O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, anunciou na noite de terça-feira na tribuna da Câmara que desistiu da indicação para a embaixada em Washington e irá continuar no Brasil como parlamentar.
"Esse aqui que vos fala, filho de militar do Exército brasileiro e deputado federal, que foi zombado por ter, aos 20 anos de idade, um trabalho digno e honesto em restaurante fast-food nos Estados Unidos, diz que fica no Brasil para defender os princípios conservadores, para fazer o tsunami que foi a eleição de 2018, uma onda permanente. Assim, me comprometo a caminhar por São Paulo, pelo Brasil e pelo povo", discursou Eduardo durante a sessão em que foi aprovado o acordo com os Estados Unidos para uso da base de Alcântara (MA).
Desde a semana passada, com o recrudescimento da crise no PSL, Eduardo vinha ficando cada vez mais distante da embaixada nos Estados Unidos. De acordo com uma fonte ouvida pela Reuters, Bolsonaro sabia há algum tempo que dificilmente o governo teria uma vitória no Senado na votação sobre a indicação de Eduardo, e a crise no PSL aumentou esse sentimento.
Na terça-feira, em Tóquio, onde está em visita oficial, o presidente afirmou que estrategicamente para ele seria melhor que Eduardo ficasse no Brasil, mas que a decisão seria tomada pelo filho, que nesta semana se tornou líder do PSL na Câmara. Bolsonaro disse ainda que poderia indicar para o posto Nestor Foster, que é hoje o encarregado de negócios da embaixada.
O presidente afirmou nesta quarta-feira, ainda em Tóquio, que no futuro pode voltar a cogitar a indicação do filho para a embaixada, mas que somente a partir de 2021. "A partir do momento que ele aceitou ser líder ele tem uma tremenda responsabilidade lá no Brasil. Parabéns a ele pela decisão. Quem sabe no futuro a gente volte a esse assunto, mas pelo menos no próximo ano não se discute isso", afirmou.
Ao conversar com jornalistas depois do anúncio, Eduardo afirmou que analisava o assunto há muito tempo, e admitiu que boa parte de seus eleitores era contrária a sua ida para a embaixada.
"Seria um papel muito importante a ser desempenhado, mas agora acredito que aqui no Brasil tenho um papel tão importante quanto a ser desempenhado", afirmou.
Em uma manobra da ala bolsonarista do PSL --que está rachado entre um grupo que apoia o presidente da República e outra metade que se aliou ao presidente da sigla, deputado Luciano Bivar (PE)--, Eduardo foi apontado líder da bancada na Câmara na última segunda-feira, mas disse que isso não foi determinante para sua decisão de ficar no Brasil.
Além de afirmar que não sabe se ficará no cargo em meio às disputas na bancada, ele garantiu não ter vontade de ser líder e de permanecer no cargo no ano que vem, quando a bancada terá que eleger um nome.
"Eu confesso que não tenho vontade de ser líder. Eu ficaria se fosse uma missão, se os colegas pedissem por aclamação, mas não é algo que eu tenha vontade, eu tenho que ter tempo livre para colocar as pautas que eu coloquei aqui", disse.
SEM EMBAIXADOR
Apesar de tentar demonstrar pouco apego à ideia de ser embaixador, Eduardo se empenhou nos últimos três meses, desde que foi indicado pelo pai, para conquistar votos dos senadores, que precisavam apoiar sua indicação. Fez maratonas de conversas, estudou e conversou com embaixadores para se preparar para a sabatina.
Ainda assim, não havia garantia de que conseguiria os votos nem mesmo na Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, primeiro passo para sua aprovação, a ponto de o Palácio do Planalto nem mesmo ter enviado a mensagem com sua indicação ao Senado. Bolsonaro esperava um sinal mais firme de que não perderia a votação.
Senadores ouvidos pela Reuters confirmaram que a situação de Eduardo não era fácil e consideravam que a disputa interna no PSL piorou a situação -- especialmente em uma votação secreta.
O Brasil está sem embaixador em Washington desde abril, quando Sérgio Amaral, indicado ainda por Michel Temer, foi removido do cargo. À época, a intenção do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, era indicar para o posto Nestor Foster, seu amigo e ligado a Olavo de Carvalho, mas foi necessário esperar que Foster fosse promovido a ministro de primeira classe --o equivalente a embaixador--, o que aconteceu em junho.
Foster, no entanto, não foi confirmado no cargo. No início de julho, um dia depois de Eduardo completar 35 anos --idade mínima para o posto--, Bolsonaro então indicou o filho.