Coronavírus: após atrito com governadores, Bolsonaro anuncia R$ 88 bi em apoio a Estados e municípios

Parte das medidas tomadas pelo governo, porém, já havia sido encaminhada ao Congresso antes da chegada da doença ao país.

23 mar 2020 - 20h27
O presidente Jair Bolsonaro anunciou R$ 88 bilhões em apoio a Estados e municípios
O presidente Jair Bolsonaro anunciou R$ 88 bilhões em apoio a Estados e municípios
Foto: AFP / BBC News Brasil

Após entrar em atrito político com governadores por causa das ações contra a crise do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta segunda-feira (23/03) um pacote de medidas em apoio a Estados e municípios que soma R$ 88,2 bilhões.

Cerca de R$ 20 bilhões do pacote, porém, correspondem a medidas que já haviam sido anunciadas pelo governo antes da chegada da doença ao Brasil e estão tramitando com lentidão no Congresso.

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A divulgação foi feita de forma breve, após reuniões virtuais com os governadores das regiões Norte e Nordeste. Assim, Bolsonaro evitou responder a perguntas de jornalistas sobre a confusão em torno da suspensão do salário de trabalhadores por empresas.

O governo editou na noite de domingo uma Medida Provisória (MP) que permitia às empresas suspender o pagamento de funcionários por quatro meses.

Devido à forte reação contrária, o presidente anunciou que revogaria esse ponto da medida e, agora, o Ministério da Economia elabora outra MP que permitirá redução dos salários, mas prevendo que o governo pague uma compensação aos trabalhadores.

Fundos de Saúde

O pacote de medidas para os Estados estabelece a transferência de R$ 8 bilhões do Fundo Nacional de Saúde para os fundos de Saúde de Estados e municípios. Além disso, prevê outros R$ 2 bilhões para gastos com assistência social.

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O pacote prevê também que a União vai transferir R$ 16 bilhões nos próximos quatro meses para recompor perdas do Fundo de Participação dos Estados e do Fundo de Participação dos Municípios.

Esses fundos normalmente são alimentados pela transferência de parte dos tributos coletados pela União. No entanto, devido à forte freada da economia causada pela crise do coronavírus, é dado como certo que essa arrecadação vai recuar, afetando esses fundos.

Dívidas dos Estados

Outra medida anunciada por Bolsonaro é a suspensão de R$ 12,6 bilhões em dívidas dos Estados com a União, além da renegociação de outros R$ 9,6 bilhões devidos pelos governos estaduais para bancos públicos (principalmente BNDES, Caixa e Banco do Brasil).

O objetivo é estabelecer prazos maiores e melhores condições de pagamento, liberando recursos para os Estados usarem agora no enfrentamento da doença.

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O pacote ainda prevê R$ 40 bilhões em "operações de crédito", que foram pouco detalhados pelo governo. Esse valor inclui aumentar o limite de empréstimos que alguns Estados podem contrair.

Dentro desse bolo estão também cerca de R$ 20 bilhões que correspondem a medidas em tramitação no Congresso. Ou seja, são medidas já propostas anteriormente pelo governo para ampliar a capacidade de financiamento dos Estados , mas que não saíram ainda do papel.

"Foi um passo importante (o pacote anunciado para Estados e municípios), embora insuficiente. O governo federal demonstra não ter ainda nada a dizer para garantir a renda de trabalhadores informais e autônomos. Essa é uma grande prioridade ainda esquecida", disse à BBC News Brasil o governador do Maranhão, Flávio Dino.

Governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), afirmou que pacote do governo é 'insuficiente'
Foto: Felix Lima/BBC News Brasil / BBC News Brasil

Novas reuniões com governadores

O presidente Bolsonaro disse que fará nesta terça-feira reuniões online também com governadores das regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste.

Nos últimos dias, ele tem criticado medidas adotadas por governos estaduais contra a expansão do coronavírus, como fechamento de comércios, por considerar que seriam "exageradas" e temer seus efeitos sobre a economia.

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Já os governadores e muitos epidemiologistas estão defendendo medidas radicais que reduzam a circulação de pessoas para retardar o contágio da doença, evitando que faltem leitos nos hospitais para tratar os casos mais graves.

No domingo, o presidente chegou a chamar o governador de São Paulo, João Doria, de "lunático". Na sexta-feira, ele já havia criticado duramente o governadores do Rio de Janeiro, Wilson Witzel.

"Teve um Estado do Brasil que só faltou o governador declarar independência do mesmo", disse, em referência a decisão de Witzel de fechar estradas e aeroportos.

Nesta segunda-feira, Bolsonaro adotou tom mais conciliador e disse que imperou a "compreensão" e o "entendimento" nas reuniões com governadores das regiões Norte e Nordeste.

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"Sabemos que temos um inimigo em comum, o vírus. Também sabemos que o efeito colateral que pode ser o desemprego pode ser combatido. Partindo dessa premissa, foram duas reuniões excepcionais onde anunciamos respostas às cartas dos governadores e de associações representativas", disse o presidente.

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