O fotógrafo Leonardo Merçon percorria em meados de novembro o litoral de Regência, no norte do Espírito Santo, quando se deparou com uma situação tensa.
Um temporal com rajadas de vento formou ondas grandes, e a maré começou a levar a faixa de areia da praia, ameçando dezenas de ninhos de tartarugas monitorados pelo projeto Tamar, que tem uma base no local.
"Fomos a Regência em uma expedição para refazer o caminho de um naturalista alemão (o príncipe de Wied-Neuwied, Alexander Philipp Maximilian) que visitou o Brasil há 200 anos. Aí nos deparamos com aquela situação. Tivemos que ajudar", disse Merçon.
Ao lado de equipes da Reserva Biológica (Rebio) de Comboios e do projeto Tamar, o time de Merçon se envolveu por quatro dias (17 a 20 de novembro) em um trabalho de resgate dos ovos e transferência dos ninhos ao longo de 37 km de praias.
O esforço resultou na transferência de 60 ninhos das espécies cabeçuda (Caretta caretta) e gigante (Dermochelys coriacea), ambas ameaçadas de extinção. Cerca de outros 50 foram perdidos para a maré.
Cada ninho costuma ter aproximadamente 120 ovos.
O norte do Espírito Santo, ao lado de áreas no Rio de Janeiro e do Nordeste, é a principal região de desova de tartarugas marinhas no litoral brasileiro, por ter areia e água do mar mais quentes.
"O ideal é nunca mexer nos ninhos, pois isso pode mudar a temperatura dos ovos e alterar a taxa de eclosão, mas neste caso não havia outra alternativa", afirmou à BBC Brasil a bióloga do projeto Tamar Flávia Ribeiro.
"Foi um temporal como nunca tinha visto", disse Antônio de Pádua, chefe da Rebio de Comboios.
Para a bióloga do Tamar, tais eventos extremos, como o temporal que levou a faixa de areia embora em Regência, estão se tornando cada vez mais comuns.
"Se ocorrem naturalmente ou por impacto das mudanças climáticas, não se sabe."