Reconhecido e apontado como torturador e assassino por vários militantes de oposição ao regime militar, o delegado da Polícia Civil de Presidente Prudente (SP) Dirceu Gravina foi ouvido na tarde desta segunda-feira por membros da Comissão Nacional da Verdade (CNV), na sede da presidência da República em São Paulo. Além de Gravina, outros dois agentes de Estado também foram convocados a depor: Carlos Alberto Augusto, que não compareceu, e Roberto Artone, que a comissão descobriu somente hoje ter morrido em janeiro deste ano. Mas Artone já foi ouvido anteriormente pela CNV.
O depoimento de Gravina aconteceu, a pedido dele mesmo, de forma reservada, acompanhado por Rosa Cardoso e José Carlos Dias, membros da CNV, e por Ivan Seixas, membro da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo. Isso provocou manifestações contrárias de ex-presos políticos e de companheiros de presos políticos, mortos ou torturados durante a ditadura militar, que pretendiam acompanhar o depoimento de Gravina. "Temos que respeitar a lei e o direito da pessoa permanecer calada e em caráter reservado", disse Dias.
Gravina tem 65 anos e serviu no Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), em São Paulo, por um período que se acredita ter sido entre 1970 e 1972. Na época, o DOI-Codi era comandado pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Na época, Gravina era conhecido como JC, uma alusão a Jesus Cristo, já que tinha cabelos compridos e lisos, usava cavanhaque e um crucifixo no peito.
Mas o depoimento de Gravina, hoje, não trouxe quaisquer contribuições aos trabalhos da comissão. Segundo José Carlos Dias, o depoimento do delegado trouxe várias contradições. Além disso, ele mencionou Deus e sua crença no Espírito Santo em diversos momentos. "Ele disse que jamais torturou, mas não negou que houvesse tortura. Ele disse que ouvia gritos de pessoas que deveriam estar simulando", falou Dias.
"Ele começou atacando a imprensa, dizendo que a imprensa é militante e que o escracha e difama. A segunda coisa, bastante relevante, é que ele confirmou que o coronel Ustra levava a mulher e as filhas para dentro do DOI-Codi. De resto, ele negou tudo, disse que não tinha tortura, que o coronel Ustra levou a família para fazer oração lá dentro, e coisas desse tipo. Ele falou também que ouviu gritos de simulação lá que era para impressionar os presos e os deixarem desestabilizados", disse Ivan Seixas à Agência Brasil. "Ele mentiu em vários momentos. Por fim, ficou flagrante que ele não vai falar nada", ressaltou Seixas.
Darci Miyaki, que foi torturada por Gravina, queria ter acompanhado o depoimento do delegado. "Fui torturada pelo Gravina, muitas vezes. O que me estranha é que na época o codinome dele era JC, Jesus Cristo. Ele chegava na sala de tortura e dizia que era Deus, ou Jesus Cristo, e que tinha o poder de vida ou de morte sobre você. Há níveis de torturadores e, dentre os torturadores, posso dizer que ele era um sádico", falou ela em audiência pública da CNV, ao mesmo tempo em que Gravina era ouvido em sala fechada.
Gravina é réu em duas ações (uma ação civil pública e outra penal) movidas pelo Ministério Público Federal.