Integrantes de sindicatos ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) fizeram um ato nesta sexta-feira (30) na Praça Lamartine Babo, em frente ao 1º Batalhão de Polícia do Exército, na Tijuca, zona norte do Rio, onde durante a ditadura funcionou o Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi).
A manifestação, que fez parte da programação de dois dias do Encontro Nacional das Comissões da Verdade dos Sindicatos Cutistas e terminou nesta sexta-feira, foi organizada em parceria com a Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO), maior central sindical norte-americana.
Entre os manifestantes estavam anistiados e ex-presos políticos. O ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), Gilney Viana, recordou o dia em que foi levado preso para o DOI-Codi. “Fui torturado a noite inteira, pau de arara, choque elétrico, afogamento, palmatória, todo tipo de tortura que eles usavam na época. No dia seguinte fui torturado também e em mais algumas vezes. Fiquei 36 dias aqui no DOI-Codi”, contou emocionado.
Gilney ainda passou pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde foi submetido a tortura psicológica, pela Ilha Grande, por Minas Gerais e ainda ficou preso por dois anos e meio na Penitenciária da Frei Caneca, no centro do Rio. “Cumpri nove anos e dez meses e não saí com anistia, não fui anistiado. Eu só saí sob liberdade condicional e cumpri integralmente a minha pena até o final de 1984. Até 1984 fiquei sob a guarda da Justiça Militar”, disse.
O coordenador da Comissão Nacional Memória, Verdade e Justiça e secretário nacional de Políticas Sociais da CUT, Expedito Solaney, foi um dos coordenadores do encontro. Ele contou que 20 sindicatos ligados à central têm comissões da verdade e a intenção é que este número cresça. De acordo com o sindicalista, o objetivo da manifestação foi destacar que a Comissão Nacional da Verdade (CNV) preparou o relatório com a conclusão das investigações sobre os casos de desrespeito aos direitos humanos durante a ditadura no Brasil. “É um ato simbólico, um ato importante. Para nós é fundamental resistir e registrar. Lutar para que o resultado da Comissão Nacional da Verdade não fique no Arquivo Nacional. Nós não queremos ser revanchistas, queremos que se faça justiça”, analisou.
Solaney destacou, no entanto, que agora é momento do relatório entrar na pauta dos movimentos sociais e populares, do Congresso e do governo. O sindicalista defendeu que é preciso exigir o cumprimento das recomendações do documento. “Por exemplo, a instauração do inquérito que culmine com a prisão dos torturadores. Apresentaram nome e sobrenome de militares que perpetraram crimes de lesa-humanidade e que não prescrevem, então não se justifica a Lei da Anistia”, contou.
A americana Jana Silverman, que trabalha no Centro de Solidariedade do AFL-CIO, em São Paulo, disse que a história já comprovou que houve apoio ativo dos Estados Unidos em ações de repressão no Brasil. “Foram operações pagas com o dinheiro do povo americano. Nós não aceitamos isso. Moralmente achamos que precisamos nos unir com os nossos companheiros do Brasil para dizer que precisamos lembrar esta experiência para pedir justiça”, disse.
Jana Silverman acrescentou que o AFL-CIO desenvolve projetos em parceria com a CUT em outras áreas, como o meio ambiente. A sindicalista também concorda que o relatório da CNV foi um avanço, mas para ela é preciso buscar mais. “Não pode parar aí. O relatório não pode ficar só no papel. Estamos apoiando os nossos companheiros da CUT para pressionar e mobilizar a sociedade brasileira, juntamente aos sindicatos dos Estados Unidos, para que termine em reparações efetivas”, disse.