Ditadura entregou à Argentina 'lista negra' de exilados, incluindo Jango

Documentos apresentados à Comissão da Verdade por filho de João Goulart reforçam entendimento de que ex-presidente foi monitorado no exílio

19 dez 2013 - 21h23
(atualizado às 22h26)
Ao lado do senador Pedro Simon (PMDB-RS), João Vicente Goulart (esq.) entrega dossiê à coordenadora da Comissão Nacional da Verdade, Rosa Maria Cardoso
Ao lado do senador Pedro Simon (PMDB-RS), João Vicente Goulart (esq.) entrega dossiê à coordenadora da Comissão Nacional da Verdade, Rosa Maria Cardoso
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

Uma série de documentos entregues nesta quinta-feira pelo filho do presidente João Goulart à Comissão Nacional da Verdade mostram que o Exército Brasileiro entregou à Argentina em 1976 uma "lista negra" de seus exilados no país vizinho - incluindo o próprio Jango.

Segundo a comissão, estes documentos reforçam as provas da colaboração das ditaduras sul-americanas no marco da Operação Condor, a rede repressiva das ditaduras da América do Sul que contou com o suporte da inteligência dos Estados Unidos.

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Os papéis entregues por João Vicente Goulart revelam que em 1976, ano da morte de seu pai, o Exército Brasileiro solicitou a cooperação das forças de segurança argentinas para saber o paradeiro de quase uma centena de brasileiros exilados no país, entre eles o ex-presidente Jango.

No documento, a terceira divisão do Exército Brasileiro, que comanda as tropas do Sul do País e atua na área na fronteira com Argentina, Paraguai e Uruguai, solicita a cooperação da ditadura argentina, que assumiu o governo depois de um golpe derrubar a então presidente Isabel Martínez de Perón.

Durante a reunião realizada em Brasília, a família Goulart e a Comissão da Verdade reafirmaram que a investigação da morte de Jango não só está centrada nas provas técnicas realizadas após a exumação dos restos mortais, mas também neste tipo de documentos.

Em novembro, o governo determinou a realização de exames nos restos do ex-presidente, derrubado em 31 de março de 1964 por um golpe militar, para esclarecer se foi envenenado em ação da Operação Condor.

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"Além da expectativa dos exames dos laboratórios, queremos continuar e acelerar a investigação do caso João Goulart", afirmou a coordenadora do grupo de trabalho Operação Condor da Comissão, Rosa Cardoso, que recebeu os documentos entregues pelo filho do ex-presidente.

João Goulart morreu em 1976 em um hotel da cidade argentina de Mercedes, vítima de um ataque cardíaco, segundo consta do certificado de óbito expedido sem a realização de autópsia. Essa versão foi desmentida há cinco anos por um antigo agente do serviço secreto uruguaio, que garantiu que Jango foi envenenado em ação da Operação Condor, afirmação ratificada por outros agentes.

Esses testemunhos e um pedido da família, que sempre suspeitou do envenenamento, fizeram a promotoria decidir abrir uma investigação em 2007 para determinar as causas da morte do ex-presidente.

  
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