O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), fez nesta quinta-feira uma dura cobrança ao governo do presidente Jair Bolsonaro e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para que façam um esforço concentrado para a aprovação de vacinas contra a covid-19, embora ainda não existam pedidos formulados para registros de imunizantes contra a doença no Brasil.
Sem citar Bolsonaro nominalmente, Doria também classificou como "triste" o que chamou de "distanciamento" do Ministério da Saúde no tratamento do tema das vacinas e da pandemia de coronavírus, que já matou mais de 167 mil pessoas no Brasil.
"O governo federal, através do Ministério da Saúde, deveria colocar todas as suas forças para acelerar a aprovação das vacinas, incluindo a Anvisa. Mesmo como agência independente que é, e é o seu papel ser uma agência de vigilância sanitária independente, mas dadas as circunstâncias que estamos perdendo mais de 500 vidas todos os dias, a prioridade deve ser a vacina", disse Doria em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes.
"Não faz sentido o distanciamento do governo federal, e mesmo do Ministério da Saúde, em relação a este tema. Este deveria ser o tema central do governo federal neste momento, inclusive fazendo coletivas de imprensa como nós fazemos aqui", acrescentou.
"Diante de uma pandemia, é triste ver o descalabro e o distanciamento do governo federal naquilo que deveria ser a sua obrigação prioritária neste momento: proteger a vida dos brasileiros."
Até o momento, a única vacina no mundo a obter uma aprovação regulatória foi a Sputnik V, na Rússia, que foi aprovada pelas autoridades daquele país antes mesmo da realização dos estudos clínicos em estágio avançado, o que levantou questionamentos de especialistas.
No Brasil, não há até agora nenhum pedido de registro formulado junto à Anvisa e existem quatro candidatas a vacina contra covid-19 em testes de Fase 3, a última etapa antes do pedido de registro, no Brasil --a da Pfizer com a alemã BioNTech, a da farmacêutica AstraZeneca com a Universidade de Oxford, a da Johnson & Johnson e a da chinesa Sinovac, cujo estudo clínico no Brasil está sendo liderado pelo Instituto Butantan, ligado ao governo paulista.
Na mesma entrevista coletiva, o presidente do Butantan, Dimas Covas, reiterou que a expectativa é de que os testes com a vacina, batizada de CoronaVac, estejam concluídos até o final deste ano.
"Esperamos que esse dossiê esteja completo até o final deste ano, o que permitirá à Anvisa proceder o registro logo no início do ano que vem", afirmou ele.
Doria, que é desafeto político de Bolsonaro, troca frequentemente farpas publicamente com o presidente por causa da pandemia e, mais recentemente, por causa da CoronaVac. Há poucos dias, Bolsonaro chegou a comemorar como uma vitória pessoal a decisão da Anvisa de interromper os testes com a vacina chinesa devido à morte de um voluntário. A retomada dos testes foi autorizada dois dias depois.