O empresário Joesley Batista, dono do grupo JBS, apontou em um dos anexos de sua delação premiada à Procuradoria Geral da República (PGR), pedidos de pagamento de propina feitos pelo presidente, Michel Temer, durante as campanhas eleitorais de 2010 e de 2012.
As informações constam no Anexo 9, intitulado "Fatos diretamente corroborados por elementos especiais de prova Michel Temer". O documento, divulgado pelo portal O Antagonista e confirmado pelo jornal Estado de São Paulo, embasou a autorização para abertura de inquérito contra o peemedebista pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
No arquivo, Joesley afirmou que conheceu Temer por meio do ex-ministro da Agricultura Wagner Ross do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em abril ou maio de 2010. "JB [Joesley Batista] e Temer trocaram, então, telefones celulares e passaram a manter relacionamento por interesses comum", aponta trecho do anexo.
Na delação, o empresário ainda relatou ao menos 20 encontros com o chefe de Estado. "Ora nesse escritório [de Temer, em São Paulo], em seu escritório de advocacia, ora na sua residência, ora ainda no palácio do Jaburu".
Segundo o documento, em 2010, "atendendo a um primeiro pedido de Temer", um dos donos da JBS pagou "R$ 3 milhões em propinas", sendo R$ 1 milhão por meio de doação oficial e R$ 2 milhões para a empresa Pública Comunicações, com notas fiscais. Na ocasião, Temer disputou sua primeira eleição como candidato a vice-presidente na chapa liderada por Dilma Rousseff. No mesmo ano, Joesley afirma ter feito o pagamento de R$ 240 mil à empresa Ilha Produções, também com registro em notas fiscais.
Mesmo com a polêmica delação, Temer negou, em pronunciamento, as acusações e afirmou que não irá renunciar à Presidência. "Sei o que fiz e sei a correção dos meus atos. Exijo investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro", ressaltou o presidente.
Nesta sexta-feira (19), o STF liberou o conteúdo na íntegra das delações premiadas dos empresários da JBS, no âmbito da Lava Jato. As delações foram homologadas pelo ministro Luiz Edson Fachin, relator da operação, e contém cerca de duas mil páginas. As oitivas foram gravadas em vídeo.
Um dos principais pontos das delações revelados é a gravação de uma conversa entre Joesley e Temer, onde o presidente concorda com o pagamento de propina ao ex-deputado Eduardo Cunha, que está preso em Curitiba, para mantê-lo em silêncio.
A prova faz parte da investigação que foi aberta contra Temer na Suprema Corte. No arquivo, também foram citados os senadores Aécio Neve (PSDB-MG), afastado do cargo, e Zezé Perrella (PMDB-MG), além da ex-presidente Dilma e o ex-ministro Guido Mantega.