Nas redes sociais, a promessa é de que será o maior protesto dos últimos dias contra o governo do novo presidente, Michel Temer. A cúpula da Polícia Militar e do governo do Estado de São Paulo chegou a anunciar que impediria o bloqueio de qualquer trecho da avenida Paulista no próximo domingo durante o dia inteiro, mas recuou no início da noite desta sexta-feira.
A nova decisão ocorreu após o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, mediar uma conversa entre manifestantes e a Secretaria da Segurança Pública. A pasta aceitou que a via fosse ocupada após a passagem da tocha paralímpica, prevista para acabar às 14h. O evento era a justificativa usada pela PM para impedir os protestos.
A ação da PM de impedir o bloqueio da via tinha a retaguarda do próprio Temer, que publicou um decreto nesta sexta-feira autorizando as Forças Armadas a atuarem em conjunto com o governo paulista para garantir a segurança da passagem da tocha paralímpica na avenida.
A polícia afirmou que estava preparada para usar a força para retirar os manifestantes caso eles tentassem fechar a via.
O coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos - que faz parte dos grupos que organizam os atos anti-Temer -, afirmou à BBC Brasil que o horário da manifestação foi alterado para evitar confrontos com a polícia. O protesto, antes marcado para as 14h, foi transferido para as 15h e, após a reunião com o prefeito, para as 16h30.
"Vimos que a passagem da tocha vai ser até as 14h07, então mudamos a concentração para não dar motivo para dizerem que nós procuramos o confronto", afirmou Boulos.
A Secretaria da Segurança Pública paulista, por outro lado, disse que ainda assim o protesto não seria permitido por ser no mesmo lugar de um evento internacional marcado há anos. Um dos argumentos dao governo é de que a passagem da tocha poderia, por exemplo, atrasar e coincidir com o horário do protesto.
A pasta informou que, segundo a Constituição, "é obrigatória a comunicação de hora, local e trajeto de atos públicos" e que "não recebeu qualquer comunicado oficial de movimentos organizados dando ciência da realização de manifestações públicas nos próximos dias".
A Polícia Militar sugereriu, inclusive, que os manifestantes se reunissem em outro ponto da cidade, mas os movimentos sociais não atenderam ao pedido.
"Não cabe à Secretaria da Segurança Pública permitir ou não uma manifestação popular porque isso já é garantido pela Constituição. Agora, se eles quiserem conflito, a gente não vai recuar nenhum passo. A manifestação está mantida na Paulista", disse Boulos.
O líder do MTST afirmou ter encaminhado um e-mail para a Secretaria da Segurança Pública nesta sexta, com data, local e horário do protesto, bem como o trajeto que o grupo vai seguir. O grupo disse que não vai aceitar a sugestão de nenhum caminho.
A Secretaria da Segurança Pública informou que não recebeu nenhuma mensagem dos grupos que organizam o protesto e que orientou a polícia a entrar em contato com Boulos para avisá-lo que a manifestação estava proibida.
Violência
As manifestações contra Michel Temer que ocorreram ao longo da semana em São Paulo registraram ao menos dez manifestantes feridos em confrontos com a Polícia Militar. Foram quatro dias seguidos de protestos, e há uma nova manifestação marcada para esta sexta-feira em dois pontos simultâneos - na avenida Paulista (centro) e no largo da Batata (zona oeste) - às 18h.
No protesto de quinta, policiais dispararam bombas perto de bares na praça Roosevelt, no centro, e comerciantes precisaram fechar os estabelecimentos.
No dia anterior, a universitária Deborah Fabri, 19, teve seu olho esquerdo perfurado. Fabri relata que o ferimento foi causado pelo estilhaço de uma bomba de gás e que perdeu a visão do olho ferido.
Durante os protestos, manifestantes depredaram bancos, carros da polícia e fachadas de alguns comércios.
A sede do jornal Folha de S.Paulo, no centro da capital paulista, foi pichada com a palavra "golpista". A intenção dos manifestantes, segundo reportagem do veículo, era criticar a atuação da imprensa durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff.
A Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados pediu para que as Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais onde vão ocorrer protestos se mantenham em alerta para mediar conflitos no "exercício dos direitos de expressão e manifestação, prestar assistência a eventuais vítimas e tomar as providências cabíveis junto aos órgãos do Ministério Público e do Poder Judiciário para apuração de eventuais abusos."
Preso
Na quinta-feira, a polícia prendeu um suspeito de participar da depredação de um carro da Polícia Civil durante manifestação na quarta-feira.
De acordo com a polícia, o homem é procurado pela Justiça por fugir da penitenciária de Hortolândia em janeiro deste ano, onde cumpria pena por furto qualificado. O homem confessou que participou da depredação e será encaminhado para um presídio.