisas com células-tronco e contra câncer dependem de animais

De acordo com o conselho, invasão a laboratório gera prejuízos milionários e ao avanço das pesquisas

22 out 2013 - 19h03
(atualizado às 19h14)
<p>Cães eram usados em pesquisas de medicamentos contra o câncer</p>
Cães eram usados em pesquisas de medicamentos contra o câncer
Foto: Twitter / Reprodução

Nenhum animal retirado do laboratório do Instituto Royal, em São Roque, no interior paulista, sofria maus-tratos ou tinha mutilações, declarou o coordenador do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) e membro da diretoria da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o médico Marcelo Morales. Segundo ele, maus-tratos aos cães da raça beagle, suspeita que levou ativistas de defesa dos animais a invadirem o laboratório na madrugada da última sexta-feira, poderiam até prejudicar os experimentos.

"Se os animais sofrem durante a pesquisa, isso interfere no próprio experimento. Não é interesse ético nem científico que os animais sofram, muito pelo contrário. Os animais têm que estar saudáveis, sem estresse e em boas condições para que se tenham resultados confiáveis", disse.

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De acordo com o médico, o instituto era acompanhado pelo Concea, ligado aos ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e da Saúde, nos testes para medicamentos coadjuvantes na cura do câncer, além de antibióticos e fitoterápicos da flora brasileira, feitos a partir de moléculas descobertas por brasileiros. "Era um laboratório que dava suporte para a independência do Brasil em relação à novos fármacos", informou. "Milhões de reais foram jogados no lixo e anos de pesquisas para o benefício dos brasileiros e dos animais também foram perdidos."

Marco regulatório

O MCTI contabiliza, no País, em torno de 400 instituições credenciadas ou em processo de credenciamento para fazer experimentos com animais. O médico ressaltou que o Brasil tem um marco regulatório com leis rígidas para o controle dessas pesquisas.

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Morales destacou que nenhum lugar do mundo proíbe testes com animais. "Pesquisas que o Brasil está fazendo e se despontando, como células-tronco, não seriam possíveis sem a utilização de animais. Pesquisas com terapia gênica, outras pesquisas importantes na cura do câncer, que estão sendo desenvolvidas por pesquisadores brasileiros, dependem do uso de animais", disse.

Alternativas

O membro do Concea esclareceu ainda que existem poucos métodos alternativos para substituir as cobaias em testes e a obtenção dessa metodologia pode levar entre 15 e 20 anos para ser desenvolvida. Na indústria de cosméticos, porém, essas técnicas são usadas com maior eficiência. "Um exemplo é o kit de pele artificial humana. As indústrias mais sérias do mundo não utilizam animais para testes cosméticos", explicou.

Você sabia: por que os beagles são usados em pesquisas de medicamentos?

De acordo com Morales, os cães da raça beagle são padrão no mundo inteiro para o teste de fármacos por suas características. Além do temperamento dócil e da facilidade de manuseio, eles têm maior similaridade com o condicionamento do organismo humano. 

O médico disse que os cachorros retirados pelos ativistas viviam em um ambiente protegido, chamado de biotério, sem contato com o meio externo. "Não se pode tirar animais que foram criados em biotérios dessa forma repentina, porque eles podem morrer. Eles estão em risco neste momento", disse. 

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Ativistas retiram animais de instituto 

Ativistas invadiram, por volta das 2h de sexta-feira, a sede do Instituto Royal, em São Roque, no interior de São Paulo, para o resgate de cães da raça beagle que seriam usados em pesquisas científicas. Mais tarde, coelhos também foram retirados do local. Cerca de 150 pessoas participaram da invasão. Ao todo, 178 cães foram retirados do instituto.

Há dias, ocorriam protestos na frente do centro de pesquisas, que utiliza beagles em testes de produtos farmacêuticos. A raça é usada por ter menos variações genéticas, o que torna os resultados dos testes mais exatos. 

Agência Brasil
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