No ano em que o processo do mensalão, considerado um dos maiores escândalos políticos da história do País, começou a caminhar para um desfecho, com a prisão de parte dos condenados, o Brasil voltou a ser mal avaliado sobre a corrupção no setor público. O País ficou em 72º lugar entre 177 países segundo o Índice de Percepção de Corrupção (IPC), divulgado nesta terça-feira pela Transparência Internacional. A edição deste ano conferiu ao Brasil a nota 42, em uma escala que vai de zero (mais corrupto) a 100 (menos corrupto).
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Em 2012, o Brasil ocupou a 69ª posição entre 176 nações, com nota 43. O ranking é baseado em opiniões de especialistas e pesquisas de 13 entidades internacionais de acordo com o nível de percepção percebida nos governos de cada um desses países.
O resultado deste ano, apesar de apontar uma ligeira queda, foi considerado "estável" pela entidade e posiciona o Brasil em empate técnico com a África do Sul, Bósnia Herzegovina, Sérvia e São Tomé e Príncipe. O País permanece, contudo, atrás de vizinhos sul-americanos, como o Uruguai (19º lugar) e o Chile (22º), e de outros emergentes, como Arábia Saudita e Gana (ambos na 63ª posição).
Imagem negativa
Para o diretor regional para as Américas da Transparência Internacional, Alejandro Salas, a má avaliação "destoa" da posição geopolítica que o País conquistou no cenário internacional nos últimos anos. "A queda na nota foi residual. O que chama atenção, por outro lado, é o descolamento entre a percepção da corrupção sobre o Brasil e sua importância geopolítica", afirmou Salas em entrevista à BBC Brasil.
"Em outras palavras, o País tornou-se, nos últimos anos, uma das economias emergentes mais importantes do mundo, mas, mesmo assim, ainda tem problemas em combater a corrupção", acrescentou ele. "Uma das razões por trás dessa imagem negativa sobre o País tem a ver com a dificuldade do governo de aproveitar o progresso econômico para minimizar as desigualdades sociais. Esse desequilíbrio guarda estreita relação com a corrupção", disse.
Salas, que elogia o julgamento do mensalão, considerado por ele um dos maiores escândalos políticos na história do País, assinalou, no entanto, que o Brasil tem de "garantir o bom funcionamento de suas leis". "O Brasil é hoje o maior adversário de si mesmo. É preciso mostrar que a Justiça funciona e que as leis são cumpridas. Do contrário, a população fica descrente das instituições do País, o que fragiliza a democracia."
"Nesse sentido, deve haver uma combinação de esforços entre governos, partidos políticos e população para combater a corrupção", conclui Salas.
Apesar da avaliação ruim, o Brasil ainda está à frente de outros Brics (com exceção da África do Sul, com quem divide a liderança) quando se analisa o nível de corrupção percebida no setor público. No índice deste ano, a China obteve 40 pontos (80º), a Índia ganhou 36 (94º) e a Rússia ficou com 28 (127º).
Já entre os vizinhos do continente americano, o Brasil conquistou a 13ª posição entre 32 países, atrás do Canadá, Estados Unidos e Cuba, mas à frente da Colômbia, México, Argentina e Venezuela.
Resultados gerais
No quadro geral, Dinamarca e Nova Zelândia dividiram o topo do ranking neste ano, ambos com 91 pontos. Em 2012, os dois países, mais a Finlândia, foram listados como os menos corruptos do mundo. Na outra ponta, três nações voltaram a aparecer na lanterna: Afeganistão, Coreia do Norte e Somália, cada uma com oito pontos.
Segundo a Transparência Internacional, cerca de 70% dos 177 países que compõem o ranking obtiveram avaliação inferior a 50 pontos, o que indicaria a dificuldade no combate à corrupção.
Entre os destaques no ranking deste ano, segundo Salas, está a Espanha, que caiu 10 posições, do 30º para o 40º lugar, na comparação com 2012. Por outro lado, a Grécia, que ainda se vê às voltas com a crise financeira, subiu 14 colocações (do 94º para 80º lugar), em parte devido às medidas anticorrupção executadas pelo governo do país, destacou Salas.
"Nenhum governo têm o monopólio de combate à corrupção. Para combatê-lo, é preciso um trabalho duradouro e consistente", afirmou ele à BBC Brasil.
Índice
Criado em 1995, o Índice de Percepção da Corrupção é divulgado anualmente pela Transparência Internacional, entidade com sede em Berlim, na Alemanha. O ranking é considerado a mais importante avaliação sobre como a corrupção é percebida no setor público de cada país.
Como a corrupção é difícil de ser medida, uma vez que inexistem dados estatísticos sobre o montante de recursos desviados, escolheu-se estabelecer a classificação com base em pesquisas e opiniões de analistas de 13 entidades internacionais, como o Banco Mundial e do Fórum Econômico Mundial. A partir de 2012, a Transparência Internacional decidiu mudar a metodologia da pesquisa, o que impede a comparação com pesquisas de anos anteriores.