O comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), Juniti Saito, afirmou nesta terça-feira, durante reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, que a presidente da República, Dilma Rousseff, já declarou que definirá a conclusão do Projeto FX-2 "em curto prazo". O programa, iniciado em 2001, prevê a aquisição de 36 aeronaves de caça estrangeiras, com transferência de tecnologia para o Brasil. As informações são da Agência Senado.
O presidente da CRE, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), explicou que o chamado Projeto FX-2 da FAB começou em 2001, tendo esse primeiro processo se encerrado em 2005 - por conta da conjuntura econômica nacional - sem a compra definitiva de caças. Ferraço contou que foi adotada uma posição paliativa, com a compra de caças usados. Ele lembrou que os aviões de caça Mirage 2000 serão aposentados no último dia de 2013 e manifestou preocupação com o que chamou de "fragilidade do espaço aéreo" brasileiro. "Essa situação coloca o país em um iminente apagão aéreo", afirmou o senador, acrescentando que o Congresso Nacional confia na Aeronáutica.
Para Ferraço, a aquisição de aeronaves é importante para a posição estratégica do Brasil, que é uma liderança na América Latina, tem projeção mundial e almeja mais protagonismo na Organização das Nações Unidas (ONU). A nova fase do Projeto FX-2, explicou o senador, começou em 2008 e consiste na aquisição de 36 aeronaves de caça "de múltiplo emprego", incluindo itens como os simuladores de voo correspondentes, a logística inicial e a transferência de tecnologia "necessária para a capacitação do parque industrial aeroespacial brasileiro no desenvolvimento de um caça de quinta geração".
Aposentadoria do Mirage
O comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, disse que, o País possui equipamentos compatíveis para fazer face às necessidades da defesa nacional. Ele ressaltou, porém, que o Projeto FX-2 complementaria a segurança do País. Saito lembrou que o monitoramento de defesa do Brasil chega a 22 milhões de quilômetros quadrados, considerando as regiões de tratado internacional. "Quem controla o espaço e faz defesa aérea dá proteção ao País", disse
Sobre os modelos selecionados - disputam a concorrência os caças Dassault Rafale, da França; Boeing F/A-18 Super Hornet, dos Estados Unidos; e Saab Gripen NG, da Suécia -, o comandante Saito acrescentou que a Presidência da República já tem as informações sobre as preferências da Aeronáutica e já estaria em condições de tomar uma decisão sobre a compra dos caças. Segundo Saito, Dilma Rousseff tomará a decisão "em curto prazo". Ele informou que, depois de decidida a compra, a entrega dos aviões pode demorar entre quatro e seis anos.
Ainda de acordo com Juniti Saito, o relatório sobre a compra dos aviões foi entregue ao Ministério da Defesa no início de 2010. O comandante admitiu que a análise da Aeronáutica é mais técnica, enquanto a do governo é mais política. Ele negou, porém, que exista conflito com o Ministério da Defesa.
Segundo Saito, a Aeronáutica trabalha na aquisição de caças modernos desde o ano de 1995. Ele afirmou que os adiamentos no processo têm mais a ver com a questão orçamentária e negou que a Aeronáutica faça pressão sobre o governo. Saito ainda informou que os Mirage 2000, que serão retirados de uso no fim do ano, deveriam ter sido desativados já em 2011, por conta das horas de voo, e informou que a Aeronáutica vai receber caças F-5 modernizados para substitui-los antes da conclusão do Projeto FX-2. Ele admitiu que a situação não é a ideal, mas que a Aeronáutica "faz o possível".
Ofertas são analisadas "exaustivamente", diz militar
O presidente da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (Copac), brigadeiro José Augusto Crepaldi Affonso dos Santos, explicou que a FAB planeja a aquisição de uma nova aeronave com base na análise dos riscos da construção ou da aquisição e dos desafios tecnológicos e logísticos. E informou que algumas aeronaves brasileiras chegam a voar 40 anos, pouco acima da média mundial.
Affonso dos Santos disse que as ofertas de compra são "exaustivamente" analisadas sob vários prismas, inclusive sobre a possibilidade de transferência de tecnologia. Uma das exigências é a efetividade do caça na defesa aérea, no ataque aéreo e no ataque ao solo. A junção dessas ações em uma mesma aeronave, disse Affonso dos Santos, diminui os custos para o País. O desafio, segundo o presidente da Copac, é a comparação entre as características técnicas das três finalistas. "O projeto FX-2 vai representar um grande salto tecnológico para o País", afirmou.
Transferência de tecnologia
Ricardo Ferraço enfatizou que a compra desses aviões de guerra deve ter como característica prioritária a transferência de tecnologia para o Brasil por parte do país escolhido como vendedor. O objetivo é que essa transferência de conhecimento ajude no desenvolvimento das capacitações tecnológicas nacionais, de modo a eliminar, progressivamente, a compra de serviços e produtos importados, e possibilitar a produção nacional de um caça.
Respondendo à senadora Ana Amélia (PP-RS), o comandante Juniti Saito informou que há diferenças na forma da transferência de tecnologia de cada modelo. Integridade estrutural, sensores, fusão de dados e integração de motores estão entre as áreas que a Aeronáutica receberia tecnologia. "Não estamos apenas comprando um avião de prateleira. A transferência de conhecimento é importante. É fazendo junto que a gente aprende a tecnologia", disse Saito.