A condenação do ex-presidente Lula na quarta-feira "joga a política brasileira em mais turbulência", diz o jornal americano Wall Street Journal, ressaltando ainda que a decisão do juiz federal Sérgio Moro causa um "duro golpe" ao PT e a suas chances de voltar ao poder no maior país da América Latina.
O jornal americano acrescenta que o petista foi responsável por elevar o perfil do Brasil tanto econômica como politicamente e que seu governo levou as Olimpíadas e a Copa do Mundo ao país, mas que uma "angustiante recessão" e as denúncias de corrupção contra ele e seu partido "estrangularam seu legado".
O Wall Street Journal lembra que o presidente Michel Temer também enfrenta denúncias de corrupção e que a operação Lava Jato "colocou vários políticos de peso e capitães da indústria na cadeia, e atrasou a recuperação econômica do Brasil".
'Arquiteto do Brasil moderno'
Para o também americano The Atlantic, a decisão representa uma "notável reviravolta" para a figura política que há menos de duas décadas era saudada como "o arquiteto do Brasil moderno" e que transformou o país numa "potência econômica regional".
O New York Times ressalta o prejuízo ao legado de Lula, um político que presidiu o Brasil num período de forte crescimento econômico e que tem o "crédito por liderar a transformação social que tirou milhões da pobreza".
Segundo o jornal americano, embora a decisão "envolva somas relativamente modestas" comparadas a outros escândalos de corrupção, os promotores responsáveis pelo caso o descreveram como um "mentor de um enorme esquema de propina".
O diário britânico Daily Telegraph ressalta a trajetória de Lula, "que saiu da pobreza para dois mandatos como presidente", deixando o governo com 83% de aprovação. Sua condenação, segue o texto, marca uma "queda impressionante" para o sindicalista que "ganhou admiração global por suas políticas sociais transformadoras".
Reação dos mercados
O Financial Times (FT) foca na reação dos mercados com a condenação. "Enquanto o popular líder permanece livre para recorrer, a decisão ameaça eliminá-lo de concorrer nas eleições presidenciais do próximo ano, um resultado que agrada o mercado", diz o jornal britânico.
Segundo o FT, investidores acreditam que o presidente Michel Temer, apesar das acusações, terá "capital político suficiente", para aprovar a agenda de reformas, "incluindo a muito necessária reforma da Previdência".
O texto comenta ainda que a Justiça brasileira é "notoriamente lenta", e que por isso não está claro se a decisão será aplicada antes das eleições do próximo ano.
Já a Al Jazeera, principal rede de televisão do mundo árabe, nota que houve alta do real e que os mercados reagiram positivamente à condenação de Lula. A rede também reforça que a decisão é o mais recente capítulo de "uma grave crise política engolindo o Brasil".
Incerteza política
O francês Le Monde reforça se tratar de "uma enorme derrota para um ícone da esquerda que nutria ambições sérias com as eleições presidenciais de 2018" e que esta é "a primeira vez na história do Brasil que um ex-chefe de Estado é condenado por corrupção".
A incerteza com a política brasileira é o foco do espanhol El País, que diz que pela "primeira vez em décadas" imagina-se "um futuro sem Lula".
De acordo com o jornal, a possibilidade de que o ex-presidente e sua sombra "desapareçam do mapa político" poderia causar um "abalo sísmico" no país, especialmente com a proximidade da eleição presidencial, na qual o petista é o candidato favorito.
Para o jornal espanhol, um panorama político sem Lula "não é mais encorajador", uma vez que o PT não tem quem o substitua, outros candidatos tradicionais "estão fora do jogo" e, com isso, "o principal beneficiado é Jair Bolsonaro", apontado como "Trump brasileiro por seus comentários machistas e autoritários".
O argentino Clarín diz que, ao condenar Lula, o juiz federal Sérgio Moro "cumpriu o 'grande sonho' que mantinha desde o primeiro momento" da operação Lava Jato.
E no La Nación, do mesmo país, ressalta que dirigentes próximos a Cristina Kirchner se posicionaram a favor de Lula, afirmando se tratar de "uma perseguição contra o ex-presidente".