Wesley Batista, CEO da JBS e um dos delatores da nova fase da Lava Jato, afirmou num e-mail a funcionários nos Estados Unidos que os negócios da empresa no exterior foram construídos sem "lapsos éticos".
Mas, ponderou Wesley, no Brasil "erros foram cometidos quando se envolveram com o setor público". "Não nos orgulhamos disso", afirmou no comunicado interno, escrito em inglês.
O texto foi enviado na tarde de sexta-feira aos "membros do time" nos EUA e tem como assunto "uma importante mensagem de Wesley Batista". Depois de pedir desculpas sinceras aos funcionários e às famílias, a mensagem informa que o acordo de delação premiada assinado com a Procuradoria Geral da República do Brasil foi validado.
Apesar de assinada por Wesley Batista, a mensagem foi distribuída pelo departamento de comunicação da JBS depois que as delações dos donos e de cinco executivos da empresa colocaram sob suspeita o presidente Michel Temer, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e outras dezenas de políticos brasileiros.
Diferentemente do irmão Joesley, Wesley falou à Procuradoria Geral da República apenas sobre um nome: o ex-governador do Mato Grosso Silval Barbosa.
Criado pelo patriarca da família há mais de 60 anos, o grupo comandado pelos Batista se tornou a maior empresa processadora de carne do mundo durante as gestões do PT no Planalto. Nos últimos anos, se viu alvo de cinco operações da Polícia Federal, que investigam pagamento milionário de propinas a agentes públicos.
Os donos do grupo decidiram assinar um acordo de delação premiada no qual afirmaram à Procuradoria Geral da República terem gravado o presidente Michel Temer dando aval para comprar o silêncio do deputado cassado e ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), depois que ele foi preso na operação Lava Jato.
Temer, que virou investigado da operação, nega ter dado qualquer tipo de aval, afirma que jamais tentou evitar uma possível delação de Cunha e diz que a gravação foi clandestina.
Em pronunciamento neste sábado, o presidente disse que entrará com uma petição no Supremo para suspender o inquérito do qual é alvo "até que seja verificada a autenticidade da gravação".
Boa vontade
Na delação, Joesley Batista afirmou aos procuradores que como "controlador do maior grupo empresarial privado não-bancário do país", procurava obter "boa vontade do conjunto da classe política" com a empresa.
Por isso, disse, esforçava-se para atender a maioria de pedidos de dinheiro de políticos e partidos, para obter "facilidade em caso de necessidade ou conveniência" e "evitar antipatia".
"Reconhecemos esses erros e, mais do que isso, estamos fazendo um compromisso para nunca mais comprometer nossos valores e crenças. Como CEO desta empresa, eu, pessoalmente, me comprometo com cada um de vocês que farei tudo o que estiver ao meu alcance para corrigir e evitar que os erros do passado ocorram novamente", afirmou Wesley na mensagem enviada aos funcionários.
No e-mail, o empresário anuncia que entre as ações a serem tomadas imediatamente estão fortalecer os protocolos de compliance e governança da JBS por meio de profissionais independentes, para assegurar que as melhores práticas sejam implementadas.
O empresário pediu ainda para que os funcionários fiquem "absolutamente focados" nas responsabilidades do dia a dia. "Para deixar claro, a JBS é uma empresa de alimentos forte e global com 235 mil funcionários em 23 países. Estou confiante de que esses esforços vão resultar numa JBS ainda melhor e mais forte no futuro".
De acordo com o jornal O Globo, o grupo teria contratado um escritório de advocacia nos EUA para negociar um possível acordo de leniência com o Departamento de Justiça norte-americano.
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