Embaixada da China chama de "racista" publicação de Weintraub; ministro rebate

6 abr 2020 - 09h44
(atualizado às 12h23)

A embaixada da China no Brasil divulgou nota em sua conta no Twitter em que afirma repudiar e classifica de "racista" publicação feita pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, na qual ele ridiculariza o sotaque de chineses falando português, mas o ministro rebateu a acusação e disse que só pedirá desculpas se a China enviar ao Brasil respiradores a preço de custo.

Ministro da Educação, Abraham Weintraub, no Palácio do Planalto
09/04/2019 REUTERS/Adriano Machado
Ministro da Educação, Abraham Weintraub, no Palácio do Planalto 09/04/2019 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

No texto publicado no Twitter no fim de semana, ao lado de uma imagem da capa de um gibi da Turma da Mônica sobre o país asiático, o ministro escreve imitando a fala do personagem Cebolinha, que troca a letra R pela letra L, e ironiza os chineses.

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"Geopolíticamente, quem podeLá saiL foLtalecido, em teLmos Lelativos, dessa cLise mundial? PodeLia seL o Cebolinha? Quem são os aliados no BLasil do plano infalível do Cebolinha paLa dominaL o mundo? SeLia o Cascão ou há mais amiguinhos?", ironizou Weintraub na publicação. O ministro posteriormente apagou a postagem.

Em resposta, a embaixada da China, país que é o principal parceiro comercial do Brasil e onde foi detectado inicialmente o novo coronavírus, disse que as declarações do ministro são "completamente absurdas e desprezíveis" e "têm cunho fortemente racista e objetivos indizíveis, tendo causado influências negativas no desenvolvimento saudável das relações bilaterais China-Brasil".

"O lado chinês manifesta forte indignação e repúdio a esse tipo de atitude", afirmou a embaixada na nota nesta segunda-feira. "A maior urgência neste momento é unir todos os países numa proativa cooperação internacional para acabar com a pandemia com a maior brevidade, com vistas a salvaguardar a saúde pública mundial e o bem-estar da humanidade."

Também no Twitter, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, disse esperar uma declaração oficial do governo brasileiro sobre os comentários de Weintraub.

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"O lado chinês aguarda uma declaração oficial do lado brasileiro sobre as palavras feitas pelo ministro da Educação, membro do governo brasileiro. Nós somos cientes de que nossos povos estão do mesmo lado ao resistir às palavras racistas e salvaguardar nossa amizade", escreveu o diplomata.

Procurado, o Ministério da Educação disse que não responde a demandas relacionadas à conta do ministro no Twitter.

LEILÃO DE RESPIRADORES

Weintraub não respondeu de imediato a pedidos por comentários, mas em entrevista à Rádio Bandeirantes, o ministro acusou o governo chinês de não alertar o mundo sobre a necessidade de respiradores causada pelo coronavírus para posteriormente leiloar esses equipamentos.

O ministro também rebateu as acusações de racismo, disse que não considera que sua publicação tenha sido ofensiva --embora a tenha apagado-- e disse que pedirá desculpas se a China enviar ao Brasil 1 mil respiradores a preço de custo, que ele disse estarem faltando nos hospitais universitários e outros sob responsabilidade do ministério.

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"Falar que eu sou racista, é uma acusação que se fosse um brasileiro ia ter que provar na Justiça, como alguns que me chamaram de racista aí vão ter que provar na Justiça que eu sou de fato racista, porque é uma acusação grave", disse na entrevista.

"Eu sou brasileiro, então eu vou fazer o seguinte, o meu acordo aqui: eu vou lá, eu peço desculpas e falo 'por favor, me perdoem pela minha imbecilidade'. A única condição que eu peço é dos 60 mil que eles já estão disponível, os respiradores, eles vendam mil respiradores para o MEC para salvar vida de brasileiro pelo preço de custo... Manda a embaixada colocar os mil respiradores nos meus hospitais e eu vou lá na embaixada e falo 'eu sou um idiota'."

O ministro disse ainda que fez a publicação em um momento de "indignação" e disse que os chineses "estão ganhando dinheiro em cima de vida humana, fazendo leilão".

Além de ser maior parceira comercial do Brasil, a China também concentra a esmagadora maioria da produção mundial de equipamentos de proteção mundial para deter o vírus, como máscaras, respiradores, produtos essenciais no tratamento de casos graves acometidos pela Covid-19, doença causada pelo coronavírus.

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O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, já admitiu dificuldade para comprar respiradores e outros insumos necessários no combate à doença.

A embaixada da China havia reagido anteriormente a comentários no Twitter do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho de Bolsonaro e presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, que responsabilizou o país asiático pela pandemia de coronavírus.

Após esse episódio, Bolsonaro teve uma conversa por telefone com o presidente da China, Xi Jinping, e afirmou que, na ocasião, reforçou "laços de amizade" entre os dois países.

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