O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que viajará em 2024 para a Guiana, país que tem enfrentado um clima de tensão em meio à disputa com a vizinha Venezuela, que quer anexar a região conhecida como Essequibo, conhecida por suas riquezas em ouro, diamantes e petróleo.
A declaração de Lula foi dada durante o programa "Conversa com o Presidente", na terça-feira (5/12). Ele disse que planeja ir à Guiana para participar de uma reunião dos países do Caricom (Comunidade do Caribe) para falar sobre democracia.
"No ano que vem, eu tenho duas viagens que quero fazer: uma é para uma reunião da União Africana, dos 54 países da África, que vai ser em Addis Ababa, na Etiópia; e a outra é na Guiana, uma reunião dos países do Caricom (Comunidade do Caribe). Essas eu quero participar porque são coisas que tenho interesse de falar para eles sobre democracia, sobre o sistema ONU, sobre financiamento", declarou Lula.
Essa afirmação do presidente ocorre em um período de tensão que levou o Brasil a colocar tropas e diplomatas de prontidão na região de fronteira entre Venezuela e Guiana.
O Ministério da Defesa confirmou o envio de 28 veículos blindados para Roraima, Estado que está em alerta por conta dessa disputa entre os dois países.
A movimentação desses veículos, segundo a pasta, já estava prevista anteriormente em operações contra o garimpo na região. Mas agora esses veículos também ficarão à disposição para uma possível necessidade em meio a conflito dos vizinhos.
No último domingo (3/12), os venezuelanos votaram a favor da reivindicação da região de Essequibo, uma área controlada pela Guiana e conhecida por suas riquezas em ouro, diamantes e petróleo.
Essequibo — também conhecido como Guiana Essequiba — é um território a oeste do rio Essequibo, no norte da América do Sul, que compreende 159 mil quilômetros quadrados. A área é rica em recursos naturais e florestais e disputada entre a Venezuela e a Guiana.
O referendo aprovado pelos venezuelanos, proposto pelo governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, inclui a criação do Estado de Guiana Esequiba como parte do território da Venezuela, além de um plano para conceder cidadania venezuelana aos seus habitantes.
O presidente Lula comentou sobre o tema no último domingo (3/12). Ele disse à imprensa que espera bom senso nessa tensão entre os países vizinho.
"O que a América do Sul não está precisando é de confusão. Não se pode ficar pensando em briga. Espero que o bom senso prevaleça, do lado da Venezuela e do lada Guiana", disse.
Lula afirmou que não acredita que o imbróglio entre os dois países leve a um enfrentamento.
"A humanidade deveria ter medo de guerra. Só faz guerra quando falta bom senso. Vale mais a pena uma conversa do que uma guerra".
"Se tem uma coisa que estamos precisando para crescer e para melhorar a vida do nosso povo, é a gente baixar o facho, trabalhar com muita disposição de melhorar a vida do povo, e não ficar pensando em briga, não ficar inventando história", acrescentou o presidente.
A Guiana, que no período recente se destacou por seu avanço econômico, tem manifestado preocupação com esse debate na Venezuela.
A reação da Guiana
O governo da Guiana disse que permanecerá "atento" à situação após o referendo no qual os venezuelanos aprovaram a reivindicação da região de Essequibo.
"É claro que nosso monitoramento deve ser sempre de alto nível. Embora não acreditemos que o presidente (Nicolás) Maduro ordene uma invasão, ele pode fazer algo que é imprevisível", afirmou o ministro das Relações Exteriores da Guiana, Hugh Todd, à agência de notícias AFP após o referendo.
Anteriormente, no dia da votação, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, explicou em entrevista ao programa Newshour, da BBC, que leva a sério a retórica e a atitude das autoridades venezuelanas sobre o assunto - que, segundo ele, não tem sido positiva.
"A segunda questão tem a ver com comportamento imprudente e aventureiro. Este tipo de retórica e o referendo podem levar a muitas circunstâncias, pessoas agindo por conta própria, alimentando sentimentos públicos sobre uma questão em torno da qual se está tentando criar um conflito", disse.
Irfaan Ali também pediu a Cuba que exorte a Venezuela a garantir que a região continue sendo uma zona de paz, segundo reportagens do jornal local Stabroek News.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) havia afirmado inicialmente que foram contabilizados 10.554.320 votos, sem esclarecer se correspondiam ao mesmo número de eleitores ou se eram contados como 5 votos por eleitor em referência às 5 diferentes perguntas que foram feitas no referendo.
Na segunda-feira (4/12), no entanto, o presidente da CNE, Elvis Amoroso, explicou que mais de 10,4 milhões dos 20,7 milhões de eleitores elegíveis votaram na consulta popular.
Após reações negativas de outros países, incluindo os EUA, Maduro declarou que o assunto deve ser resolvido sem interferência externa. "Estados Unidos, eu aconselho, (fiquem) longe daqui. Deixem que a Guiana e a Venezuela resolvam este assunto em paz", declarou.
O crescimento econômico da Guiana
O embate sobre Essequibo ocorre justamente no período em que a Guiana chama a atenção do mundo por seu crescimento econômico.
Na última década, a Guiana encontrou enormes quantidades de petróleo e gás nas suas águas costeiras.
Atualmente, o país possui reservas de cerca de 11 bilhões de barris. Isso coloca a Guiana entre os 20 primeiros em termos de potencial, uma categoria que inclui países como a Noruega, o Brasil e a Argélia.
O pequeno país, que faz fronteira com a Venezuela, o Brasil e o Suriname, no nordeste da América do Sul, possui atualmente a economia que mais cresce no mundo.
A bonança do petróleo transformou a economia da Guiana. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), cresceu 62% no ano passado e deverá somar mais 37% este ano. Essa é a taxa de crescimento mais rápida em qualquer lugar do mundo.
Embora a Guiana seja do tamanho da Grã-Bretanha, tem uma população de apenas 800 mil pessoas. A maior parte do seu território é de floresta tropical.
Portanto, o potencial de crescimento econômico per capita é enorme, e já subiu acentuadamente.
Em 2015, quando a grande petrolífera norte-americana Exxon fez a sua primeira descoberta em águas da Guiana, o produto interno bruto per capita era de US$ 11 mil dólares (cerca de R$ 55 mil). Este ano, o FMI prevê que ultrapassará os US$ 60 mil (cerca de R$ 300 mil).