"Devemos sempre nos preparar para o pior", diz Bolsonaro sobre reflexos dos protestos do Chile no Brasil

Na Arábia Saudita, presidente diz que governo e agência de inteligência estão monitorando situação no país vizinho; ele também detalhou foco 'econômico' da viagem.

28 out 2019 - 16h49
(atualizado às 17h44)
'O que poderia acontecer é algo semelhante ao que acontece no Chile. Está um pouco descartado desta forma, mas existe toda e qualquer preocupação', afirmou Bolsonaro em viagem ao Oriente Médio - na foto, em Abu Dhabi
'O que poderia acontecer é algo semelhante ao que acontece no Chile. Está um pouco descartado desta forma, mas existe toda e qualquer preocupação', afirmou Bolsonaro em viagem ao Oriente Médio - na foto, em Abu Dhabi
Foto: Clauber Cleber Caetano/Presidência da República / BBC News Brasil

O presidente Jair Bolsonaro voltou a mostrar preocupação sobre reflexos no Brasil dos megaprotestos registrados no Chile, em breve conversa com jornalistas nesta segunda-feira (28/10), em Riade, capital da Arábia Saudita.

"Meu governo não pode deixar de se antecipar aos problemas. Isso faz parte de qualquer país do mundo: é saber como setores da sociedade estão se comportando para você poder negociar com antecedência", disse.

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Questionado sobre quais ameaças foram registradas pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Bolsonaro disse que "devemos sempre nos preparar para o pior para poder reagir com serenidade e objetividade".

"O que poderia acontecer é algo semelhante ao que acontece no Chile. Está um pouco descartado desta forma, mas existe toda e qualquer preocupação", afirmou.

Na noite de sexta-feira, uma manifestação em Santiago reuniu mais de um milhão de pessoas. Ponto culminante de uma semana inteira de protestos no no país, a manifestação levou o presidente Sebastián Piñera a pedir, no sábado, que todos os seus ministros coloquem seus cargos à disposição.

Bolsonaro fica na Arábia Saudita até o dia 30. Na noite desta segunda-feira, ele janta com Mohammed bin Salman, Príncipe Herdeiro do Reino da Arábia Saudita. O encontro com o rei Salman Bin Abdulaziz Al-Saud acontece nesta quarta, também a portas fechadas.

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O foco da viagem é "econômico", afirmou o presidente. As duas prioridades são atrair investimentos sauditas nos leilões do pré-sal, em projetos de infraestrutura do Programa de Parceria de Investimentos (que inclui concessões, privatizações e concorrências para grandes obras) e exportações de frango para os sauditas.

O presidente voltou, ainda, a comentar a eleição da Argentina, com vitória do peronista Alberto Fernández sobre Mauricio Macri, no domingo — com a ex-presidente Cristina Kirchner como vice de chapa.

"Vi imagem de alguns petistas comemorando a eleição na verdade da Cristina Kirchner, que sempre foi ligada a Lula, Dilma, Chávez, o falecido Fidel Castro, entre outros, Evo Morales. Isso é uma preocupação. Diz-me com quem andas que te direi quem tu és."

Petróleo

A participação dos sauditas, principais produtores do planeta de petróleo, no leilão do pré-sal que acontece em novembro é uma das prioridades da viagem.

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"Eles (árabes) e também os chineses devem marcar presença no leilão", disse o presidente na entrada do hotel.

Segundo uma importante autoridade brasileira envolvida nas negociações ouvida pela BBC News Brasil, o fundo soberano saudita — estimado em US$ 300 bilhões, segundo o Instituto Internacional de Finanças (IIF), que reúne as maiores instituições financeiras mundiais — é a menina dos olhos do governo brasileiro.

Tanto o Itamaraty quanto a diretoria da Petrobras vêm mantendo contato com a família real saudita e diretores da estatal Aramco, que detém o monopólio da produção e exploração das reservas de óleo cru do país, o maior produtor do mundo.

"Eles não têm histórico de participação no mercado brasileiro de petróleo", diz a autoridade, "e mostraram interesse dada a grandeza dos leilões e também no plano de desinvestimento de partes da Petrobras".

Bolsonaro em chegada a Doha; presidente afirmou que foco da viagem é 'econômico'
Foto: Valdenio Vieira/Presidência da República / BBC News Brasil

Carne de frango

O presidente confirmou que vai tentar convencer os sauditas a voltarem a comprar frango da gigante brasileira BRFoods.

"Vou tratar da questão do frango", disse. "É como toda ferida: será cicatrizada."

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O país cortou as compras de frango produzido pela BRF nos Emirados Árabes como parte de sua estratégia de reduzir sua dependência do petróleo e aumentar a produção interna de carne.

Segundo a BBC News Brasil apurou, o CEO global da BRF também veio à Arábia Saudita para acompanhar reuniões entre os dois governos.

Com 7 escritórios só na Arábia Saudita, a BRF emprega 400 pessoas no país. A marca Sadia, da empresa, é líder no mercado e tenta se expandir para fornecer carne e embutidos a uma população de aproximadamente 30 milhões de habitantes.

"(A BRF) é um dos assuntos mais importantes para o governo brasileiro", concluiu a fonte.

'Vocês ficam mais bonitas assim'

Bolsonaro em visita à Grande Mesquita Xeque Zayed, em Abu Dhabi; ele comentou o visual das jornalistas brasileiras que acompanham a viagem presidencial, na qual elas estão vestindo véus e abayas
Foto: Clauber Cleber Caetano/Presidência da República / BBC News Brasil

Assim que desembarcou do carro oficial em seu hotel em Riade, capital da Arábia Saudita, o presidente Jair Bolsonaro decidiu comentar o visual das jornalistas brasileiras, que estão vestindo véus e abayas, uma espécie de túnica que esconde as formas do corpo para obedecer a regras de "decência" e "respeito" da sharia (lei islâmica).

"Que maravilha. Vocês estão mais bonitas assim, sabiam?", disse Bolsonaro ao se aproximar dos jornalistas para uma breve entrevista antes de entrar no hotel.

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O presidente prosseguiu, enquanto uma jornalista perguntava sobre as expectativas de negócios para o Brasil na Arábia Saudita.

"Quando a beleza é muito grande, ofusca os olhos da gente. Assim vocês ficam mais bonitas", disse.

A Arábia Saudita é o mais conservador e fechado entre todos os países visitados por Bolsonaro em seu tour pela Ásia e pelo Oriente Médio. Desde o dia 19, o presidente esteve no Japão, China, Emirados Árabes Unidos e Qatar.

Até 27 de setembro deste ano, visitas ao país eram permitidas apenas a partir de convites vindo de empresas do país ou do governo. O recém-criado visto de turismo é válido para cidadãos de 51 países. Nenhum país latino-americano, incluindo o Brasil, está entre eles.

Antes da nova regra, os únicos países cujos cidadãos podiam visitar a Arábia Saudita eram os vizinhos Emirados Árabes, Kuwait, Bahrein e Omã.

Muçulmanos também costumam conseguir vistos especiais para peregrinação a Meca.

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A abertura é parte de uma estratégia do governo para reduzir sua dependência de petróleo. A expectativa da família real saudita é trazer em torno de 1,5 milhão de estrangeiros por ano.

As turistas não precisam usar abayas, segundo o governo. A veículos locais, o ministro do Turismo, Ahmed al-Khateeb, disse que ombros e joelhos, no entanto, deverão estar cobertos.

Mas, como a regra é recente, as mulheres que visitam o país a negócios e turismo ainda não vistas em saguões de hotéis e escritórios usando a vestimenta.

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