A cidade mineira de Janaúba viveu uma "tragédia sem precedentes", diz o prefeito Carlos Isaildon Mendes, e está pedindo "com urgência" a doação de antibióticos e insumos hospitalares para queimaduras depois que um segurança ateou fogo em crianças, em professores e em si próprio em uma creche da rede municipal de ensino, matando ao menos quatro crianças e ferindo muitas outras.
"A cidade é pequena e rapidamente se esgotaram os materiais para atender casos de queimadura nos hospitais", alerta Mendes. Ele diz que prefeituras da região, próximo a Montes Claros, no norte de Minas Gerais, se uniram para enviar medicamentos e oferecer ajuda e vagas em hospitais.
Ainda assim, na tarde desta quinta-feira circulava no Facebook uma lista feita pela diretora do Hospital Regional de Janaúba especificando os medicamentos necessitados com urgência, e a própria prefeitura divulgou entre jornalistas uma lista escrita a mão discriminando antibióticos imprescindíveis para atender as vítimas.
O ataque, na manhã desta quinta-feira, feriu cerca de 40 crianças e funcionários. Mais de 20 pessoas foram levadas para hospitais, algumas em estado grave - como o próprio vigia, que morreu algumas horas depois de ser internado, coberto por queimaduras.
Luto
De acordo com Mendes, as crianças haviam acabado de tomar banho e estavam prontas para o almoço quando o vigia, identificado como Damião Soares dos Santos, de 50 anos, teria entrado na sala de aula, espalhado combustível e começado o incêndio.
Batizado de Gente Inocente, o Centro Municipal de Educação Infantil é um berçário maternal que atende a 82 crianças de até cinco anos em Janaúba, cidade de cerca de 75 mil moradores no norte de Minas Gerais. Fica no bairro de Barbosa, uma região de baixa renda na cidade.
"Crianças inocentes morrerem assim sem culpa de nada é uma coisa muito dramático. Estamos todos em choque. Era algo impossível de prever", diz Mendes, que declarou sete dias de luto na cidade.
O prefeito conta que havia cerca de 30 pessoas na sala no momento do ataque, sendo 23 crianças e 7 adultos, professores ou assistentes de sala.
O fogo deixou a sala toda queimada, com livros carbonizados e pedaços de objetos e tecidos chamuscados espalhados pelo chão. Enquanto a notícia corria, mães e pais das crianças se desesperavam do lado de fora aguardando socorro.
O vigia Damião Soares dos Santos estava na folha de pagamento da prefeitura já desde 2008. Mendes não sabe precisar há quanto tempo ele trabalhava na escola, mas diz que não havia qualquer registro de transtorno psiquiátrico.
O funcionário teria chegado à escola pedindo para falar com a professora do jardim de infância, que, segundo relatos iniciais, imaginou que ele entregaria um atestado médico para justificar a ausência dos dias anteriores.
"Não tinha nenhum motivo para não deixá-lo entrar. E ele entra e espalha esse combustível, que ainda não sabemos se era álcool ou gasolina", diz Mendes.
A professora está internada em estado grave.
'Praça de guerra'
Mendes descreveu o Hospital Regional de Janaúba, para onde a maioria das vítimas foi levada inicialmente, como uma "praça de guerra".
Os insumos para tratar queimaduras acabaram rapidamente e outros hospitais da região foram mobilizados para enviar reforços ou receber feridos.
As vítimas em estado mais crítico foram levados para Montes Claros, a 130 quilômetros, e Belo Horizonte, a 557 quilômetros. O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, chegou à cidade para acompanhar o socorro e decretou luto de três dias no estado.
Perguntado pela BBC Brasil sobre como havia ficado a sala de aula, um funcionário da prefeitura que esteve na creche após o ataque afirmou que não teve coragem de entrar. "Não sou macho o suficiente para isso."
Funcionários da escola não estão concedendo entrevistas por estarem todos "muito traumatizados", de acordo com a prefeitura.
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