Grupo quer refazer Marcha da Família com Deus 50 anos depois

Protesto convocado para dezenas de cidades no dia 22 de março busca mobilização social “em defesa da fé, família e pátria” e pede uma “intervenção militar constitucional”

11 mar 2014 - 09h41
(atualizado às 10h43)
Panfleto que circula pela internet convoca a "Marcha da Família com Deus II - O Retorno": "Há cinquenta anos no dia 19 de março de 1964, nossos pais e avós foram as (sic) ruas e conseguiram a redenção do povo brasileiro. Eles tiveram coragem. Agora é a nossa vez!!!"
Panfleto que circula pela internet convoca a "Marcha da Família com Deus II - O Retorno": "Há cinquenta anos no dia 19 de março de 1964, nossos pais e avós foram as (sic) ruas e conseguiram a redenção do povo brasileiro. Eles tiveram coragem. Agora é a nossa vez!!!"
Foto: Facebook / Reprodução

Em março de 1964, cerca de um milhão de pessoas saíram às ruas do Brasil em uma série de protestos contra aquilo que consideravam ser a ameaça comunista corporificada no governo do presidente João Goulart. As mobilizações, que ficaram conhecidas como "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", antecederam o golpe militar de 1964, que, poucas semanas depois, abriu o período ditatorial brasileiro.

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Hoje, em flerte com teorias cíclicas da História, um movimento com motivações que ecoam esses gritos pré-1964 se organiza em torno da sua reedição. Através do Facebook e outras redes sociais, ativistas críticos da esquerda política e defensores do que consideram os "valores da vida e da família" organizam e convocam para o dia 22 de março a “Marcha da Família com Deus II – O retorno!”.

No início de março, quando estava aberta a público, a página do evento batia pouco acima dos 2,5 mil confirmados para as marchas convocadas para dezenas de cidades de todo o País. Nesta segunda-feira, era possível visitar a página fechada do grupo, na qual havia 2,6 mil membros. Uma outra página da mesma rede convoca para o "22 de Março - SP e todo o Brasil contra o Comunismo."

São números sensivelmente inferiores aos de 1964, mas as causas são similares. “Marcha pacifica contra tudo o que o comunismo e a cultura da morte tem desenvolvido e tem tentado em nosso país para destruir os valores da vida e da família”, definia a convocatória em tom similar às causas anticomunista e de defesa da “família” dos protestos de 1964.

“Marcharemos em favor da família onde a família possa ter seus direitos preservados exigiremos a criação do Ministério da Família e o seu respeito dentro da sociedade e mostrar nossa rejeição a todos os comunistas e esquerdistas a todas as formas de leis que impõe uma ditadura homossexual em cima de nós, mostrar que rejeitamos a PL 122 e todas as formas grantescas e comunistas contra a família", completava o texto disponível até a última semana.

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Imagem recria a bandeira brasileira em crítica à "corrupção e safadeza"
Foto: Facebook / Reprodução

Evento nacional a favor da "Intervenção militar constitucional"

As páginas da internet ligadas à organização do evento divulgam uma lista de locais escolhidos para a concentração no dia 22. A maioria dos pontos são endereços do Exército ou da Polícia, mas há também locais públicos. Em São Paulo, o protesto anticomunismo foi convocado para as 15h com saída na Praça da República em direção à Praça da Sé. No Rio de Janeiro, o evento partirá no mesmo horário da Candelária.

Além do grupo nacional, há páginas regionais, tais como os dos Estados do Rio Grande do Sul e do Paraná e das cidades de Lavras e Itajubá (MG). "Somos a favor de Intervenção Militar, que é diferente de Governo, Regime ou Ditadura Militar (do qual em partes não aceitamos), a Intervenção tem como utilidade e finalidade dar ao Exército o direito de tratar político corrupto como ladrão e mandar para a prisão, desde prefeito até mesmo à Dilma!", dizia o texto do grupo paranaenese disponível nesta segunda-feira.

"A única causa que deve mover as pessoas a participarem da Marcha é a manifestação da unidade do pensamento conservador/liberal no Brasil, já que hoje esse são os valores predominantes no país - basta verificar a aceitação massiva das declarações da apresentadora Rachel Sheherazade, por exemplo", afirmou ao Terra o gaúcho Jorge Henrique dos Santos, 31 anos, que tem interesse em participar da Marcha caso ela seja um evento coordenado em várias cidades.

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Cartaz convoca "os bons" para "Marcha Contra Corrupção"
Foto: Facebook / Reprodução

"A Marcha de 1964 nada mais foi do que a consequência lógica de um governo corrupto e que visava instaurar no Brasil o comunismo - semelhante ao governo petista. Com a Graça de Deus, os militares de 1964 entenderam seu dever de defender a Constituição e tomaram de forma legítima o governo brasileiro."

De acordo com informações disponíveis até o final da semana passada, a organização nacional da Marcha tinha oito organizadores – quatro dos quais são apresentados como residentes fora do Brasil. O Terra buscou contato com estes cidadãos – entre os quais há moradores de Paris (França), Caracas (Venezuela), Moscou (Rússia), e Nova York (Estados Unidos) -, mas não havia obtido resposta até o fechamento desta matéria.

Fonte: Terra
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