Sem contato com a irmã desde o dia 12 de setembro, a administradora de empresas Telma Alminhana Maciel, 32 anos, diz estar calma e confiante em um desfecho positivo na detenção da biológa Ana Paula Maciel, 31 anos, ocorrida durante um protesto do Greenpeace no Ártico. Além dela, mais 29 ativistas foram presos quando dois dos membros da ONG tentaram escalar uma plataforma em protesto contra os planos da Rússia de realizar perfurações no Ártico em busca de petróleo, o que dizem ser uma ameaça ao frágil ecossistema da região. Segundo Telma, a família da gaúcha, que reside em Porto Alegre, não esperava outra atitude dela, considerada radical até mesmo em casa.
"Quem conhece a Ana Paula desde pequena sabe que ela não pode fazer nada diferente disso que ela faz, porque ela é muito engajada nessas causas de proteção. Ela é ativista em casa e chega a ser até radical quando, por exemplo, vamos ao supermercado e trazemos sacolas plásticas. Ela exercita isso diariamente e luta por causas que são justas", relatou Telma.
"Enquanto estamos preocupados em ganhar dinheiro, ter formação, conforto, ela pensa em outras coisas. Eu a conheço muito bem e acho que ela está calma, em nenhum momento pensando em desistir de fazer o que faz. O que angustia é a questão de não ter previsão de retorno, mas já sabíamos que algo ia acontecer, estávamos de sobreaviso", completou a irmã da bióloga.
Os 30 ativistas a bordo do navio seriam interrogados nesta quarta-feira, disse o Greenpeace, um dia após investigadores russos terem aberto um caso criminal de suspeita de pirataria, um crime que pode levar a até 15 anos de prisão. "É absolutamente evidente que eles não são, claro, piratas, mas sob um aspecto formal estavam tentando invadir esta plataforma. É evidente que essas pessoas violaram a lei internacional", ressaltou o presidente da Rússa, Vladimir Putin, em um fórum sobre o Ártico.
Intimidação ao Greenpeace
Para Telma Maciel, está claro que houve uma tentativa de intimidação ao trabalho do Greenpeace. Ela contou que em 2008 a irmã já havia sido presa em uma ação no Caribe, quando acabou deportada ao País.
"Recebi uma ligação do escritório do Greenpeace e eles me disseram que não haverá denúncia formal de pirataria. É uma forma de intimidação, para que as pessoas vejam a ONG com outros olhos. (...) Em meados de 2008, ela foi presa no Caribe por um ato considerado ilegal e ficou detida por dois dias, retornando em seguida. Acredito que agora acontecerá o mesmo", afirmou Telma.
Segundo ela, o Itamaraty está tomando as providências legais possíveis e os interrogatórios são acompanhados por intérpretes. O Greenpeace protesta que as detenções violaram a lei internacional, e a Rússia rebate que a ação na plataforma de petróleo da Gazprom violou a soberania do país.
Cerca de 50 ONGs e aproximadamente 370 mil pessoas de todo o mundo já assinaram pedidos exigindo a libertação da tripulação do navio do Greenpeace. A Gazprom planeja começar a produção de petróleo nessa plataforma no primeiro trimestre de 2014, o que, segundo a ONG, aumenta o risco de um vazamento de petróleo em uma área que contém três reservas naturais protegidas pela própria legislação russa.
Em nota, o Greenpeace "rejeita veementemente a alegação de que houve pirataria por parte do navio Arctic Sunrise, na Rússia. Para a organização, essa acusação é uma tentativa desesperada de justificar a entrada ilegal da Guarda Costeira Russa no navio de campanhas, quando ele estava em águas internacionais."