Em carta, Lula se diz preso político e reafirma candidatura para acabar com "sofrimento do povo"

8 jun 2018 - 22h17
(atualizado às 22h46)

Um preso político, tratado como inimigo pela Justiça, afastado da convivência com o povo brasileiro, candidato à Presidência para acabar mais uma vez com o "sofrimento do povo brasileiro", é como o ex-presidente Luiz Inácio Lula se apresentou nesta sexta-feira, em uma carta enviada a militantes no lançamento da sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto.

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é carregado por simpatizantes em São Bernardo do Campo
07/04/2018 REUTERS/Leonardo Benassatto
Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é carregado por simpatizantes em São Bernardo do Campo 07/04/2018 REUTERS/Leonardo Benassatto
Foto: Reuters

"Não tenho dúvida de que me puseram aqui para me impedir de conviver com minha grande família: o povo brasileiro. Isso é o que mais me angustia, pois sei que, do lado de fora, a cada dia mais e mais famílias voltam a viver nas ruas, abandonadas pelo Estado que deveria protegê-las", escreveu o ex-presidente na carta lida pela ex-presidente Dilma Rousseff em Contagem, zona metropolitana de Belo Horizonte.

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Preso há dois meses em Curitiba por causa de uma condenação na operação Lava Jato, Lula não compareceu ao ato montado pelo PT para mostrar unidade do partido em torno da sua candidatura. No palco, as principais lideranças do partido, parlamentares, e quatro dos cinco governadores petistas --Camilo Santana (CE) foi o único que não compareceu.

Cerca de 2 mil pessoas lotaram um auditório para ouvir quase três horas de discursos de lideranças petistas.

Quando Dilma começou a ler o que Lula batizou de "Manifesto ao Povo Brasileiro", o silêncio tomou conta do local.

"Contra todas as injustiças, tenho o direito constitucional de recorrer em liberdade, mas esse direito me tem sido negado, até agora, pelo único motivo de que me chamo Luiz Inácio Lula da Silva. Por isso me considero um preso político em meu país", escreveu o ex-presidente.

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"Quando ficou claro que iriam me prender à força, sem crime nem provas, decidi ficar no Brasil e enfrentar meus algozes. Sei do meu lugar na história e sei qual é o lugar reservado aos que hoje me perseguem. Tenho certeza de que a Justiça fará prevalecer a verdade."

Mais uma vez, Lula afirmou que o condenaram sem provas, sem o direito de defesa e sem ser tratado como um cidadão comum, mas como inimigo.

"É para acabar com o sofrimento do povo que sou novamente candidato à Presidência da República. Tive muitas candidaturas em minha trajetória, mas esta é diferente: é o compromisso da minha vida. Quem teve o privilégio de ver o Brasil avançar em benefício dos mais pobres, depois de séculos de exclusão e abandono, não pode se omitir na hora mais difícil para a nossa gente", disse.

"Sei que minha candidatura representa a esperança, e vamos levá-la até as últimas consequências, porque temos ao nosso lado a força do povo."

Lula lidera as pesquisas de intenção de voto para o Planalto na eleição de outubro, mas pode ficar impedido de concorrer devido à Lei da Ficha Limpa que torna inelegíveis condenados por órgãos colegiados da Justiça, como aconteceu com o petista.

No texto, Lula diz que quer ser presidente porque já provou que o Brasil pode ser um país melhor para todos e que seu governo foi "um tempo de paz e prosperidade, como nunca antes tivemos na história".

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"Acredito, do fundo do coração, que o Brasil pode voltar a ser feliz. E pode avançar muito mais do que conquistamos juntos, quando o governo era do povo", escreveu.

O ex-presidente avançou ainda no que deve ser seu programa de governo, caso possa manter sua candidatura. Afirma que impedirá a privatização da Eletrobras, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Afirmou que a Petrobras "não foi criada para gerar ganhos para os especuladores de Wall Street", mas para garantir a autossuficiência de petróleo no país e com preços compatíveis com a economia popular.

"Sonho ser o presidente de um País em que o julgador preste mais atenção à Constituição e menos às manchetes dos jornais. Em que o Estado de Direito seja a regra, sem medidas de exceção. Sonho com um país em que a democracia prevaleça sobre o arbítrio, o monopólio da mídia, o preconceito e a discriminação. Sonho ser o presidente de um país em que todos tenham direitos e ninguém tenha privilégios", escreveu.

Ao final de sua carta, o ex-presidente fez um apelo à união das esquerdas em torno de sua candidatura. Disse ser necessário unir as "forças democráticas" do país em um projeto "mais solidário e mais justo" e que tem certeza que todos estarão "juntos no final da caminhada".

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"Daqui onde estou, com a solidariedade e as energias que vêm de todos os cantos do Brasil e do mundo, posso assegurar que continuarei trabalhando para transformar nossos sonhos em realidade. E assim vou me preparando, com fé em Deus e muita confiança, para o dia do reencontro com o querido povo brasileiro. E esse reencontro só não ocorrerá se a vida me faltar", concluiu.

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