Um estudo de pesquisadores do Museu Anne Frank, em Amsterdã, na Holanda, sugere que Anne Frank e sua família podem ter sido descobertos por acaso e não devido a uma denúncia.
De acordo com este novo estudo o endereço teria sido revistado pois os policiais estavam investigando uma possível fraude em cupons de alimentos, eles não estariam procurando judeus escondidos no local.
"A questão sempre foi: quem traiu Anne Frank e os outros que estavam escondidos? Mas esta concentração explícita na traição limita a perspectiva em relação à prisão", informou o museu em uma declaração.
Em 6 de julho de 1942, Anne Frank, seu pai, Otto, sua mãe, Edith, e sua irmã mais velha, Margot, passaram a viver em um esconderijo em um prédio de Amsterdã, o anexo secreto para escapar dos nazistas que ocupavam a Holanda durante a 2ª Guerra Mundial.
Junto com outra família judia, o Van Pels, e um dentista amigo, eles ficaram escondidos por dois anos e um mês até serem descobertos pelos nazistas e mandados para campos de concentração, em agosto de 1944.
Anne morreu de tifo no campo de Bergen-Belsen em março de 1945, com apenas 15 anos. Otto Frank, o pai de Anne, sobreviveu e publicou o diário da filha pela primeira em 1947.
Desde então, a obra foi traduzida para 67 idiomas e já vendeu dezenas de milhões de cópias.
Denúncia anônima?
De acordo com os relatos anteriores, um telefonema anônimo para a Sicherheitsdienst, ou SD (o serviço de segurança alemão) teria revelado detalhes dos cômodos secretos na rua Prinsengracht, 263, em Amsterdã, onde Anne, sua família e amigos se escondiam.
Mas os autores do estudo questionam estas informações.
"Apesar de décadas de pesquisa, a traição como ponto de partida não forneceu nada conclusivo. A nova investigação do Museu Casa de Anne Frank não rejeita a possibilidade de que as pessoas escondidas foram traídas, mas outros cenários também precisam ser levados em conta", disse Ronald Leopold, diretor-executivo do museu.
"Esperamos que mais pesquisadores também vejam as razões para seguir novas pistas."
Analisando os registros da própria Anne Frank em seu diário, no mês de março de 1944, os pesquisadores descobriram que a causa das buscas da polícia que acabaram com a prisão da jovem, sua família e amigos pode ter sido a fraude na distribuição de cupons para alimentos.
A partir do dia 10 de março de 1944 Anne escreveu várias vezes sobre a prisão de dois homens que vendiam cupons de rações de alimentos de forma ilegal. Ela chamada os dois de "B" e "D", as iniciais de Martin Brouwer e Pieter Daatzelaar.
Os dois eram vendedores de uma empresa que funcionava justamente no endereço Prinsengracht, 263, local onde o pai de Anne, Otto, tinha sua empresa antes da guerra e onde a família e amigos se esconderam.
"B e D foram presos, então não temos mais cupons...", escreveu Anne no dia 14 de março.
Isto mostra que a família Frank conseguia parte de seus alimentos atráves destes cupons, vendidos de forma clandestina pelos dois homens.
Documentos da polícia
Os pesquisadores analisaram então antigos documentos da polícia e outros da Justiça e descobriram que as atividades ilegais naquele endereço não se resumiam apenas ao grupo de oito judeus escondidos no anexo secreto atrás de uma estante.
No número 263 da Prinsengracht havia a já citada fraude com cupons de alimentos e também trabalho ilegal.
Outra descoberta que chamou a atenção dos estudiosos é a de que os policiais que descobriram Anne e os outros no esconderijo geralmente não faziam operações para encontrar judeus.
Eles costumavam trabalhar em casos que envolviam dinheiro e joias.
O estudo também notou que a polícia passou mais de duas horas no local, muito mais do que deveria para prender todos os que estavam escondidos no anexo secreto.
"Uma empresa na qual as pessoas trabalhavam de forma ilegal e dois vendedores foram presos por vender cupons de alimentos obviamente corria o risco de atrair a atenção das autoridades", escreveram os pesquisadores.