Indignação e pressão por apuração após morte de vereadora

15 mar 2018 - 14h09
(atualizado às 14h12)

ONU, Anistia Internacional e classe política cobram esclarecimento do assassinato de Marielle Franco. Atos públicos são convocados em várias capitais brasileiras.O assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, do PSOL, causou indignação entre autoridades, associações de classe e ONGs e ativistas de direitos humanos nesta quinta-feira (15/03).

Vidas negras importam: multidão em protesto diante da Câmara dos Vereadores
Vidas negras importam: multidão em protesto diante da Câmara dos Vereadores
Foto: DW / Deutsche Welle

Atos públicos em protesto contra o assassinato foram convocados em várias capitais brasileiras. Desde a manhã, uma multidão ocupou a frente da Câmara dos Vereadores do Rio. Entre os gritos dos manifestantes, "Sem hipocrisia, essa polícia mata pobre todo dia".

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O presidente da República, Michel Temer, afirmou que o assassinato de Marielle e de seu motorista, Anderson Gomes, é "inaceitável e inadmissível". Em vídeo, Temer classificou o crime de atentado ao Estado de Direito e à democracia.

O presidente afirmou que o governo vai acompanhar as investigações e quer solucionar o caso no menor prazo possível. O Ministério de Segurança Pública colocou a Polícia Federal à disposição para auxiliar na investigação. O ministro Raul Jungmann já acionou a PF e irá ao Rio junto com o diretor do órgão, Rogério Galloro.

No Twitter, a palavra Marielle estava em segundo lugar entre os trend topics, que indicam os assuntos mais comentados. As hashtags utilizadas eram #NãoFoiAssalto e #MariellePresente.

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Esclarecimento do crime

A ONU no Brasil manifestou consternação com o assassinato da ativista dos direitos humanos e disse esperar rigor na investigação do caso e uma breve elucidação, com responsabilização pela autoria do crime. "Marielle era um dos marcos da renovação da participação política das mulheres, diferenciando-se pelo caráter progressista em assuntos sociais no contexto da responsabilidade do Poder Legislativo local", afirmou o ONU.

A Anistia Internacional também pediu uma investigação imediata e rigorosa do assassinato. "Marielle Franco é reconhecida por sua histórica luta por direitos humanos, especialmente em defesa dos direitos das mulheres negras e moradores de favelas e periferias e na denúncia da violência policial", afirmou a Anistia. "Não podem restar dúvidas a respeito do contexto, motivação e autoria do assassinato de Marielle Franco."

O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cláudio Lamachia, disse que o assassinato de Marielle é "um crime contra toda a sociedade e ofende diretamente os valores do Estado Democrático de Direito. O Conselho Federal da OAB acompanha o caso e espera agilidade na apuração e punição exemplar para os grupos envolvidos".

O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, lamentou o assassinato e disse estar acompanhando a investigação com as forças federais.

"Lamento profundamente esse ato de extrema covardia contra a vereadora Marielle Franco, uma mulher admirável, guerreira e atuante, de liderança inequívoca, que tanto lutou contra as desigualdades e violência da qual acabou sendo vítima", disse.

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Pelas mulheres e contra a violência

A direção do Flamengo, clube para o qual Marielle torcia, ordenou que a bandeira fosse hasteada a meio mastro na Gávea e afirmou que "é difícil conviver com tantos atos de violência, que matam diariamente, inocentes, mulheres, crianças e homens em todo o país".

A ex-presidente Dilma Rousseff afirmou que "punir os responsáveis e continuar sua luta de Marielle é honrar sua memória". "Marielle tinha plena consciência que, sem as mulheres e os negros, os direitos não são humanos".

O assassinato também causou indignação entre artistas. A cantora Elza Soares usou o Twitter para lamentar a morte de Marielle e se disse chocada e horrorizada: "Das poucas vezes que me falta a voz. Chocada. Horrorizada. Toda morte me mata um pouco. Dessa forma me mata mais. Mulher, negra, lésbica, ativista, defensora dos direitos humanos. Marielle Franco, sua voz ecoará em nós. Gritemos."

A sambista Teresa Cristina desejou conforto aos familiares da vereadora. "Que os familiares de Marielle Franco encontrem algum conforto diante de tamanha brutalidade."

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Marielle atuou em organizações da sociedade civil, como o Centro de Ações Solidárias da Maré e a Brasil Foundation. Ela coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ao lado de Freixo.

Na Câmara Municipal, Marielle presidia a Comissão de Defesa da Mulher. Ela apresentou um projeto para a criação do Dossiê da Mulher Carioca, que tinha o objetivo de fazer com que a prefeitura contabilizasse dados sobre violência de gênero no Rio.

Ela lutou pelo acesso ao aborto na cidade, nos casos previstos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e pela ampliação do número das chamadas Casas de Parto, locais destinados à realização de partos normais.

Na semana passada, Marielle participou ativamente das celebrações do Dia Internacional da Mulher em caminhadas pela Maré, Santa Cruz e no centro do Rio. Ela chegou a questionar no plenário da Câmara a representatividade feminina no legislativo municipal.

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"Se este Parlamento é formado apenas por 10%, 13% de mulheres, nós somos a maioria nas ruas. E sendo a maioria nas ruas, somos a força exigindo a dignidade e o respeito das identidades. Infelizmente, o que está colocado aí nos vitima ainda mais", afirmou Marielle no dia 8 de março.

Um dia antes de sua morte, a vereadora divulgou uma mensagem no Twitter condenando a violência policial e a ação da Polícia Militar.

O assassinato de Marielle ocorre em plena intervenção federal no Rio na área de segurança pública, em meio a uma escalada de violência e a uma profunda crise financeira no estado.

AS/abr/ots

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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