O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, criticaram nesta sexta-feira (20/03) ações individuais adotadas nos Estados para conter o avanço do novo coronavírus, como o fechamento de estradas e aeroportos implementado pelo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel.
Segundo eles, essas iniciativas feitas sem coordenação com o governo federal podem agravar a crise provocada pela doença.
Sem citar o nome de Witzel, Mandetta disse que o fechamento de estradas por um governador impactou, por exemplo, o transporte de insumo para uma indústria de oxigênio, produto fundamental para tratar os casos mais graves de covid-19 (nome da doença causada pelo coronavírus).
"Há algum tempo já venho falando que não devemos entrar em pânico. Queremos evitar uma histeria porque o problema econômico agrava a questão do coronavírus", disse Bolsonaro na coletiva de imprensa.
"Teve um Estado do Brasil que só faltou o governador declarar independência do mesmo", criticou ainda, em aparente referência a Witzel.
Segundo Bolsonaro, o ministro-chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto, estava se reunindo com secretários estaduais de Saúde para uniformizar procedimentos de enfrentamento do coronavírus.
Alguns governadores têm decretado também o fechamento de estabelecimentos comerciais, com exceção dos essenciais (como farmácia e mercados). É o caso de João Doria (São Paulo), Ibaneis Rocha (Distrito Federal) e Witzel, por exemplo.
Bolsonaro tem reagido a essas iniciativas com irritação nos últimos dias devido ao impacto na economia. Já os governadores e muitos epidemiologistas estão defendendo medidas radicais que reduzam a circulação de pessoas para retardar o contágio da doença, evitando que faltem leitos nos hospitais para tratar os casos mais graves.
Colapso do sistema
O próprio Mandetta disse nesta sexta-feira que o número de pessoas infectadas começaria a crescer rapidamente em poucas semanas, provocando o "colapso" do sistema de saúde já em abril.
"O colapso é quando você pode ter o dinheiro (para pagar o hospital), pode ter a ordem judicial (determinando a internação), mas não tem (vaga em hospital) onde entrar", disse o ministro.
No entanto, ao ser questionado por jornalistas para detalhar melhor o que seria esse "colapso" do sistema, o ministro disse que isso seria um "cenário" a ser evitado com trabalho conjunto envolvendo governo federal e governos estaduais, assim como o setor privado.
"Se nós não fizéssemos nada, se não aumentássemos nossa capacidade instalada (na indústria de insumos médico-hospitalares), se nós ficássemos parados olhando, nós teríamos um mega problema", respondeu.
"Porque esse sistema, do jeito que ele vem, sem fazer nada, você colhe um colapso. Nosso sistema aguentaria por volta de trinta dias", disse ainda.
O cenário de expansão da doença traçado pelo ministro, a partir do que se tem observado em outros países onde o vírus chegou antes, prevê um aumento rápido dos casos de covid-19 no Brasil entre abril e junho.
Depois, explicou ele, deve haver uma estabilidade do número de doentes em julho e agosto, com uma queda acelerada a partir de setembro.
Articulação com empresários
O presidente e o ministro realizaram nesta tarde uma teleconferência com empresários para discutir como o setor privado pode colaborar de forma articulada no enfrentamento do coronavírus.
O presidente da General Motors para a América do Sul, Carlos Zarlenga, disse que dez engenheiros da companhia estavam trabalhando em como usar a linha de produção de automóveis para a fabricar respiradores, item essencial para tratar a falta de ar provocada pelos casos mais graves da doença.
Segundo ele, as vendas do grupo, que comercializa os veículos da marca Chevrolet, estão caindo de 40% a 50% em todo o país.
Já o presidente da Ambev, Jean Jereissati, disse que a companhia colocou uma fábrica para produzir álcool em gel e doar para governos estaduais. Ele destacou, porém, que a empresa está com dificuldade em garantir a quantidade necessária de carbopol, um dos insumos necessários para a produção de álcool em gel.
Bolsonaro descarta Estado de Sitio
Bolsonaro descartou decretar Estado de Sítio ou Estado de Defesa por causa da expansão do coronavírus no país. Ambas as iniciativas dependem de aprovação do Congresso Nacional para serem adotadas e servem para suspender direitos e garantias individuais, dando poderes excepcionais ao Poder Executivo.
"Ainda não está no nosso radar isso, não. Serio o extremo, acredito que não seria necessário, bem como Estado de Defesa.", respondeu Bolsonaro ao ser questionado se estudava adotar o Estado de Sítio em coletiva de imprensa.
"Não tem dificuldade de implementar isso, em poucas horas você decide se é uma situação como essa. Mas acho que daí estaríamos avançando, dando uma sinalização de pânico para a população. Queremos sinalizar a verdade para a população. Acho que isso, por enquanto, está descartado, até estudar essa circunstância (está descartado)", disse ainda o presidente.