O ex-motorista da viação Cometa Josias Nunes de Oliveira, que presenciou o acidente automobilístico na via Dutra que terminou com a morte do ex-presidente da República Juscelino Kubitschek, em agosto de 1976, afirmou nesta terça-feira à Comissão da Verdade da Câmara dos Vereadores de São Paulo que 37 anos após a morte de JK, ainda continuam achando que ele foi o culpado pelo acidente. De acordo com a sua versão, ele apenas parou o ônibus para tentar socorrer as vítimas. Além de JK, o acidente matou o seu motorista, Geraldo Ribeiro.
"Vamos ver se essa verdade, mais uma vez, aparece. Continuam achando que ainda sou culpado. Eu falo a verdade, não estou mentindo não. A verdade tem de ser dita. E onde for preciso ir para falar a verdade. E não quero companhia não", disse ele, que hoje vive em uma casa para idosos no interior de São Paulo.
O presidente da Comissão da Verdade paulistana, Gilberto Natalini, afirmou que aguarda nova perícia a ser realizada pelo governo de Minas Gerais para averiguar a suspeita de que o motorista teria sido atingido por um tiro na cabeça momentos antes do acidente.
De acordo com a versão de Oliveira, ele ultrapassou o carro em que o presidente viajava pela esquerda e pouco depois foi ultrapassado pela direta. "O carro em que ele vinha acelerou pela direita, perdeu o controle, atravessou o canteiro e foi bater em uma carreta do outro lado da pista. Eu parei o ônibus no acostamento para tentar fazer o socorro", disse.
Em uma perícia realizada nas duas ossadas, em 1996, médicos legistas encontraram um objeto metálico no crânio de Geraldo Ribeiro. À época foi identificado como o fragmento de um prego do próprio caixão.
Sobre o acidente, Oliveira disse que achou tudo muito estranho. "O carro me ultrapassou, não fez a curva, foi para a pista contrária e bateu contra uma carreta. Ele disse que ao ver o ex-presidente, ainda percebeu ele piscar por duas vezes. "Só depois, vendo os documentos que ficaram espalhados, é que percebi que se tratava do Juscelino", afirmou.
Motorista diz que recebeu proposta de dinheiro para assumir culpa no acidente
O ex-motorista contou que dias depois do acidente, dois homens “cabeludos” que se identificaram como jornalistas e foram até a sua casa, ofereceram uma pasta de dinheiro para que ele assumisse a culpa no acidente. "Disseram para eu pegar o dinheiro, que seria todo meu. Falei que não, que não aceitava e não queria. Foram embora e não voltaram mais. Foi uma vez só. Foi muito dinheiro. Se eu tivesse pego aquilo lá..."
Em vários momentos, Josias chorou ao se relembrar do caso. "Isso mudou a minha vida até hoje. A única coisa que eu fiz foi parar para socorrer", disse.