Cotado antes das eleições de 2018 para uma candidatura à Presidência da República, o apresentador Luciano Huck, da Rede Globo, disparou contra a elite brasileira: "adora reclamar, mas na hora de botar a mão na massa, todo mundo sai correndo".
Em palestra no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, por sua sigla em inglês), em Cambridge (EUA), Huck convocou elites a "colocarem a mão na massa" e não "torcerem o nariz" em discussões sobre o abismo social que divide brasileiros ricos e pobres.
"A gente não pode fugir dessa discussão da redução da desigualdade. Muitas vezes você fala e as pessoas fazem cara feia. 'Ah, mas não é assim, não pode usar esse termo'. Claro que pode."
O "ex-quase-presidenciável" repetiu diversas vezes que já viajou o Brasil inteiro nos últimos 20 anos - "dois ou três Estados por semana".
Nas viagens, ele diz, aprendeu a se "preocupar com a geladeira das pessoas".
"Eu super apoio teses liberais para a economia. Mas acho que as teses liberais por si só não vão puxar para a sociedade a dona Marlene, de 46 anos, semi-analfabeta, morando com 6 filhos no sertão do Cariri", afirmou.
"Ela vai precisar de rede de proteção social."
Ministro da Educação
Um ano depois de causar frisson com uma pré-candidatura ao Planalto que acabou não se confirmando, Huck criticou a polarização do país à plateia de estudantes e autoridades que participa do seminário Brazil Conference, organizado por alunos das universidades de Harvard e do MIT.
"A gente tem que derrubar os muros ideológicos, ainda mais num pais tão machucado como é o Brasil hoje em dia", disse. "A gente tem que construir novos modelos econômicos que sejam adequados corretos e coerentes com o tempo que a gente está vivendo."
"Para mim, seria muito mais confortável ficar protegido nos muros do Projac (complexo de produções da Rede Globo) ou da minha casa", diz. "Mas não é isso que vou fazer e estou fazendo. Quero ser um cidadão cada vez mais ativo."
Apesar do discurso totalmente pautado em políticas públicas, o apresentador não comentou abertamente possíveis pretensões de concorrer a cargos eletivos.
Ele se limitou a comentar sua atuação nos bastidores, como articulador do grupo Renova, que nas últimas eleições elegeu 17 dos 123 candidatos novatos que patrocinou.
"Quando a gente abre a caixinha para pensar políticas públicas, é difícil voltar atrás", disse.
Em sua principal menção ao governo de Jair Bolsonaro, criticou o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, enquanto comentava as próprias visitas a escolas públicas pelo país.
"Quando você conversa com pessoas e institutos e fundações, tem tanta gente legal. É só colocar em prática", disse.
E completou: "Não é o que a gente está vendo do nosso ministro da Educação. Não vou entrar em política, mas não dá."
Em outra breve referência ao governo, ele criticou a defesa à posse ou porte de armas.
"Isso não vai resolver problema nenhum de violência, só vai matar mais gente."
Capitalismo e favelas
Huck contou que costuma passar por pelo menos três favelas no trajeto entre sua casa, no bairro do Joá, no Rio de Janeiro, e o aeroporto.
"Pessoalmente, não sei vocês, não tem nenhum país no mundo que eu admire profundamente ou que entenda como país de excelência que ainda tenha favelas", afirmou.
"Tem solução? Claro que tem. Cingapura não tem mais favela."
Em meio às críticas à passividade das elites, o apresentador ressaltou que "não tenho nada contra os apartamentos de milhões de dólares, está tudo certo".
"Quando falo de redução de desigualdades, eu falo de puxar as pessoas lá de baixo."
O apresentador fez ressalvas em meio a um elogio ao sistema capitalista.
"Eu desconheço qualquer sistema que tenha sido mais eficiente que o capitalismo para resgatar gente da pobreza. Comunismo não deu certo. O capitalismo é incrível, mas é que nem uma fera, um leão. Se você não domar ele direito, ele vai nos devorar."