Os presidentes do Uruguai, José Pepe Mujica, e do Brasil, Dilma Rousseff, conversaram na sexta-feira, durante mais de três horas, sobre temas políticos e as relações entre os dois países nos últimos anos. Enquanto Dilma foi recentemente reeleita, Mujica está nos últimos meses de mandato no Uruguai, que elegerá seu próximo presidente, em segundo turno, no dia 30 deste mês.
Transmissão de energia, infraestrutura e integração produtiva foram os principais assuntos tratados na conversa entre os mandatários. Após o encontro, Mujica afirmou que as parcerias entre os dois países não devem necessariamente convergir para ações de financiamento, mas também para o desenvolvimento das duas nações, bem como dos vizinhos Paraguai, Argentina e Bolívia. “Conversamos sobre uma agenda de problemas que viemos trabalhando esses anos", explicou Mujica, citando a necessidade de impulsionar um porto regional, "que não pretenda ser um porto uruguaio, mas um porto da região do rio da Prata, que está se transformando num congestionamento de barcos”.
Segundo Mujica, que, em março do ano que vem, transferirá o cargo ao candidato eleito no fim deste mês, o Brasil tem importância estratégica na região. “Penso que Brasil é a espinha dorsal, mas também tem de se dar conta da responsabilidade que tem. O desenvolvimento está vindo tarde, e há outros grandes neste mundo que se juntam para poder negociar. Por isso, o grande [Brasil] tem que se juntar aos pequenos e médios, todos juntos. Se não, não teremos força”, afirmou.
A presidente Dilma Rousseff destacou que o balanço do relacionamento entre os dois países é positivo, pelo fato de ambos olharem para os interesses da América Latina, onde, segundo ela, há um mercado “significativo”, que deve ser expandido.
“Conseguimos uma integração energética que estava há muito tempo sendo buscada, baseada não só na interconexão de transmissão, mas também em projetos conjuntos feitos com a Eletrobras e a empresa uruguaia. Isso significa que, quando sobrar energia lá, eles venderão para nós. Quando sobrar aqui, venderemos para eles. Aquele que tiver menor preço tem prioridade”, disse a presidenta, após o encontro com Mujica.
Dilma ressaltou ainda a importância de uma integração produtiva entre os dois países na questão da tecnologia da informação e em outras áreas. “Todas as economias da região, e principalmente sociedades da região, procuraram formas de equacionar problema secular da desigualdade. Muitos latino-americanos foram levados a ser construtores e isso também vai significar e significou grande mercado”, explicou.
O presidente uruguaio também respondeu a perguntas dos jornalistas sobre a possível venda de seu famoso Fusca azul, assunto que ganhou repercussão nos últimos dias depois que um sheik árabe ofereceu US$ 1 milhão pelo automóvel. Mujica, que é conhecido por manter uma vida simples e pacata, apesar de ocupar o cargo mais alto do país, repassando parte de seu salário para fundações sociais, limitou-se a responder, bem-humorado: “No se preocupen com el Fusca". E fez um questionamento: "O que não tem preço? O que não tem preço é a vida.”
Mujica desembarcou em Brasília no início da tarde desta sexta-feira e, após passar rapidamente pela embaixada uruguaia, chegou ao Palácio do Planalto, acompanhado do embaixador Carlos Tenconi. Antes de mandar “beijos para todos os brasileiros”, ele tirou fotografias com servidores da Presidência da República.